Como a telemedicina pode fazer a diferença em tempos de coronavírus
Por Rafael Moraes
A telemedicina já vem sendo discutida há algum tempo e agora, juntamente com os médicos que estão na linha de frente do atendimento dos pacientes infectados pela COVID-19, tornou-se uma protagonista. Há muitas discussões sobre o tema e uma delas diz respeito às dúvidas de como amarrar as demais etapas do tratamento em tempos de isolamento social? Mas, afinal, como o paciente vai acessar a receita médica? Como ele vai comprar seu medicamento e, indo além, como ele pode ser orientado à distância? É dentro deste cenário que o ecossistema digital da saúde ganha importância e começa a fazer sentido.
O coronavírus mexeu consideravelmente com a rotina do mundo e todos estão tendo que se adaptar, de uma forma, ou de outra. O sistema de saúde está praticamente dedicado a lidar com a pandemia. Por outro lado, isso não significa que as pessoas não tenham deixado de adoecer ou então os pacientes, que vinham sendo acompanhados, devam ter seus tratamentos interrompidos de uma hora para outra. Todos estão lutando para evitar um colapso e a tecnologia é, sem dúvida, uma grande aliada em tempos de isolamento social.
Considerando o cenário de emergência em Saúde Pública, o Ministério da Saúde reconheceu e regulamentou em caráter emergencial o uso da teleconsulta, incluindo a prescrição médica digital, por parte do médico, de tratamento ou outros procedimentos sem exame direto do paciente em casos de urgência previstos no Código de Ética Médica. A Portaria de nº 467 de 20 de março, também autoriza a emissão de receitas e atestados médicos à distância, claro que mediante algumas exigências, como assinatura eletrônica, identificação e observando os requisitos previstos em atos da Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Segundo pesquisa recente, realizada pela Associação Paulista de Medicina, intitulada “Conectividade e Saúde Digital na vida do médico brasileiro” , cerca de 65% dos médicos são favoráveis à regulamentação da telemedicina. A pesquisa revela também que 63,06% deles fariam uso dela como uma ferramenta complementar ao atendimento da clínica/hospital, desde que haja uma regulamentação oficial do CFM e com o apoio de recursos tecnológicos necessários para segurança e ética da Medicina. Embora seja um momento sensível, diríamos que essa é uma transformação quase que inevitável. Para 89,81% dos pesquisados, o sistema público de saúde brasileiro pode ser beneficiado com novas ferramentas tecnológicas digitais capazes de diminuir as filas de espera por um atendimento especializado, o que vem ao encontro do atual cenário.
Enfim, vivemos em uma nova era, repleta de recursos tecnológicos e digitais, e não há mais como retroceder. Nessa fase de isolamento social pelo coronavírus, um paciente pode passar por uma consulta à distância, receber sua receita médica por SMS, tendo ela em mãos (ou literalmente no bolso) em qualquer lugar que ele estiver. Isso já é bastante possível, é um fato atual, real e palpável. Além disso, ele pode obter orientações que ajudarão a engajá-lo em seu tratamento (hoje uma das principais preocupações da saúde é trazer o paciente para o centro do cuidado). Se ele tem mais facilidade, tem maior aderência à medicação e isso traz um melhor desfecho clínico.
É aí que o ecossistema digital de saúde e a prescrição digital de medicamentos tornam-se necessárias. Elas são benéficas para todos os envolvidos, inclusive para os pacientes, pois conectam os elos e transferem para o mundo digital todas as etapas de um atendimento médico, trazendo mais segurança, inteligência, acesso a outras informações e até indicações de onde encontrar os melhores preços dos medicamentos prescritos, sempre tendo como prioridade a manutenção da qualidade do atendimento. Existem recursos gratuitos tanto para médicos quanto para pacientes (inclusive disponível em dispositivos móveis), para ajudar a viabilizar esse cenário, a priori, futurista – mas que já é realidade nos EUA, Japão e diversos países da Europa. Vale um parêntese, além de ser conveniente, a prescrição digital é muito segura para o paciente, já que 39% dos erros médicos ocorrem no momento da prescrição. E os motivos para isso são vários, incluindo desde interações medicamentosas, alergias, duplicidade terapêutica, esquecimentos e chegando até uma questão importante, que tira a receita médica da posição de coadjuvante: os conteúdos muitas vezes ilegíveis – por conta da famosa “letra de médico” – ou então digitados incorretamente.
Esse uso emergencial é um passo importante para a telemedicina e para a consolidação de um ecossistema digital de saúde. Precisamos modernizar cada vez mais os processos e a segurança para médicos, pacientes e farmácias. Isso transforma o tradicional cenário de receitas médicas manuscritas em receitas 100% digitais e inteligentes. O momento pede uma profunda reflexão. A pandemia do coronavírus está nos trazendo lições importantes de como podemos tornar o atendimento em saúde cada vez mais ágil e eficaz.