Impacto da pandemia no segmento de cuidados com a saúde no Brasil

Por Rodrigo Correia da Silva

Assim como em diversos departamentos da economia, o segmento de cuidados com a saúde passa por um momento de intensas transformações. O distanciamento social ocasionado pela Covid-19, provocou uma série de mudanças não só no comportamento e consumo dos brasileiros, mas também em como as empresas têm se virado para atender a alta demanda, como é o caso das healthtechs e foodtechs, por exemplo.

De acordo com o SimilarWeb, ferramenta online que analisa a quantidade de visitas de sites e aplicativos, o volume de downloads dos três principais apps voltados para exercícios físicos, cresceu 291%. Outro número que chamou atenção foi a busca por produtos de prevenção contra o coronavírus. Segundo o Google Trends Brasil, ferramenta gratuita que permite a descoberta das principais tendências relacionadas a uma palavra-chave específica, as recomendações por autoridades da saúde ocasionaram um aumento de 942% no interesse por álcool em gel e 412% em máscaras de proteção facial.

Mas, os números não param por aí! Segundo levantamento da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), a adesão por planos de saúde passou de mais de 46 milhões de beneficiários para mais de 47 milhões só em março deste ano se comparado com o mesmo período em 2019.

Tal cenário corresponde a uma aceleração na evolução do setor jamais vista. Grandes corporações que antes não ofereciam nenhum recurso voltado para a saúde, começaram a perceber as oportunidades dentro da área. Um exemplo disso foi a global Philips, empresa com produtos voltados à tecnologia, que desenvolveu uma solução para o recolhimento de dados relacionados ao coronavírus, auxiliando os hospitais para uma tomada de decisão mais assertiva sobre a doença.

Com a crescente demanda e procura por produtos e soluções que enaltecem o mercado da saúde, as organizações que atuam diretamente com a área, têm buscado novas aquisições e parcerias para aprimorar seus serviços prestados. O relatório Global Health Tech 2020, desenvolvido pela Deloitte, empresa americana especializada em consultoria, aponta que essa é uma das tendências para o futuro desse ecossistema.

Se por um lado os serviços oferecidos no modo online estão crescendo, por outro a aquisição por bens não duráveis em espaços físicos mostram uma desaceleração expressiva. De acordo com a Cielo, empresa brasileira de serviços financeiros, o setor de drogarias e farmácias apresentou queda de 4,1% no período da pandemia, embora seja a menor queda entre os setores avaliados não afasta a necessidade de busca de maior eficiência nos processos e conveniência ao consumidor para recuperação. Portanto vemos um reforço da tendência da inclusão, cada vez mais presente, da tecnologia para compra e venda desses bens não duráveis como produtos de saúde, para higiene, nutrição e bem estar.

Vivemos em uma nova era em que a transformação digital e automação de dados já faz parte do nosso dia a dia. Para se ter uma ideia, o relatório Healthcare 2030, da KPMG, empresa de prestação de serviços profissionais e consultoria, mostra que métodos tecnológicos como a inteligência artificial devem ser utilizados em 90% dos hospitais dos EUA até 2025.

Os avanços e a alta procura por recursos na área da saúde são mais que visíveis e sabemos que além de progredir, as novidades corroboram para o desenvolvimento com grandes benefícios para este departamento, como facilidade de gerenciamento, maior segurança aos pacientes e profissionais da área, melhor acesso aos recursos e produtos que ele oferece. Além disso, todo esse cenário corrobora para uma grande mudança no segmento de cuidados, pois fará com que a assistência médica não fique apenas focada no tratamento de doenças, acelerando os processos de prevenção e cura.

E é exatamente disso que precisamos. Quanto menor a resistência na transformação, maiores serão as oportunidades que as instituições médicas terão para proporcionar qualidade de vida e potencializar a eficiência do atendimento ao paciente. Afinal, estamos lidando com pessoas, portanto, nenhum progresso valerá de nada se não focarmos no que realmente importa, a vida!


*Rodrigo Correia da Silva é fundador da Suprevida. Atuou por 20 anos como advogado e consultor no setor saúde. É Mestre pela PUC/SP e professor do MBA/FGV. Liderou os Comitês de Saúde da Amcham e da Britcham.

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