Atraso na radioterapia pode elevar risco de morte em até 29%, alerta SBRT

A radioterapia, recurso terapêutico essencial para cerca de 60% dos pacientes oncológicos, continua enfrentando gargalos preocupantes no Brasil. Um dos estudos mais robustos já publicados sobre o tema, que é a revisão sistemática e meta-análise Mortality due to cancer treatment delay mostra que a cada quatro semanas de atraso na radioterapia curativa ocorre um aumento significativo do risco de morte. A análise reuniu 1.272.681 pacientes de 34 estudos de alta validade metodológica e, mesmo publicada há cinco anos, permanece uma referência para o planejamento de políticas públicas.

O trabalho revelou que, no caso da radioterapia radical para câncer de cabeça e pescoço, atrasos de quatro semanas aumentam o risco de morte em 9%. Para as pacientes submetidas à radioterapia adjuvante após cirurgia de câncer de colo do útero, a probabilidade de óbito cresce 23% por cada mês de espera. Além disso, o risco se acumula: oito semanas de atraso na radioterapia de cabeça e pescoço representam 19% a mais de mortalidade; doze semanas, cerca de 29%.

“É uma análise sem precedentes por traduzir o impacto dos atrasos em números concretos, ajustados para idade, estágio da doença e comorbidades”, explica o radio-oncologista Gustavo Nader Marta, presidente da Sociedade Brasileira de Radioterapia (SBRT). Ainda de acordo com o especialista, as conclusões, ainda que baseadas em dados pré-pandemia, seguem válidas, já que os mecanismos biológicos envolvidos no atraso não mudaram.

Brasil em descompasso com a demanda

O alerta internacional ressoa de forma preocupante no Brasil. Segundo a Sociedade Brasileira de Radioterapia (SBRT), a necessidade da radioterapia no Brasil aumentará nesta década em 32%, mas a expansão da infraestrutura não acompanhou esse ritmo: desde o início do Plano de Expansão da Radioterapia no SUS (PER-SUS), o número de aceleradores lineares aumentou apenas 17%. Isto é ainda mais grave pois antes mesmo do PER-SUS a escassez de oferta já era grande.

“O tempo é um fator crítico na oncologia. Garantir que o tratamento esteja disponível para todos não é apenas uma questão de equidade, é uma questão de sobrevida”, afirma Gustavo Nader Marta. O especialista alerta que, além da defasagem na oferta de equipamentos, há um entrave econômico central: o valor atual do reembolso do SUS cobre menos da metade do custo operacional dos procedimentos, comprometendo a sustentabilidade do serviço. “A prioridade dos investimentos para a radioterapia está na troca de equipamentos obsoletos, sem previsão de aumento significativo de reembolso ou ampliação efetiva da capacidade de atendimento”, lamenta.

Impacto humano e desigualdade no acesso

Um levantamento do projeto RT2030, da SBRT, já havia mostrado que, em 2016, cerca de 5 mil mortes foram atribuídas à falta de acesso oportuno à radioterapia no Brasil. A desigualdade geográfica também é um obstáculo: a distância média até um centro de radioterapia no país é de 167 km, obrigando muitos pacientes a percorrerem longas jornadas para iniciar o tratamento.

Apesar de o PER-SUS ter entregado 51% das soluções previstas em dez anos, especialistas avaliam que o programa não resolveu os principais entraves: a insuficiência de oferta, a defasagem de recursos e a falta de sustentabilidade econômica. “Apesar das boas intenções, a expansão não acompanhou o aumento da demanda e, sem revisão do reembolso, o sistema permanece em risco de colapso”, reforça Gustavo Marta, que também integra o Latin America Cooperative Oncology Group (LACOG).

Um chamado à ação

Diante do peso das evidências científicas e da realidade nacional, a mensagem é clara: cada semana perdida compromete vidas. A SBRT defende como urgência a ampliação da capacidade instalada, modernização dos equipamentos e treinamento de equipes multiprofissionais, além de políticas de financiamento que garantam a sustentabilidade e, como consequência, radioterapia para todos os paciente que recebem a indicação. Os dados do estudo internacional deixam pouco espaço para dúvidas: reduzir filas e evitar atrasos na radioterapia não é apenas uma medida de eficiência administrativa, mas uma política de saúde que literalmente salva vidas.

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