Mudança no modelo de gestão de saúde exige atuação articulada
Por Simone Fernandes
O Brasil vive um momento de transição no modelo de gestão na saúde. Aos poucos, evoluímos de uma perspectiva essencialmente curativa, para um modelo que privilegia uma abordagem global do paciente, integrando medicina preventiva, promoção da qualidade de vida e bem-estar, sem se concentrar somente no atendimento de doenças crônicas ou agudas.
Esse modelo exige redes mais articuladas dentro da ótica do ecossistema de saúde, abrangendo todos os elos da cadeia do setor. Em um contexto em que o foco não é apenas a doença e os pacientes estão cada vez mais bem informados e dispostos a desempenhar um papel de protagonismo no próprio cuidado, a integração entre os diversos players do setor é essencial para a construção de produtos, serviços e medicamentos capazes de ampliar a entrega de valor.
Cabe lembrar que valor e preços baixos não são necessariamente sinônimos. No caso da indústria farmacêutica, por exemplo, não basta focar em medicamentos mais baratos. Este setor, que em nível global deve movimentar US﹩ 1,3 trilhão até 2020, precisa compreender e participar da gestão da jornada do paciente em cada cenário específico, ampliando a oferta de serviços que contribua com o melhor desfecho clínico.
A partir de uma decisão que, no primeiro momento, está em poder do médico, a indústria desempenha um papel mais amplo que vai além da pesquisa e comercialização de medicamentos, podendo contribuir decisivamente com o manejo da doença e a manutenção da saúde. Isso inclui a construção de rede de apoio, com centrais especializadas em diversas condições clínicas, que conheçam as dores e necessidades dos pacientes e possam oferecer o suporte necessário para acompanhar doenças e melhorar a qualidade de vida.
Evidentemente, não apenas à indústria cabe esse papel. Todas as fontes pagadoras podem e devem fazer parte do processo, compreendendo os componentes essenciais para o sucesso de uma jornada de tratamento – diagnóstico ágil e preciso, acesso à terapêutica, engajamento e gestão do paciente – e o papel que lhes cabe em cada uma delas. Se houver falhas em uma etapa, o resultado final será comprometido. Não há como ter sucesso no tratamento de uma enfermidade crônica, por exemplo, se o paciente não estiver engajado, seguindo as prescrições e recomendações médicas e, acima de tudo, compreendendo por que são necessárias.
Viabilizar essa mudança constitui um desafio permanente para o setor de saúde brasileiro, que, apesar dos avanços, permanece marcado pela fragmentação e desarticulação. Nesse contexto, ganham espaço os parceiros capazes de reunir os diversos players e, lado a lado, entender a jornada e construir os melhores serviços para cada fase e situação clínica. A construção do suporte do paciente se diferencia por inúmeros fatores, como tipo de doença, produtos utilizados, perfil socioeconômico etc., e necessitamos integrar todas essas variáveis.
Os diferentes elos da cadeia de valor da saúde precisarão caminhar lado a lado, entendendo e respeitando o papel de cada um e desenvolvendo novos serviços à luz da legislação vigente. Fazer parte desse processo, que caminha a passos lentos em nosso país, é desafiador, mas igualmente gratificante. Seguimos contribuindo com a construção desse novo modelo.