ASCO: Boas notícias para pacientes com câncer de mama

Por Gilberto Luiz da Silva Amorim

O câncer de mama é o tumor mais comum em mulheres, ficando atrás apenas do câncer de pele não melanoma. Projeções do Instituto Nacional do Câncer (INCA) dão conta que, em 2022, foram diagnosticados 73.610 novos casos, principalmente em mulheres na faixa dos 50 anos ou mais. Estudos de novas abordagens terapêuticas apresentados no Congresso da Sociedade de Oncologia Clínica Americana (ASCO, em inglês) abriram boas perspectivas para as pacientes com a enfermidade. Maior congresso de Oncologia do mundo, o ASCO terminou recentemente na cidade de Chicago, nos Estados Unidos.

O estudo NATALEE fase 3 revelou que a administração do medicamento ribociclibe associado à terapia endócrina habitual traz benefícios nos casos de câncer de mama inicial. O medicamento, cujo nome comercial é Kisqali (Novartis), foi administrado em mulheres com receptores hormonais positivos e HER negativo com alto risco de recidiva e tumores com mais de dois centímetros – sem o comprometimento de gânglios – e pacientes com pelo menos uma metástase ganglionar. O grupo representa cerca de 70% dos casos iniciais da doença. São pacientes que têm risco de recorrência mesmo após cinco anos do diagnóstico.

Nós já usamos abemaciclibe por dois anos como tratamento adjuvante complementar à terapia endócrina em pacientes operadas que apresentavam gânglios positivos. Agora temos uma nova opção efetiva e muito segura para essas pacientes e também para pacientes com linfonodos negativos que ainda correm risco elevado de recidiva.

A análise interina do estudo apresentado no ASCO com mais de cinco mil pacientes avaliou a adição de ribociclibe ao tratamento endócrino habitual durante três anos comparado com o grupo controle, que seguiu o mesmo tratamento e placebo. Ribocicline é um inibidor de ciclina – uma família de proteínas que controla a progressão de uma célula. Este tipo de medicamento já demonstrou aumento de sobrevida global na doença avançada.

Após 27,7 meses de acompanhamento mediano e administração por três anos de ribociclibe, houve uma redução de risco relativo de 25% de recaída, avaliada através da sobrevida livre de câncer Invasivo. Em números absolutos a diferença é de exatos 3,3% – algo que parece pequeno mas é clinicamente relevante considerando a análise inicial. A tendência é que esses números ainda melhorem com o tempo.

Já um estudo espanhol fase 2, intitulado PHERGain, mostrou bons resultados do tratamento de pacientes com tumor HER2 positivo em estágio inicial sem quimioterapia, usando a combinação de dois medicamentos menos agressivos: trastuzumabe e pertuzumabe. São anticorpos monoclonais, que têm como alvo as células cancerígenas HER2 positivo. Trastuzumabe se liga a essas células, inibindo seu crescimento. Já pertuzumabe, quando associado a trastuzumabe e à quimioterapia, retarda a progressão da doença e aumenta a sobrevida da paciente.

Pesquisadores do Centro Internacional de Câncer de Mama (IBCC) e da Medica Scientia Innovation Research (MEDSIR) analisaram 356 pacientes de 45 centros em sete países europeus com este tipo de tumor, que receberam a combinação de medicamentos. As sessões de quimioterapia foram reduzidas de forma gradual. A resposta ao tratamento foi avaliada com base na resposta observada por exames de tomografia de emissão de pósitrons (PET) e resposta patológica completa (pCR). O estudo demonstrou que 98,9% das pacientes que seguiram essa estratégia, permaneceram livres de câncer nos três anos seguintes desde a remoção do tumor.

O tumor HER2 positivo representa aproximadamente 20% dos casos de câncer de mama com significativo risco de recidiva. É agressivo e aparece e cresce de forma muita rápida. Responde bem à quimioterapia, um tratamento muito importante, mas com alta taxa de toxicidade para o organismo da paciente. Oncologistas de diferentes áreas estudam novos métodos para vencer o câncer com medicamentos menos tóxicos. No estudo PHERGain fase 2, 86 pacientes não foram submetidas à quimioterapia por três anos.


*Gilberto Luiz da Silva Amorim é oncologista clínico especialista em oncologia mamária da Oncologia D’Or.

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