Os novos caminhos da Oncologia: avanços e desafios atuais

Por Luiz Henrique Araújo

Os casos de câncer no mundo tendem a aumentar sensivelmente nos próximos anos, demandando cada vez mais recursos para tratamentos. Apenas no Brasil são esperados mais de 700 mil novos diagnósticos até 2025, segundo o INCA¹. Se, por um lado, a adoção de hábitos saudáveis e o uso da medicina preditiva para identificar casos precoces são as principais estratégias para diminuir a incidência e evitar condições graves, por outro a pesquisa de novos tratamentos e exames é fundamental para podermos alcançar melhores desfechos para os pacientes.

Na edição mais recente do principal congresso de oncologia do mundo, realizado pela Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO, em inglês), ficou patente a importância de algumas terapias e recursos, como a análise de biomarcadores para selecionar o tratamento mais adequado para cada paciente. A medicina de precisão também tem se mostrado essencial para alcançar melhores desfechos clínicos. Além disso, as imunoterapias – estratégia de estimulação por meio de fármacos do sistema imunológico contra os tumores – vêm desempenhando um papel significativo no tratamento de diferentes tipos de câncer, oferecendo opções terapêuticas inovadoras.

Testemunhamos, por exemplo, os avanços na área de cabeça e pescoço, que representam 3% entre todos os tipos de tumores, na qual a imunoterapia tem ganhado destaque. Esta terapêutica já desempenha um papel importante em muitos cenários de tratamento, desde a primeira até a segunda linha de tratamento em doença metastática, quando as células cancerosas se espalham pelo organismo.

No caso do câncer de nasofaringe, a imunoterapia ainda não está aprovada como tratamento padrão. Entretanto, a apresentação do estudo JUPITER-02 mostrou benefícios significativos com o uso do anticorpo monoclonal toripalimabe, uma imunoterapia, em combinação com quimioterapia à base de cisplatina e gencitabina, resultando em ganho de sobrevida global. Essa medicação está sendo submetida à aprovação do FDA (Food and Drug Administration), órgão regulador de medicamentos dos Estados Unidos.

Outro estudo, chamado CONTINUUM, comparou outra imunoterapia, o sintilimabe, em pacientes com tumores de nasofaringe localmente avançados. Os resultados mostraram benefícios estatisticamente significativos em termos de sobrevida livre de eventos.

Além disso, foram apresentadas pesquisas que exploram a combinação de quimioterapia e imunoterapia em pacientes idosos (FRAIL-IMMUNE) e a redução da intensidade da quimio e radioterapia após a indução com quimioterapia e imunoterapia (Estudo DEPEND). Também foi proposta uma estratégia ousada no trabalho ICoLP, que busca a preservação do câncer de laringe apenas com quimioterapia e imunoterapia, mediante um acompanhamento rigoroso e sistemático.

A medicina de precisão também tem se mostrado essencial para alcançar melhores resultados terapêuticos. No câncer de ovário avançado, estudos revisados de oncoginecologia destacaram a utilização de inibidores de PARP, que funcionam como bloqueadores genéticos específicos, como terapia de manutenção após a quimioterapia de primeira linha. Esses estudos demonstraram que os pacientes com alterações nos genes BRCA1/2 ou com deficiência em mecanismos específicos de reparo de DNA, apresentaram maior benefício com o uso desses inibidores. Importante notar que o teste HRD One, que detecta essas alterações genéticas e auxilia na decisão terapêutica, está disponível no Brasil. No mundo, este tipo de câncer é o sétimo mais comum e a nona causa de morte por câncer em mulheres.

No estudo KEYNOTE-826, foi apresentada a análise final que demonstrou um aumento na sobrevida em pacientes com câncer de colo uterino avançado/metastático e expressão do biomarcador PD-L1 quando adicionada a imunoterapia com pembrolizumabe à quimioterapia padrão. Esse estudo ressaltou a importância da imunoterapia como uma estratégia eficaz nesse tipo de câncer. O câncer de colo uterino responde pelo terceiro tipo de câncer mais incidente entre mulheres.

A incorporação e adequação dessas novidades ao contexto nacional são fundamentais para que os pacientes brasileiros possam se beneficiar dos avanços no tratamento do câncer. Isso envolve a aprovação e disponibilidade dos medicamentos, o desenvolvimento de diretrizes e protocolos específicos, além da conscientização sobre fatores de risco e a importância de medidas preventivas, como a vacinação contra o HPV, por exemplo, fundamental para prevenção do câncer de colo do útero.

O trabalho desenvolvido pelos pesquisadores do mundo todo é extremamente valioso para a prática clínica. Afinal, os resultados dessas pesquisas servem como orientações para os oncologistas reavaliarem protocolos ou sedimentarem suas aplicações. Além disso, é essencial que os profissionais de saúde estejam atualizados e engajados em trazer esses avanços para a prática clínica, proporcionando aos pacientes acesso aos tratamentos mais eficazes e adequados a cada caso.

Referências:
¹Santos M de O, Lima FC da S de, Martins LFL, Oliveira JFP, Almeida LM de,Cancela M de C. Estimativa de Incidência de Câncer no Brasil, 2023-2025. Rev. Bras. Cancerol. [Internet]. 6º de fevereiro de 2023 [citado 4º de julho de 2023];69(1):e-213700. Disponível em: https://rbc.inca.gov.br/index.php/revista/article/view/3700


*Luiz Henrique de Lima Araújo é Diretor Regional da Dasa Oncologia.

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