Epidemias: uma das maiores ameaças para a próxima década

Por Carlos Cortés

Os sistemas de saúde estão sob novas pressões em todo o mundo. As vulnerabilidades resultantes da mudança de padrões sociais, ambientais, demográficos e tecnológicos ameaçam desfazer, de forma dramática, os ganhos de bem-estar e prosperidade que os sistemas de saúde têm apoiado no último século. Esta é uma das ameaças listadas pela 15ª edição do Relatório de Riscos Globais, apresentado no Fórum Econômico deste ano, em Davos, na Suíça. O documento chama atenção, explicitamente, para os impactos da crescente desigualdade, lacunas na governança de tecnologia e sistemas de saúde sob pressão.

O relatório levou em consideração cinco categorias de classificação de riscos do próximo decênio: Econômico, Ambiental, Geopolítico, Social e Tecnológico. No contexto da categoria social, o risco de epidemias foi considerado como uma das principais preocupações globais para os próximos anos em termos de impacto, devido a diversos fatores que vão desde o avanço da medicina, até questões geopolíticas.

As pandemias poderão se tornar um desafio mundial a longo prazo. No entanto, as doenças não transmissíveis, como as de origem cardiovascular e mental, substituíram as doenças infecciosas como a principal causa de morte, o aumento da longevidade e os custos econômicos e sociais do gerenciamento de doenças crônicas colocaram os sistemas de saúde sob estresse em muitos países, limitando os recursos disponíveis para atender uma emergência de saúde de escala global

O progresso contra pandemias também está sendo prejudicado pela hesitação a vacinas e resistência a medicamentos, tornando cada vez mais difícil dar o golpe final contra alguns dos maiores assassinos da humanidade. À medida que os riscos à saúde existentes ressurgem e surgem, ainda, novos riscos, os sucessos passados da humanidade em superar os desafios à saúde não são garantia de resultados futuros.

O caso mais emblemático da atualidade é o coronavírus. Apesar da evolução considerável da ciência em controlar e mitigar doenças infectocontagiosas, como a H1N1 e a Ebola, a medicina ainda encontra dificuldades com a capacidade de mutação genética constante dos vírus, bactérias e fungos.

A explosão dos casos de coronavírus, parte dessa categoria de doenças, gerou um importante alerta à saúde em todos os países.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) também declarou emergência de saúde pública de interesse internacional – o que, oficialmente, significa a ocorrência de um “evento” extraordinário que constitui um risco à saúde pública para outros Estados, por meio da disseminação internacional de doenças e, potencialmente, exige uma resposta internacional coordenada.

Questões geopolíticas, culturais e migratórias se constituem como uma barreira para a contenção de doenças. Desta forma, a capacidade de enfrentar riscos globais críticos e compartilhados como as epidemias têm sido desafiada por embates nacionais, falta de cooperação internacional e, até mesmo, grupos sociais que resistem ao tratamento por meio de vacinas.

Quando os sistemas de saúde falham em mitigar vulnerabilidades e se adaptar aos contextos em mudança, a probabilidade de crises econômicas, instabilidade política, rupturas sociais e conflitos entre estados aumenta bastante. Porém, os sistemas de saúde que funcionam bem permitem que os países respondam e se recuperem de rupturas naturais e provocadas pelo homem mais facilmente.

Como as mudanças climáticas, os riscos à saúde representam um desafio transnacional caro e em expansão. E, realmente, em todo o mundo, os sistemas de saúde precisam examinar criticamente a adequação de suas abordagens e instituições atuais para manter o progresso do século passado e enfrentar as ameaças emergentes.


*Carlos Cortés é Superintendente de Engenharia de Riscos da Zurich

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