O impacto positivo dos biossimilares nas terapias oncológicas

Por Maria Cristina Figueroa Magalhães

O desenvolvimento de medicamentos biossimilares tem sido uma solução inovadora na área da saúde, uma vez que vêm oferecendo novas opções de tratamento para os pacientes. No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou o primeiro biossimilar em junho de 2015. Atualmente, essa terapia pode ser utilizada para diversas doenças, inclusive para o tratamento de diferentes tipos de câncer, e traz perspectivas positivas para esses pacientes, ainda mais quando falamos do Mês de Combate ao Câncer, celebrado em fevereiro.

A data representa grande importância, considerando que o câncer é a segunda causa de morte no mundo, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). No Brasil, segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), as prospecções não são muitos positivas e a estimativa para 2022 é de 625 mil novos casos. Além disso, um estudo da The Economist Intelligence Unit (EIU), publicado em 2020, prevê que nos próximos dez anos, o País registre um crescimento de 42% nos casos de câncer.

Exatamente por estes motivos, os biossimilares se fazem tão importantes neste momento. São produtos biológicos com custo menor do que os fármacos “tradicionais” (ditos referência), e com segurança e eficácia cientificamente comprovadas. Para seu desenvolvimento e liberação, são considerados dois pontos fundamentais: a qualidade do medicamento, que tem de ser rigorosamente atestada por meio de extensivos estudos de comparação avaliando aspectos clínicos e não clínicos, e a questão econômica.

Desta forma, esses medicamentos ampliam as opções para os clínicos, financiadores e sistemas de saúde de modo geral, mas mantendo a qualidade do tratamento. Sendo assim, os biossimilares contribuem para ampliar o acesso aos tratamentos oncológicos no Brasil, aportando novas e avançadas tecnologias para as terapias.

Um exemplo é o tratamento de câncer de mama no Brasil, que vem utilizando biossimilares em combinação com a quimioterapia. O câncer de mama HER2 positivo é responsável por até 20% dos casos deste tipo de neoplasia no País, segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA). Este subtipo de câncer de mama, tem por característica crescer e se disseminar muito rapidamente. Portanto, as terapias com fármacos contra a proteína HER2 (terapias-alvo) para este tipo de tumor revolucionaram o combate à doença, tanto no estágio inicial quanto nos metastáticos.

O medicamento biológico trastuzumabe tem sido a base deste tratamento nas chamadas terapias conjugadas. No entanto, associá-lo a um segundo anticorpo monoclonal – ou seja, remédios precisos, de origem biológica e criados para combater de câncer a doenças autoimunes – numa estratégia conhecida como duplo bloqueio, melhora significativamente os resultados, conforme comprovam os estudos científicos. Como é o caso do Herzuma, droga aprovada pela Anvisa em 2019, e que pode ser indicada em diferentes fases da doença, inclusive após cirurgia, quimioterapia e radioterapia, ou em conjunto com esses tratamentos.

Da mesma forma, o anticorpo monoclonal Bevacizumabe chegou ao mercado brasileiro em 2020 para o tratamento tanto do câncer de mama, quanto de diversas outras neoplasias, como pulmão, colorretal, células renais, ovários e colo de útero, sempre em terapias conjugadas, que inibem a multiplicação das células tumorais e “poupam” os tecidos saudáveis – fatores essenciais para o sucesso do tratamento e a qualidade de vida dos pacientes.

Assim, oferecer tratamentos com custos menores, sem comprometer a segurança e a eficácia, é uma forma de aprimorar o uso de recursos financeiros na saúde, ampliando a disponibilidade dos medicamentos à população. Dessa forma, todos saem ganhando. As perspectivas são otimistas não somente na oncologia, mas em diferentes áreas da saúde, e considero os biossimilares o futuro-presente da indústria farmacêutica, que só tende a crescer.

Além disso, vale ressaltar que os medicamentos acessíveis são essenciais, mas mais importante do que isso, é o olhar sempre atento à prevenção.


*Maria Cristina Figueroa Magalhães é oncologista, professora da disciplina de Oncologia Clínica da PUC-PR e diretora científica da Associação Amigas da Mama (AAMA).

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