Fluxos de atendimento: a saúde não pode esperar

Por Fernanda Fontanezi 

Foram cerca de quatro meses de pandemia de Covid-19 no Brasil até que pudéssemos atingir o estágio de avaliar, a partir do comportamento do vírus, quais serão os próximos passos para redesenhar o futuro da saúde no país.

Entre aprendizados, observamos que o isolamento social praticado no Estado de São Paulo permitiu o achatamento da curva de contaminação, o que evitou o colapso da saúde. Vale lembrar que, durante todo o período de avanço da pandemia, diversas medidas foram sendo incorporadas na rotina da população, como o uso de máscaras e sistemas para evitar aglomerações em áreas comuns e estabelecimentos, em seguimento às determinações das autoridades competentes.

A partir do momento em que incorporamos essa nova realidade, torna-se essencial que retomemos o diálogo sobre todas as enfermidades que ficaram à margem dos atendimentos da saúde até o momento. Aquilo que chamamos de “efeito colateral” da pandemia levou a óbito pacientes portadores de doenças graves que deixaram de realizar tratamentos e exames, bem como de procurar atendimento diante de sintomas.

É sabido que a super utilização dos serviços de saúde de urgência e emergência sempre foi uma característica da população brasileira, cujo hábito era utilizar o pronto-socorro (PS) mais como um pronto-atendimento do que como serviço de urgência e emergência. Antes da pandemia, por exemplo, apenas algo entre 30% e 40% dos atendimentos realizados nos prontos-socorros poderiam ser classificados como de fato emergenciais.

Com o avanço dos casos de Covid-19, no entanto, foi observado uma queda de quase 80% nos atendimentos no PS. Desse total, entendemos que aproximadamente 20% deixaram de buscar atendimento em situações de real urgência.

O reflexo dessa mudança de postura da população foi o aumento de situações preocupantes, com pacientes chegando ao hospital em quadros avançados de infarto, AVC e apendicite aguda, entre outros casos que poderiam ter seus riscos e sequelas reduzidos ou evitados. Situações como estas evidenciam o medo que a população desenvolveu ao longo dos últimos meses.

Ao mesmo tempo, uma série de doenças crônicas deixaram de ser diagnosticadas em seus estágios iniciais, dificultando seu controle. Enfermidades como diabetes, hipertensão, insuficiência renal, insuficiência cardíaca, asma, cirrose hepática e tantas outras que afetam a qualidade de vida de seus portadores, bem como diversos tipos de câncer, cujo diagnóstico precoce é um fator preponderante no combate à doença.

O resultado teve um impacto no número de óbitos em domicílio registrado no Estado de São Paulo, que apresentou aumento de 16% até agora, quando comparado ao total do ano de 2019.

É importante lembrar que a morbimortalidade destas doenças pode ser tão ou mais intensa do que a apresentada pelo Covid-19. Por isso, é fundamental que a população se sinta segura para voltar a procurar atendimento, dando continuidade aos seus cuidados básicos de saúde.

A saúde não pode esperar. Deve-se buscar meios e se preparar para que todos os serviços do setor sejam retomados sem ônus aos pacientes.

Neste sentido, as instituições devem desenvolver fluxos de atendimento diferenciados, seja em caráter emergencial ou eletivo, evitando contaminações cruzadas. A recomendação é que sejam definidas áreas específicas, separadas fisicamente para tratar os pacientes com suspeita de Covid-19, ou mesmo com exame positivo para o vírus, daqueles pacientes que forem classificados como não suspeitos, ou seja, que não apresentem sintomas respiratórios, alteração de exame de PCR ou tomografia.

Sobretudo, devemos e precisamos voltar a utilizar nosso sistema de saúde de maneira prática e racional, buscando o equilíbrio na utilização dos serviços para que possamos atravessar esta crise com a menor baixa de pacientes possível, seja ela por Covid-19 ou por outras patologias.


*Fernanda Fontanezi é médica e diretora da Unidade de Santana da Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo

Damos valor à sua privacidade

Nós e os nossos parceiros armazenamos ou acedemos a informações dos dispositivos, tais como cookies, e processamos dados pessoais, tais como identificadores exclusivos e informações padrão enviadas pelos dispositivos, para as finalidades descritas abaixo. Poderá clicar para consentir o processamento por nossa parte e pela parte dos nossos parceiros para tais finalidades. Em alternativa, poderá clicar para recusar o consentimento, ou aceder a informações mais pormenorizadas e alterar as suas preferências antes de dar consentimento. As suas preferências serão aplicadas apenas a este website.

Cookies estritamente necessários

Estes cookies são necessários para que o website funcione e não podem ser desligados nos nossos sistemas. Normalmente, eles só são configurados em resposta a ações levadas a cabo por si e que correspondem a uma solicitação de serviços, tais como definir as suas preferências de privacidade, iniciar sessão ou preencher formulários. Pode configurar o seu navegador para bloquear ou alertá-lo(a) sobre esses cookies, mas algumas partes do website não funcionarão. Estes cookies não armazenam qualquer informação pessoal identificável.

Cookies de desempenho

Estes cookies permitem-nos contar visitas e fontes de tráfego, para que possamos medir e melhorar o desempenho do nosso website. Eles ajudam-nos a saber quais são as páginas mais e menos populares e a ver como os visitantes se movimentam pelo website. Todas as informações recolhidas por estes cookies são agregadas e, por conseguinte, anónimas. Se não permitir estes cookies, não saberemos quando visitou o nosso site.

Cookies de funcionalidade

Estes cookies permitem que o site forneça uma funcionalidade e personalização melhoradas. Podem ser estabelecidos por nós ou por fornecedores externos cujos serviços adicionámos às nossas páginas. Se não permitir estes cookies algumas destas funcionalidades, ou mesmo todas, podem não atuar corretamente.

Cookies de publicidade

Estes cookies podem ser estabelecidos através do nosso site pelos nossos parceiros de publicidade. Podem ser usados por essas empresas para construir um perfil sobre os seus interesses e mostrar-lhe anúncios relevantes em outros websites. Eles não armazenam diretamente informações pessoais, mas são baseados na identificação exclusiva do seu navegador e dispositivo de internet. Se não permitir estes cookies, terá menos publicidade direcionada.

Visite as nossas páginas de Políticas de privacidade e Termos e condições.

Importante: A Medicina S/A usa cookies para personalizar conteúdo e anúncios, para melhorar sua experiência em nosso site. Ao continuar, você aceitará o uso. Veja nossa Política de Privacidade.