Bill Gates: os avanços que precisamos para vencer a Covid-19

Por Bill Gates
Co-Presidente da Fundação Bill & Melinda Gates

É totalmente compreensível que o debate tenha se concentrado em uma única questão: “Quando poderemos voltar ao normal?”. A paralisação tem causado um sofrimento imensurável em termos de perda de empregos, isolamento das pessoas e aumento de desigualdades. As pessoas estão prontas para seguir em frente. Infelizmente, embora tenhamos tal anseio, não dispomos dos meios — ainda não. Antes que os Estados Unidos e outros países possam voltar aos negócios e às vidas habituais, precisaremos de algumas ferramentas inovadoras que nos ajudarão a detectar, tratar e prevenir a COVID-19.

Isso começa pelas testagens. Não podemos der- rotar um inimigo que não sabemos onde está. Para reabrir a economia, precisamos testar um número suficiente de pessoas a fim de detectar com rapidez focos emergentes e intervir o quanto antes. Não queremos esperar até que os hospitais comecem a lotar e mais pessoas venham a morrer.

A inovação pode nos ajudar a melhorar as estatísticas. Os testes de coronavírus atuais requerem que os profissionais de saúde usem cotonetes nasais, o que significa que eles precisam trocar seu equipamento de proteção antes de cada teste. No entanto, a nossa fundação apoiou pesquisas que demonstram que os resultados são igualmente precisos quando os próprios pacientes usam os cotonetes nasais. Essa abordagem de autoexame é mais rápida e segura, pois as entidades reguladoras teriam de aprovar a testagem em domicílio ou em outros locais, em vez de fazer com que as pessoas arrisquem contatos adicionais.

Outro teste de diagnóstico em desenvolvimento funcionaria de forma muito similar a um teste caseiro de gravidez. A pessoa esfregará o cotonete em seu nariz, mas, em vez de enviar o cotonete para um centro de processamento, ela o colocará em um líquido e, depois, derramará esse líquido em uma tira de papel, cuja cor mudará se o vírus estiver presente. Esse teste estará disponível em alguns meses.

Precisamos de outro avanço na testagem, mas social, não técnico: padrões consistentes sobre quem pode ser testado. Se o país não testa as pessoas certas — trabalhadores essenciais, pessoas sintomáticas e aqueles que tiveram contato com pessoas cujos testes deram positivo —, então, estamos desperdiçando um recurso precioso e possivelmente perdendo grandes amostras do vírus. Pessoas assintomáticas que não estão em um daqueles três grupos não deveriam ser testadas até que haja testes suficientes para todos.

A segunda área na qual precisamos de inovação é no rastreamento dos contatos. Uma vez que alguém seja testado positivamente, os agentes de saúde pública precisam descobrir quem mais esse indivíduo pode ter infectado. Por agora, os Estados Unidos podem seguir o exemplo da Alemanha: entrevistar todos os que foram testados positivamente e usar um banco de dados para se certificar de que haja um acompanhamento de todos aqueles com quem os infectados tiveram contato. Essa abordagem está longe da perfeição, pois ela depende de a pessoa infectada informar seus contatos de forma acurada, e requer uma equipe enorme para efetuar o acompanhamento pessoalmente. Mas seria um avanço em relação à forma esporádica como o rastreamento dos contatos está sendo feito neste momento nos Estados Unidos.

Uma solução ainda melhor seria a adoção ampla e voluntária de ferramentas digitais. Por exemplo: há aplicativos que lhe ajudarão a lembrar por onde você tem andado; se testar positivamente, você pode examinar o histórico ou optar por compartilhá-lo com quem quer que venha entrevistá-lo sobre seus contatos. E há quem proponha permitir aos telefones que detectem outros aparelhos que estão próximos usando Bluetooth e emitindo sons que humanos não podem ouvir. Se o teste de alguém resultar positivo, seu telefone enviará uma mensagem para outros aparelhos, cujos donos poderiam ser testados. Se a maioria das pessoas optasse por instalar esse tipo de aplicativo, ele provavelmente ajudaria algumas pessoas.

Naturalmente, qualquer indivíduo cujo teste resulte positivo quer saber de imediato quais são as opções de tratamento. No entanto, neste momento, não existe tratamento para COVID-19. A hidroxicloroquina, que age alterando a forma pela qual o corpo humano reage a um vírus, tem recebido bastante atenção. A nossa fundação está financiando um teste clínico que indicará se ela funciona ou não com a COVID-19, e parece que os benefícios serão, na melhor das hipóteses, modestos.

Mas várias possibilidades mais promissoras estão no horizonte. Uma delas envolve extrair sangue de pacientes que se recuperaram da COVID-19, assegurando-se de que ele esteja livre do coronavírus e de outras infecções, e doar o plasma (e os anticorpos que ele contém) às pessoas doentes. Várias grandes empresas estão trabalhando juntas para descobrir se essa opção será bem-sucedida.

Outro tipo de droga em desenvolvimento envolve identificar os anticorpos que são mais eficazes contra o novo coronavírus, e então sintetizá-los em laboratório. Caso isso funcione, ainda não está claro quantas doses poderão ser produzidas; depende da quantidade de anticorpos necessária para cada dose. Em 2021, os fabricantes poderão ser capazes de fazer tão pouco quanto cem mil unidades ou vários milhões.

Se, daqui a um ano, as pessoas estarão indo a grandes eventos públicos — tais como jogos ou shows em estádios —, será porque os pesquisadores terão descoberto um tratamento extremamente eficaz que fará todos se sentirem seguros para voltar a sair de casa. Infelizmente, baseado nas evidências que tenho visto, eles provavelmente terão descoberto um bom tratamento, mas não aquele que praticamente garanta que você se recuperará.

Essa é a razão pela qual precisamos investir em uma quarta área de inovação: criar uma vacina. Cada mês adicional que se leva para produzir uma vacina é um mês no qual a economia não pode retornar por completo ao normal.

A nova abordagem com a qual estou mais animado é conhecida como vacina RNA. (A primeira vacina contra a COVID-19 a ser testada em humanos é uma vacina RNA.) Diferentemente de uma vacina contra a gripe, que contém fragmentos do vírus influenza para que o seu sistema imunológico possa aprender a atacá-lo, uma vacina RNA dá ao seu corpo o código genético necessário para produzir fragmentos virais por conta própria. Quando o sistema imunológico vê esses fragmentos, ele aprende como atacá-los. Essencialmente, uma vacina RNA transforma o seu corpo em uma unidade particular de produção de vacina.

Há pelo menos outros cinco esforços que pare- cem promissores. Mas, como ninguém sabe qual abordagem funcionará, algumas delas precisam de financiamento, de tal forma que possam avançar a toda velocidade e de maneira simultânea.

Mesmo antes que haja uma vacina segura e eficiente, os governos precisam encontrar uma maneira de distribui-la. Os países que financiam, os países nos quais os testes são feitos e os países mais atingidos possuem, todos, boas razões para ter prioridade. Preferencialmente, deveria haver um acordo global sobre quem deveria receber a vacina primeiro, mas, dada a quantidade de interesses conflitantes, é improvável que isso aconteça. Quem quer que resolva esse problema de forma equânime terá feito um grande avanço.

A Segunda Guerra Mundial foi o momento decisivo para a geração dos meus pais. De forma similar, a pandemia do coronavírus — a primeira em um século — definirá a nossa era. Mas há uma grande diferença entre uma guerra mundial e uma pandemia: a humanidade inteira pode trabalhar em conjunto para aprender sobre a doença e desenvolver a capacidade de lutar contra ela. Com as ferramentas certas em mãos, e sua implementação de forma inteligente, eventualmente seremos capazes de declarar o fim dessa pandemia — e concentrar a nossa atenção em como prevenir e conter a próxima.


*O artigo “The First Modern Pandemic” foi originalmente publicado no blog de Bill Gates e reproduzido no Guia de Plataformas e Soluções para o Combate à Covid-19, edição especial da Medicina S/A. Faça o download gratuito da publicação clicando aqui.

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