BP é a primeira instituição no mundo a fazer procedimentos cardiológicos simultâneos
A vida da Dona Irene de Moura Albuquerque, de 65 anos, ganhou um novo capítulo em 2022. Após passar um longo período de sua vida apresentando um quadro grave de cansaço ao realizar pequenos esforços cotidianos, mais um histórico de quatro cirurgias cardíacas, sua angústia chegou ao fim. Isso porque ela foi a primeira paciente no mundo a receber os tratamentos, de forma simultânea, para a insuficiência tricúspide, conhecido como TricValve, e insuficiência aórtica com o implante transcateter da valva aórtica (TAVI). A cirurgia foi realizada na BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, e contou com o envolvimento de um time de sete renomados especialistas em alta complexidade, entre cardiologistas intervencionistas, cirurgiões cardiovasculares, cirurgião cardíaco e anestesista. A paciente teve alta médica e o procedimento foi um sucesso.
A insuficiência tricúspide é um problema cardíaco que acomete as válvulas do coração de indivíduos com mais de 70 anos, podendo atingir até 2% dos homens e quase 6% das mulheres. Estudos apontam que só nos Estados Unidos cerca de 1,6 milhão de americanos sofrem com o problema. Os principais sintomas são fadiga, náusea, vômito, ascite (barriga d’água), falta de ar e edema nos membros inferiores. “Por muitos anos, achávamos se tratar de uma doença sem importância clínica e atribuíamos sintomas como cansaço, inchaço no corpo e alterações de fígado a outras causas, negligenciando este achado tão frequente”, afirma o médico Mohamad Said Ghandour, cardiologista intervencionista da BP.
O sistema do TricValve, que é liberado para ser usado caso a caso pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), é composto por duas valvas feitas com um stent e um pericárdio bovino – que é a membrana que recobre o coração do boi. O sistema é implantado nas veias cavas, fazendo uma espécie de barreira para o retorno de sangue, direcionando-o para os locais devidos.
Não há dados estatísticos no Brasil que comprovem com precisão a prevalência da doença. No entanto, na Europa, onde o dispositivo já é largamente usado, os resultados alcançados são animadores, com baixa taxa de complicações, baixa incidência do tratamento cirúrgico convencional (peito aberto) e melhora significativa na qualidade de vida.
“Com a evolução do tratamento transcateter, que é realizado por meio de punções na virilha para a valva aórtica e valva mitral, junto com o maior conhecimento da repercussão dos problemas da valva tricúspide para qualidade de vida e mortalidade dos pacientes, muitos pesquisadores voltaram-se para desenvolver novas tecnologias, como a TricValve”, analisa Ghandour.
Além do primeiro implante simultâneo destas valvas, o time de especialistas da BP também foi o pioneiro no mundo no uso de ecocardiograma intracardíaco (ICE) para avaliação de pré e pós-implante da TricValve. “Além de negligenciarmos esse achado tão frequente, tínhamos como barreira uma grande dificuldade diagnóstica e de classificação do grau de acometimento da valva do paciente”, explica.
Os avanços no tratamento das doenças do coração, especialmente as relacionadas com a estrutura do órgão vêm apresentando avanços significativos em relação à invasividade do procedimento. “Na cirurgia realizada na Dona Irene, os dispositivos foram introduzidos através de vasos periféricos, evitando, assim, a abertura do peito da paciente e garantindo a sua rápida e segura recuperação”, finaliza o Gustavo Judas, cirurgião cardiovascular da BP que também esteve envolvido no procedimento.