A Verticalização da Saúde no Brasil

Por Heder Bragança

Talvez você não esteja familiarizado com esse termo, então vou tentar dá um conceito para ele: Verticalização da saúde pode acontecer quando uma operadora de saúde tem seus próprios locais de atendimento ao paciente, seja hospital, clínica, rede de ambulatórios, pronto atendimento ou centro de imagens e nesses locais de entendimento são aceito em grande maioria apenas o plano de saúde próprio.

Isso não é um movimento novo, mas nos últimos tempos estamos acompanhando esse movimento ser mais imponente. No mercado de saúde, as fusões e aquisições andam de forma aquecida.

Quem se destaca no mercado de fusões e aquisições para verticalização da saúde a Hapvida e Notredame Intermédica. Somaram juntas mais de R$ 16 bilhões na bolsa de valores desde abril de 2018, quando ambas fizeram suas primeiras ofertas de ações. Juntas, elas contabilizam quase 8,7 milhões de beneficiários e tem um valor de mercado que gira em torno de R$ 60 bilhões. Esse movimento de verticalização na Saúde está criando megaoperadoras, com carteiras de milhões de vidas.

Esse mercado de vidas em operadoras de saúde, compete com as tradicionais seguradoras. Mas também até mesmo as tradicionais como Amil e Unimed estão nesse mercado fazendo sua verticalização. A disputa é quem consegue oferecer melhor assistência com baixo custo ao usuário, uma vez que o apelo da Hapvida, por exemplo, é proporcionar seguro em saúde a um valor acessível e por isso se faz tão presente em cidades do interior e também onde foi sua origem.

Então, perceba que a verticalização também tem: concorrentes, riscos e oportunidades.

Concorrentes: Sim, todo mercado tem seus concorrentes e nesse caso, estamos falando de concorrentes de peso, com quantias bilionárias em jogo. A compra da São Francisco Saúde, de Ribeirão Preto, interior de São Paulo, pela Hapvida, ao custo de impressionantes R$ 5 bilhões, ou seja, para competir de igual para igual com a Hapvida, por exemplo, estamos falando de montas importantes.

Riscos: Aqui existem muitos riscos. Aos investidores e aos usuários. E o risco entre os dois circula em uma mesma esfera: Lucro com qualidade, porém, a perspectiva de cada um deles sobre essa mesma esfera é diferente.

Lucro com qualidade para o investidor: Imagine você na cadeira de um investidor dessa magnitude. Com receitas, custos e despesas em bilhões por ano. Você passará horas do seu dia analisando possibilidades de aumentar seu lucro gastando menos, para não onerar seus clientes, então vai passar pelos setores de RH, Compras, Faturamento, contabilidade, financeiro e vai buscar alternativas de reduzir custos e despesas. Se não tiver cuidado, vai tomar decisões que podem colocar vidas das pessoas em jogo, com medicamentos e materiais de baixa qualidade. Isso não pode ser a melhor opção, tão pouco, comprar equipamentos de baixa resolutividade que podem comprometer o diagnóstico médico, colocando, além da vida do paciente em risco, a equipe médica em descrédito. Então vai chegar à conclusão que precisa de melhor qualidade (que vamos abordar no próximo item): assistencial, administrativa/financeira.

Lucro com qualidade para o usuário: De um outro lado, o usuário de plano de saúde que se dirige a uma unidade de atendimento, ele busca: velocidade, precisão, assertividade e alguns ainda pendem ao médico um monte de exame, invertendo a lógica da autonomia médica. Mas para ele permanecer nas condições de cliente, ele faz suas exigências as quais precisam ser atendidas ou bem justificadas para ele.

Lembre-se, nessas condições o cliente mantém além do plano de saúde a instituição de atendimento, pois os recursos são apenas um só para manter toda essa cadeia.

Claro, uma empresa totalmente verticalizada, onde ela atende em suas instituições de saúde apenas os próprios clientes de sua rede a situação fica cada vez mais intolerante a erros financeiros. Por isso, as empresas verticalizadas têm também a necessidade de credenciar outros convênios que não são verticalizados.

Qualidade: A qualidade assistencial, financeira e administrativa é o que pode dá o meio termo entre as expectativas entre o usuário e o prestador. Em uma instituição de saúde, as oportunidades são sempre abundantes, mas o erro e o acerto são evidenciados imediatamente. Dependendo do erro, o processo de correção pode ser muito mais difícil.

Então, precisa de um arranjo muito bem elaborado entre a assistência, o financeiro e toda a parte administrativa para garantir lucro com qualidade para ambos.

Protocolos assistenciais é o mínimo, selos de acreditação são importantes, mas o principal é: Revisão permanente de todos os processos assistenciais e cuidados ao paciente. Essa revisão contínua, como uns chamam de efeito sentinela, é que faz uma instituição de saúde ser vencedora. Não importa, no final do dia, se a instituição tem os melhores médicos, enfermeiros e os melhores selos de acreditação, mas se um paciente sofre um erro assistencial que poderia ser evitado e de tudo isso nasce apenas um evento adverso e não uma oportunidade de melhoria contínua, a empresa não tem o efeito sentinela implementado de forma eficiente.

Acompanhamento financeiro: Não se limita apenas a saber os saldos de bancos, saldo de clientes ou se em um período obteve lucro ou prejuízo. Nessa configuração, o setor financeiro é importante para validar as decisões e medir seus indicadores. Sinalizar para todos a rentabilidade por cliente, por médico, por protocolo, por equipe, por turnos, por unidades de negócios e assim buscar respostas de como ser rentável dentro dos limites que a área assistencial delimitou. Deve-se medir de forma sistemática e analítica, para que suas percepções tragam informações para a área assistencial analisar e refletir se cabe mudança (normalmente cabe) dentro dos limites.

No final, podemos perceber que o importante disso tudo são custos. Como reduzir custos e otimizar recursos. E isso vale não apenas para as empresas de saúde verticalizadas, para elas valem mais, pois são sensíveis a sinistralidade também, enquanto um hospital fora da verticalização, busca apenas otimizar o paciente entre assistência e financeiro sem se preocupar com o custo da sinistralidade (em muito dos casos).

Para esses hospitais, existe o desafio dos pacotes das operadoras, o fee for service, o DRG e ainda obter lucro onde vidas estão sendo canalizadas cada vez mais no modelo de verticalização. É momento de repensar o planejamento estratégico não para o próximo ano e sim para os próximos 5 anos, no mínimo, e saber como ser tornar e permanecer relevante para a sociedade e operadoras.


Heder Bragança é sócio diretor da 2Performance

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