O que 2021 reserva para os enfermeiros e para a profissão de enfermagem?

Por Robert Nieves

2020 foi o Ano da Enfermagem e ainda coincidiu com uma pandemia que afetou a vida de praticamente todas as pessoas do planeta. O ano passado também acabou por destacar o papel crítico que os enfermeiros desempenham em todo o ecossistema de cuidados.

A Covid-19 continua a sobrecarregar nossos sistemas globais de saúde e a testar a determinação de médicos, enfermeiros e profissionais de saúde, que continuam a fornecer o melhor atendimento possível enquanto arriscam seu próprio bem-estar. Mas, ao chegarmos em 2021, o que o futuro reserva para os enfermeiros e a profissão de enfermagem?

Tendo iniciado minha carreira como enfermeiro, só posso imaginar os desafios que esses profissionais hoje têm de superar. Estando da linha de frente, eles se colocam em risco significativo para cuidar dos pacientes. Os números sempre crescentes são impressionantes, com mais de 85 milhões de infecções e quase 2 milhões de mortes em todo o mundo.

Aproveitando nossos valiosos, mas limitados recursos de enfermagem

Hoje, os enfermeiros representam a maior força de trabalho de saúde no sistema. Precisaremos de quase 6 milhões de enfermeiros adicionais para garantir que os padrões de saúde aumentem novamente após a pandemia, de acordo com um relatório de 2020 da Organização Mundial de Saúde.

A maior escassez está no sudeste da Ásia. As nações desenvolvidas enfrentam um desafio adicional de uma força de trabalho de enfermagem em envelhecimento, com vários países nas regiões dos Estados Unidos, da Europa e do Mediterrâneo Oriental excessivamente dependentes da mobilidade internacional de enfermagem. Com o aumento das necessidades de saúde e o envelhecimento global da população, é necessário agir agora para melhorar as capacidades de nossa força de trabalho nesta área e evitar um grande problema na saúde.

Quando comecei minha carreira como enfermeiro, há algumas décadas, percebi que a profissão avançava continuamente, cabendo a cada profissional a responsabilidade de contribuir para a excelência e o avanço na carreira. Mas o que significa ser verdadeiramente um líder de enfermagem transformador? Quando olhamos para a enfermagem e a equipe clínica mais ampla, devemos entender que a tecnologia também é um facilitador. Fizemos um progresso significativo nos últimos 200 anos, impulsionados pela tecnologia, mas ainda há desafios pela frente. Aqui estão algumas de minhas reflexões sobre como impulsionar a profissão de enfermagem.

1. Democratizar o conhecimento usando a tecnologia: Adoção e uso

“O mundo, mais especialmente este mundo hospitalar, está com tanta pressa, movendo-se tão rápido, que é muito fácil cair em maus hábitos antes de percebermos.” – Florence Nightingale

Olhando para a carreira de Florence Nightingale, conhecida como a fundadora da enfermagem moderna, algumas de suas citações ainda traduzem os problemas que enfrentamos hoje. A implementação de novas tecnologias em qualquer sistema de saúde deve levar em consideração o fluxo de trabalho existente para garantir que ele crie eficiências. É crucial garantir que os usuários finais, incluindo enfermeiros, sejam treinados e equipados para usar essas tecnologias e incorporá-las aos fluxos de trabalho diários.

A implementação bem-sucedida do projeto não deve olhar para onde as coisas terminam, especialmente quando a utilização de tecnologias entre os usuários finais, incluindo enfermeiros, determina os impactos mais duradouros do projeto. O alto nível de aceitação pode ser alcançado quando:

• Os enfermeiros entendem como a tecnologia está permitindo-lhes cuidar melhor de seus pacientes, fornecendo informações relevantes ao contexto.

• Por meio do raciocínio clínico, essas informações são traduzidas em conhecimento significativo.

• Esse conhecimento é, então, colocado em ação e usado na tomada de decisões para melhorar os resultados do paciente.

2. Democratizar o conhecimento usando a tecnologia: Minimizando a carga administrativa / burocrática

Com a escassez global de enfermeiros, é fundamental focar na construção das competências da força de trabalho de enfermagem existente para garantir que os profissionais estejam trabalhando em todo o seu potencial. As organizações de saúde devem fazer um esforço concentrado para projetar seus sistemas de tecnologia de uma forma que não sobrecarregue a equipe com tarefas administrativas e estresse burocrático.

Minha recomendação é avaliar primeiro os sistemas existentes para identificar as tarefas e os requisitos de documentação que normalmente são de alto volume e, quando combinados, ocupam um valioso tempo clínico. Após essa avaliação, as organizações precisam determinar se esses elementos são relevantes para o cuidado do paciente. Tomar a decisão de remover aqueles considerados irrelevantes ou, no mínimo, transferi-los para recursos não clínicos leva a eficiências muito necessárias e à satisfação do médico.

3. Democratizando o conhecimento usando a tecnologia: Suporte à Decisão Clínica (CDS, Clinical Decision Support)

Após a implementação de Prontuários Médicos Eletrônicos (PME) com um processo bem pensado e treinamento adequado, os PMEs podem se tornar sistemas de apoio significativos para os enfermeiros. No entanto, estamos apenas arranhando a superfície do poder capacitador da tecnologia, que tem o potencial de apoiar os enfermeiros além de seu trabalho diário e melhorar a produtividade.

Uma das oportunidades perdidas que vejo ao projetar e implementar tecnologias como um PME é a capacidade de fornecer as informações certas aos enfermeiros para ajudá-los a tomar melhores decisões no local do atendimento. Além do PME, as ferramentas CDS são excelentes exemplos de como a tecnologia pode democratizar o conhecimento para os enfermeiros. Quando nos concentramos na adoção de CDS baseadas em evidências com a intenção de facilitar a tomada de decisão clínica que está embutida no fluxo de trabalho diário, os enfermeiros podem realmente se beneficiar da tecnologia.

Um exemplo disso é o processo de planejamento de cuidados, com a documentação embutida sendo um requisito para cada paciente. Normalmente, as organizações que projetam esse fluxo de trabalho o abordam da perspectiva da conformidade, o que se torna uma tarefa de valor mínimo. Minha recomendação para as organizações de saúde é começar o processo de planejamento de cuidados com a intenção de capacitar os enfermeiros com acesso imediato ao conhecimento acionável. Ao implementar uma mentalidade CDS antecipada, o sistema será orientado para reduzir a variabilidade injustificada e fornecer cuidados mais seguros e de melhor qualidade ao paciente.

4. Reconhecer, respeitar e investir em enfermeiros para crescer em papéis de liderança

Ao longo dos anos, certos países têm feito esforços combinados para transformar a enfermagem em uma profissão altamente respeitada e com isso tendem a atrair mais talentos. Essa mudança positiva está ocorrendo em países como Austrália, Nova Zelândia e Cingapura. Nos EUA, os enfermeiros não estão apenas envolvidos no atendimento ao paciente, mas também são responsáveis por fornecer um alto padrão de atendimento que incorpora pesquisa e inovação. Quando estes profissionais assumem mais responsabilidades e papéis de liderança, eles tendem a se sentir valorizados e motivados a permanecer no campo. Isso ajuda a atrair mais talentos para a força de trabalho.

Por outro lado, na América Latina, no Oriente Médio e em outras áreas da Ásia, a enfermagem não é uma profissão que se aspira. Essas regiões carecem de provisões para educação e treinamento avançados, além de ter caminhos de progressão na carreira limitados e alta rotatividade de profissionais qualificados.

Investir na educação e na qualificação de enfermeiros pode melhorar a gestão de competências, o que se traduz em maior produtividade e melhores resultados de saúde. Isso se torna ainda mais importante à medida que continuamos a desenvolver uma força de trabalho digitalizada, no qual a alfabetização digital continuará sendo uma questão pertinente. As organizações que investem no aprimoramento das capacidades digitais de seus enfermeiros verão os benefícios de maior eficiência na prestação de cuidados. Na mesma linha, no nível de gestão hospitalar, ao incentivar os enfermeiros a se aventurarem em áreas como a análise de dados de saúde, podemos adotar uma abordagem de atendimento mais holística, centrada no paciente e orientada por dados.

5. Comprometendo-se a apoiar os enfermeiros em sua missão de cuidar

Depois de visitar vários hospitais em cinco continentes, tenho visto líderes de enfermagem e suas equipes se esforçarem para fazer progredir a profissão, sem perder de vista sua missão fundamental de cuidar de seus pacientes. É verdadeiramente gratificante testemunhar sua paixão e defesa pelo atendimento ao paciente que os impulsiona em seu trabalho diário.

Ao longo da história, o enfermeiro sempre foi a espinha dorsal do sistema de saúde. Sua resposta a esta pandemia mostrou seu valor para o mundo. Os líderes do setor hoje precisam reconhecer o impacto desses profissionais em nossas comunidades, bem como seu potencial para promover mudanças significativas. É um compromisso que todos devemos assumir!

Este ano, a Elsevier se comprometeu a apoiar os enfermeiros durante a pandemia, fornecendo treinamento virtual e acesso a recursos de saúde gratuitos. Nós nos esforçamos para trabalhar com muitos líderes de saúde em todo o mundo para elevar o papel que os enfermeiros desempenham.


*Robert Nieves é VP de Informática em Saúde para Soluções Clínicas na Elsevier

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