Sem ética e igualdade, as vacinas não vão conter a pandemia

Por Celso Cláudio de Hildebrand e Grisi

Duas questões devem ser colocadas abertamente para os formuladores de planos de distribuição de vacinas contra o coronavírus. Essas perguntas não envolvem apenas aspectos econômicos logísticos. Elas permeiam a ética e, simultaneamente, a epidemiologia. São elas:

1) As doses alcançarão os países e as populações mais pobres?

2) A pandemia será controlada se esses públicos não estiverem vacinados?

Na busca pela imunização de seus cidadãos, os países ricos gozam, como ocorreu em outras epidemias, da primazia na compra de vacinas. Nessa lógica, os países com poucos recursos e com pessoas mais vulnerabilizadas serão os últimos a vacinarem seus cidadãos — ou sequer farão isso.

Vale lembrar que essas populações se apresentam geograficamente dispersas, muitas das quais localizadas em áreas com dificuldades de acesso, sobretudo nas nações com grandes extensões territoriais. E, no mundo atual, elas têm mostrado grande mobilidade, ainda que para isso ponham suas vidas em riscos, seja em aventuras pelos oceanos, seja em transportes terrestres, onde as condições asfixiantes já produziram repetidas tragédias. Outro ponto a considerar é que os países pobres também recebem visitantes por razões humanitárias ou econômicas.

Ou seja, de uma forma ou de outra, a não vacinação dessas populações favorece a intensa disseminação do coronavírus e de suas variantes. Há que se concluir, portanto, que a prioridade de imunizar um povo pelo critério da riqueza é absolutamente inaceitável do ponto de vista ético. Isso faz crescer a desigualdade e amplia o fosso da miserabilidade em que se encontram as pessoas mais vulneráveis.

O medo parece causar um bloqueio mental que exacerba o individualismo, pelo esquecimento de que o privilégio relega valores coletivos e sociais. Mas, em situação de pandemia, o individualismo não protege ninguém. Um país rico que vacina boa parte de seus habitantes, mas que deixa seus vizinhos pobres sem doses até para profissionais de saúde, certamente sofrerá consequências disso.

A pandemia de Covid-19 não será controlada sem que a vacinação seja universalizada, permitindo o acesso rápido, equitativo e eficaz a todos, ricos e pobres. Trata-se de um problema mundial que só será resolvido a partir do consenso entre governos e entidades privadas que fornecem as vacinas. Os órgãos multilaterais serão o fórum mais adequado para encaminhar soluções consensuais. Essas discussões nortearão as decisões sobre para onde devem ir as doses, que preços deverão ser cobrados por elas e como operacionalizar uma logística tão complicada.

Esse é o momento de abandonarmos a cegueira do individualismo, rompermos com o bloqueio do medo e convergirmos de imediato para um plano de atendimento a todos. Se a ética já nos dirige para esse caminho, o domínio da pandemia imporá a todos segui-lo, até alcançar o seu final.


*Celso Cláudio de Hildebrand e Grisi é economista, professor da Faculdade da Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo e Presidente do Conselho de Ética, do Instituto Ética Saúde.

Damos valor à sua privacidade

Nós e os nossos parceiros armazenamos ou acedemos a informações dos dispositivos, tais como cookies, e processamos dados pessoais, tais como identificadores exclusivos e informações padrão enviadas pelos dispositivos, para as finalidades descritas abaixo. Poderá clicar para consentir o processamento por nossa parte e pela parte dos nossos parceiros para tais finalidades. Em alternativa, poderá clicar para recusar o consentimento, ou aceder a informações mais pormenorizadas e alterar as suas preferências antes de dar consentimento. As suas preferências serão aplicadas apenas a este website.

Cookies estritamente necessários

Estes cookies são necessários para que o website funcione e não podem ser desligados nos nossos sistemas. Normalmente, eles só são configurados em resposta a ações levadas a cabo por si e que correspondem a uma solicitação de serviços, tais como definir as suas preferências de privacidade, iniciar sessão ou preencher formulários. Pode configurar o seu navegador para bloquear ou alertá-lo(a) sobre esses cookies, mas algumas partes do website não funcionarão. Estes cookies não armazenam qualquer informação pessoal identificável.

Cookies de desempenho

Estes cookies permitem-nos contar visitas e fontes de tráfego, para que possamos medir e melhorar o desempenho do nosso website. Eles ajudam-nos a saber quais são as páginas mais e menos populares e a ver como os visitantes se movimentam pelo website. Todas as informações recolhidas por estes cookies são agregadas e, por conseguinte, anónimas. Se não permitir estes cookies, não saberemos quando visitou o nosso site.

Cookies de funcionalidade

Estes cookies permitem que o site forneça uma funcionalidade e personalização melhoradas. Podem ser estabelecidos por nós ou por fornecedores externos cujos serviços adicionámos às nossas páginas. Se não permitir estes cookies algumas destas funcionalidades, ou mesmo todas, podem não atuar corretamente.

Cookies de publicidade

Estes cookies podem ser estabelecidos através do nosso site pelos nossos parceiros de publicidade. Podem ser usados por essas empresas para construir um perfil sobre os seus interesses e mostrar-lhe anúncios relevantes em outros websites. Eles não armazenam diretamente informações pessoais, mas são baseados na identificação exclusiva do seu navegador e dispositivo de internet. Se não permitir estes cookies, terá menos publicidade direcionada.

Visite as nossas páginas de Políticas de privacidade e Termos e condições.

Importante: A Medicina S/A usa cookies para personalizar conteúdo e anúncios, para melhorar sua experiência em nosso site. Ao continuar, você aceitará o uso. Veja nossa Política de Privacidade.