Como incorporar soluções de suporte à decisão clínica ao fluxo de trabalho pode fazer a diferença na saúde
Por Nayara Gerez
Em épocas de internet of things (IoT), inteligência artificial, realidade aumentada, big data, fica meio difícil imaginar nossas vidas sem a presença da tecnologia. No ecossistema da saúde não é diferente. Ela está aí, por todos os lados, não somente nos equipamentos médicos hospitalares, na gestão das instituições de saúde, como também para ser usada no atendimento clínico, no beira do leito, no cuidado com o paciente. Mas, será que os profissionais da saúde tiram o máximo de proveito de tudo o que foi criado para facilitar o seu dia a dia? Porque há dificuldades em adotar efetivamente as tecnologias, como a de suporte à decisão clínica no fluxo de trabalho?
Não é que os profissionais de saúde sejam resistentes à tecnologia, como normalmente se dizem por aí. É só pensar e ver como alguns avanços tecnológicos caíram nosso gosto com uma velocidade impressionante. Temos exemplos clássicos, como a radiografia, que menos de dois anos depois de sua descoberta por Wilhelm Röntgen, em 1896, já havia transformado a radiologia em uma especialidade reconhecida ao redor do mundo e o uso universal dos raios X um protagonista no diagnóstico médico. Mais recentemente, tivemos a tomografia computadorizada e assim existem muitos outros. Por outro lado, tecnologias como o prontuário eletrônico do paciente (PEP) e as soluções de suporte à decisão clínica nem sempre são bem recebidas ou até rejeitadas pelos profissionais de saúde! Qual seria a razão dessa disparidade?
A resposta não é simples, de forma alguma, mas basicamente está relacionada à maneira como novas tecnologias são integradas ao fluxo de trabalho e às práticas assistenciais de saúde. Ou seja, se ela é realmente útil para aperfeiçoar, incrementar, ou até revolucionar a prática clínica.
Além disso, tem outros pontos que merecem ser citados:
#1 Falta recursos financeiros e infraestrutura para adoção de tecnologias e soluções de suporte à decisão clínica. Segundo o Datasus, o departamento de informática do Sistema Único de Saúde (SUS), o profissional de saúde tem dificuldade de registrar a informação adequadamente por não ter equipamentos suficientes. Atualmente, na atenção básica são 40 mil UBS [Unidades Básicas de Saúde]. Desse total, pouco mais de 50% têm um sistema de informação e conseguem informatizar sua rotina, sendo a situação é mais crítica nas regiões Norte e Nordeste.
#2 Aderir uma nova tecnologia requer mudança brusca de cultura e de comportamento. Olhando para esse aspecto, não é difícil entender a resistência, afinal estamos falando de um profissional que trabalhou a vida toda com papel, caneta, prescreveu milhares de vezes usando seu receituário, folheou livros e teses científicas em bibliotecas, ter que usar um sistema eletrônico. E ainda ter que aprender a usar esse sistema que se conectar outros se conecta com os outros passos para cuidado integral do paciente.
#3 Não familiaridade com a tecnologia, mesmo que ela dê suporte à decisão clínica. Embora isso aconteça em menor escala, é preciso ser realista que mesmo na era do digital, ainda exista quem não esteja familiarizado ou mesmo que não goste de lidar com a tecnologia e aí entra o item abaixo.
#4 Falta tempo: Só de imaginar em ter que aprender mais uma “coisa” nova ou de incorporar mais uma ação durante o atendimento, o profissional já fica de cabelo em pé. Além disso, incorporar novas práticas no cuidado é difícil em ambientes de alta pressão. Estamos falando de profissionais com elevadas cargas de trabalho e responsabilidades tremendas.
No entanto, é precisa ter clara a ideia que promover o workflow revolution e integrar a tecnologia e as soluções de suporte à decisão clínica no fluxo de trabalho do profissional da saúde é algo extremamente importante quando pensamos em redução da variabilidade do cuidado – ou variabilidade clínica, como é conhecida por alguns, para obter a efetividade clínica, especialmente em um país do tamanho do Brasil, que soma 210 milhões de pessoas com acessos muito divergentes à rede de saúde. É preciso sair do estático e deixar tudo muito dinâmico.
A ideia é que, sem precisar sair do seu contexto diário, o profissional encontre e acesse o mais rápido possível, informações sobre medicamentos, patologias, diagnósticos, tratamentos, procedimentos, etc., seja durante uma consulta ou em uma visita ao leito do paciente. E o que é melhor, de uma forma capaz de apoiar as decisões e ações do profissional de saúde. A inteligência artificial embargada nas soluções de suporte à decisão clínica também pode ajudar muito: ela é capaz de pegar um volume imenso de dados, reconhecer padrões e gerar algoritmos que podem tanto auxiliar médicos no atendimento diário quanto revelar o cenário da saúde de uma região. Esse tipo de tecnologia ajuda a traçar o melhor caminho a ser seguido no diagnóstico e tratamento do paciente, auxiliando os médicos a realizarem um atendimento personalizado e mais seguro.
A boa notícia é que esta tendência de incorporar a tecnologia e os recursos de suporte à decisão clinica no fluxo de trabalho começa a ser reafirmada pelas entusiastas no assunto e por novas gerações de profissionais da saúde, que estão cada vez mais alinhados com os avanços. Integrar a tecnologia à realidade desses profissionais, à rotina de seu dia a dia, é algo que não acontecerá de uma hora para a outra; porém já é um caminho sem volta – e que certamente trará novos caminhos antes inimagináveis.