Câncer de mama responde por 1 entre 4 tumores em mulheres
Com mais de 2 milhões de novos casos anuais, o câncer de mama é, depois dos tumores malignos de pele não-melanoma, o câncer mais comum entre as mulheres e a quinta maior causa de morte por câncer no mundo. São registrados 626 mil óbitos/ano, segundo o IARC, braço de pesquisa do câncer da Organização Mundial da Saúde (OMS). No Brasil, o cenário é semelhante. A estimativa para 2021 é de 66 mil novos casos de câncer de mama no país, representando 29% de todos os tumores no sexo feminino. É um número de casos superior à soma da incidência entre as mulheres de câncer de pulmão, colo do útero, colorretal e tireoide.
A Sociedade Brasileira de Patologia, em alusão ao Outubro Rosa – mês de conscientização mundial sobre câncer de mama – chama a atenção da população para a importância do diagnóstico precoce e assertivo de cada subtipo desta doença, que poderá ter um aumento exponencial de novos casos nos próximos anos. Uma ferramenta do IARC/OMS, que leva em conta mudanças demográficas e perfil da doença para avaliar a incidência de câncer e carga de mortalidade em todo o mundo, prevê que no ano de 2040 a incidência de novos casos/ano de câncer de mama ultrapasse a marca de 3 milhões e o número de mortes salte dos cerca de 600 mil para quase 1 milhão.
Embora o câncer de mama não seja uma exclusividade do sexo feminino – ocorre 1 caso em homens para cada 100 em mulheres – o maior risco para desenvolver câncer de mama, portanto, é ser mulher. Uma análise da American Cancer Society, mostra que as mulheres têm um risco médio de 12% de receber o diagnóstico da doença ao longo da vida.
Os diferentes tipos de câncer de mama
O câncer de mama não é único. Existem diferentes tipos da doença e são as características específicas de cada um, juntamente com o perfil de cada paciente, que determinam o tipo de tratamento mais adequado em cada caso. Conforme explica a médica patologista da Sociedade Brasileira de Patologia (SBP), Marina De Brot Andrade, o tipo mais comum de câncer de mama é o carcinoma.
O carcinoma de mama é dividido em “in situ” e invasivo. O carcinoma “in situ” tem origem dentro do ducto mamário e não ultrapassa a sua parede, não invadindo o estroma da mama e, por isso, não tem a capacidade de disseminar para outros órgãos e estruturas (metástase). A taxa de cura nestes casos supera os 90%.
Outro tipo é o carcinoma invasivo, que também se origina no ducto. Porém, esse tipo invade o estroma mamário e pode se disseminar para outros órgãos (metástases). Os dois tipos mais comuns de carcinomas invasivos são o carcinoma ductal invasivo, seguido pelo carcinoma lobular invasivo. Além desses, existem alguns outros carcinomas que são menos comuns: carcinoma tubular, carcinoma cribriforme, carcinoma metaplásico, carcinoma micropapilar, carcinoma adenóide cístico, entre outros.
Por que a questão hormonal é importante?
As mamas são glândulas que se formam na adolescência (puberdade). São altamente sensíveis ao estímulo hormonal, principalmente do estrógeno, um hormônio que, embora presente nos homens, tem uma produção que se dá principalmente pelos ovários, sendo assim predominantemente feminino. O fato de 99% dos tumores de mama acometer as mulheres, levantou a hipótese de que estes hormônios atuam no processo de desenvolvimento da doença. Entre 60% e 80% dos casos, o câncer de mama é estimulado pelos hormônios femininos.
Tanto o estrógeno quanto a progesterona, atuam no tecido mamário, ligando-se com moléculas situadas dentro das células, conhecidas como receptores. Esses receptores têm o papel de controlar a multiplicação celular, mas, com a interferência hormonal, geram a multiplicação desordenada. Além dos tumores que são receptores de estrógeno e progesterona, há também os casos HER-2 positivos e os triplo-negativos (que não negativos para estrógeno, progesterona e HER-2). Também se avalia o índice de proliferação celular (Ki67).
Dentre os tipos morfológicos de carcinomas da mama há, portanto, uma subdivisão relacionada ao tipo molecular do tumor. Os principais grupos moleculares dos carcinomas mamários são: luminal A, luminal B, superexpressor de HER2 e triplo negativo, que dependem de como os quatro marcadores citados acima se apresentam: receptor de estrógeno, receptor de progesterona, índice de proliferação celular (Ki67) e o oncogene HER2.
Esses diagnósticos só podem ser afirmados após a análise do médico patologista, que avaliará todos os aspectos microscópicos das células para determinar a qual categoria a lesão pertence. Assim, o diagnóstico anatomopatológico correto é fundamental na condução do tratamento e para o conhecimento da evolução da doença. Ele é feito através da análise de fragmentos retirados da mama por biópsia ou por cirurgia. “É no laudo anatomopatológico que o câncer de mama é classificado pelo patologista em tipo morfológico, tamanho do tumor, grau de atipia, perfil molecular, etc. Todas essas informações são essenciais para determinar a conduta terapêutica mais eficaz para cada paciente”, ressalta a médica patologista, Marina De Brot, da SBP e do Departamento de Anatomia Patológica do A.C.Camargo Cancer Center.
Medicina de precisão
O melhor entendimento dos diferentes perfis de câncer de mama propicia a medicina de precisão, que tem o potencial de oferecer tratamentos menos invasivos, com menor toxidade e, desta forma, ajudar na redução das taxas de mortalidade e melhora da qualidade de vida das pacientes. A SBP ressalta que o grande desafio do médico patologista e de todos os envolvidos no cuidado interdisciplinar está na heterogeneidade da doença.
De acordo com a entidade, saber de qual tumor se está falando, em cada caso, ajuda a se oferecer a melhor forma de tratamento. Além disso, é essencial haver acesso a estas terapias, tanto no SUS quanto na Saúde Suplementar. As principais modalidades terapêuticas preconizadas para câncer de mama, cuja indicação é feita caso a caso, são cirurgia, radioterapia, hormonioterapia, radioterapia intraoperatória e tratamento sistêmico (quimioterapia e terapias-alvo imunoterapia).