Calculadora de risco prevê chance de morte em cirurgia cardíaca
A febre reumática é uma doença inflamatória que pode ter efeitos particularmente danosos nas válvulas do coração. Além de remédios, o tratamento pode incluir cirurgia, necessária em cerca de um terço dos afetados. Geralmente, os candidatos à operação são pacientes graves, às vezes com uma ou mais operações cardíacas já realizadas. Asma e diabete também podem aparecer como complicadores. Pesquisadores ligados ao Instituto do Coração (Incor) do Hospital das Clínicas (HC) da USP, à Universidade de Coimbra (Portugal) e ao Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (Impa), no Rio, elaboraram uma calculadora de risco para saber quem deve ou não fazer a cirurgia.
De acordo com Omar Asdrúbal Mejía, coordenador da Unidade Cirúrgica de Qualidade e Segurança do Incor da Faculdade de Medicina (FM) da USP, é comum que os pacientes tenham adquirido a cardiopatia reumática na adolescência por infecções de garganta. As bactérias se depositam nas válvulas cardíacas, o que causa lesões que podem levar à necessidade de correção cirúrgica. Como outras cirurgias, o procedimento também possui risco de complicações e mortalidade. A ideia com a calculadora é conseguir estimar esse risco, permitindo planejar o que pode acontecer, o que ajudaria a indicar outras alternativas de tratamento e a discutir melhor com o paciente e sua família tais riscos.
Ele explica que o grupo no Incor já vem trabalhando há aproximadamente dez anos em cima dos dados. Com um banco de dados, você consegue ver quais as características dos pacientes que tiveram complicações ou vieram a falecer. Portanto, é possível definir se foram itens como idade, nível do problema renal ou pulmonar, entre outros. Essas características permitem a criação de uma calculadora para fazer uma somatória dessas variáveis e conseguir predizer o que aconteceria com o paciente. A precisão da calculadora é de 98%.
O médico conta que as calculadoras de risco já existem há 20 anos, mas o diferencial da que foi criada pelo grupo é que ela é pensada justamente para o paciente reumático, que é uma particularidade do Brasil, onde a causa mais frequente dos problemas das válvulas cardíacas é a cardiopatia reumática. A ferramenta já está sendo utilizada e, segundo ele, deverá ser um instrumento comum em outras regiões do País e em outros países que possuem alta chance de doença reumática.
Ouça a entrevista de Omar Asdrúbal Mejía concedida ao Jornal da USP no Ar.