Burnout como doença do trabalho ressignifica papel das empresas
Por Alana Azevedo
No primeiro dia de 2022, a Organização Mundial da Saúde (OMS) passou a considerar o Burnout (síndrome do esgotamento profissional) como doença ocupacional, e fez a inclusão da síndrome no CID-11. A mudança passa a relacionar a doença ao trabalho, não mais ao trabalhador, o que gera importantes modificações no papel das empresas na prevenção e combate, trazendo, inclusive, novas obrigações legais por parte dos empregadores e nos direitos dos empregados. Paralelamente a isso, vivemos uma oportunidade de valorizar e acolher no ambiente corporativo quem nos ajuda a prosperar e a crescer diariamente.
A mudança do CID-10 para o CID-11 traz um novo horizonte a uma antiga discussão sobre como o burnout deve ser encarado, rumando para uma clara diretriz pautada pelo papel das companhias em garantir a saúde mental dos funcionários, sendo um importante tema de atenção e zelo por parte das empresas. Em números, a situação no Brasil chama a atenção: segundo a Stress Management Association, 32% dos trabalhadores brasileiros são atingidos pela síndrome do esgotamento profissional.
O Índice de Bem-estar Corporativo do Zenklub, de 2021, acende um importante alerta sobre o bem-estar no mercado brasileiro. Numa escala de 0 a 100, sendo acima de 78 o nível ideal, os mais de 1600 funcionários de 335 empresas brasileiras deixaram a média abaixo do ideal (49,25). As condições de trabalho muitas vezes levam o colaborador a um looping de constante autossabotagem. Por melhores que sejam seus resultados, o indivíduo nessa situação sempre os encara sob uma perspectiva negativa, questionando suas habilidades e conhecimentos. A mudança na classificação do esgotamento profissional surge para revermos como lidamos com as doenças da mente relacionadas ao trabalho.
Na era industrial, onde a força manual de trabalho era essencial, o trabalhador ficava exposto a danos físicos constantemente. Hoje, na era da tecnologia, onde o trabalho intelectual é mais valorizado, o cuidado não pode estar focado apenas nas questões físicas, é preciso total atenção às questões mentais. Por isso, precisamos encarar o Burnout e todas as outras doenças relativas ao trabalho, como a Lesão por esforço repetitivo (LER), por exemplo, como problemas que devem ser solucionados com muita prevenção.
As empresas precisam reforçar e repensar suas políticas internas e, se ainda não o fizeram, criar estratégias para proporcionarem um ambiente mais acolhedor, em que o colaborador possa se sentir o mais distante possível do esgotamento mental, físico e social. É importante que todos os indivíduos de uma corporação sejam ouvidos. As médias, pequenas e grandes empresas precisam, em primeiro lugar, identificar o que seus funcionários sentem emocionalmente em relação às suas funções. Depois, prestar assistência aos que já estão esgotados e aos que estão muito próximos disso. Num terceiro momento, entender quais práticas estão gerando tal esgotamento. E, por último, criar políticas internas que reduzam cobranças, metas descabidas, excesso de jornada, abusos de autoridade e ambientes estressantes. O foco sempre foi a prevenção e com o Burnout não pode ser diferente, independentemente de sua classificação enquanto doença ocupacional. Já há várias empresas que desenvolvem ótimos trabalhos com foco na prevenção, com clima mais saudável e com ótimos resultados. Esse será o caminho.
*Alana Azevedo é Chief of People & Culture da Flash Benefícios.