O risco dos testes rápidos e o controle epidemiológico

Por Alexandra Reis

Mais de 2,5 milhões de infectados pela Covid-19. No último dia 29 de julho foram impressionantes 1.554 mortes em 24 horas, mantendo um alto índice diário desde o início da pandemia.

A pressão de alguns setores da sociedade e da própria ansiedade da população, pela flexibilização da quarentena, amplia a preocupação em relação ao efeito dessa abertura.

Pior é que o programa de testagem pelo método molecular, o RT-PCR, o único que identifica quem de fato está com o vírus ativo desde o primeiro dia de contágio e é um potencial transmissor, ainda tem números muito modestos. Não avança. Não é feito em massa, como deveria e como protocolos regulares do mundo todo indicam este procedimento.

O governo realizou apenas 20% da meta de testagem pelo método PCR, mostrando uma grande dificuldade do País em atingir a meta de testar, por esse método, 22% da população – o equivalente a 24 milhões de pessoas. Fica comprometido, desta forma, o diagnóstico sobre as áreas de maior concentração de pessoas contaminadas – as chamadas áreas de pressão -, e sobre a velocidade de expansão da infecção, impedindo, consequentemente, a implementação de estratégias eficazes de controle da pandemia.

Informação é tudo.

Por outro lado, o número de testes rápidos realizados no País, ou seja, de testes sorológicos, alcança a casa de milhões, criando a falsa percepção de que, dessa forma, será possível controlar a pandemia, quando, de fato, estes testes possuem baixa sensibilidade, têm uma grande chance de apresentar resultados falsos negativos, podem expor ainda mais a população e contribuir para que as pessoas continuem disseminando o vírus, por acreditarem que não estão contaminadas – isto sem mencionar os problemas de irregularidades na compra de testes de qualidade duvidosa ou em processos pouco transparentes conduzidos por órgãos públicos.

Outro aspecto muito preocupante é que os testes realizados pelo governo, em geral, concentram-se nas pessoas sintomáticas, deixando-se os assintomáticos sem uma verificação – justamente o segmento que traz o grande risco de disseminação do vírus SARS-CoV2 -, pois, segundo publicações científicas, até 41% da população pode estar infectada e é assintomática. E não ter sintomas pode ser um sinal verde para relaxar quanto à prevenção, acelerando a disseminação do coronavírus.

Adicione-se a esses riscos o fato de que há um claro desconhecimento entre os tipos de testes, suas características e eficácia real. Falta informação sobre qual a melhor metodologia para conduzir a testagem em massa, e, devido a isso, muitas vezes a opção é pelo teste de menor custo, sem que se perceba que, ao final, isso pode ter um ônus enorme para a saúde e segurança da população.

Entender melhor a diferença entre os testes de Covid-19 é um passo fundamental tanto no âmbito público – na definição de quais testes serão aplicados junto à população -, quanto no âmbito privado – da parte das empresas que vêm promovendo programas de testagem para funcionários -, ou ainda no nível pessoal – para a faixa da população que tem condições de decidir e fazer o teste que melhor a atende. Dessa forma, poderemos detectar, efetivamente, quem possui o vírus, e adotar as medidas necessárias antes que outros milhares de vidas sigam se perdendo.


*Alexandra Reis é Diretora Científica da Testes Moleculares, Ph.D. em vírus respiratórios pela USP e pós-doutorada em Biologia Molecular.

Damos valor à sua privacidade

Nós e os nossos parceiros armazenamos ou acedemos a informações dos dispositivos, tais como cookies, e processamos dados pessoais, tais como identificadores exclusivos e informações padrão enviadas pelos dispositivos, para as finalidades descritas abaixo. Poderá clicar para consentir o processamento por nossa parte e pela parte dos nossos parceiros para tais finalidades. Em alternativa, poderá clicar para recusar o consentimento, ou aceder a informações mais pormenorizadas e alterar as suas preferências antes de dar consentimento. As suas preferências serão aplicadas apenas a este website.

Cookies estritamente necessários

Estes cookies são necessários para que o website funcione e não podem ser desligados nos nossos sistemas. Normalmente, eles só são configurados em resposta a ações levadas a cabo por si e que correspondem a uma solicitação de serviços, tais como definir as suas preferências de privacidade, iniciar sessão ou preencher formulários. Pode configurar o seu navegador para bloquear ou alertá-lo(a) sobre esses cookies, mas algumas partes do website não funcionarão. Estes cookies não armazenam qualquer informação pessoal identificável.

Cookies de desempenho

Estes cookies permitem-nos contar visitas e fontes de tráfego, para que possamos medir e melhorar o desempenho do nosso website. Eles ajudam-nos a saber quais são as páginas mais e menos populares e a ver como os visitantes se movimentam pelo website. Todas as informações recolhidas por estes cookies são agregadas e, por conseguinte, anónimas. Se não permitir estes cookies, não saberemos quando visitou o nosso site.

Cookies de funcionalidade

Estes cookies permitem que o site forneça uma funcionalidade e personalização melhoradas. Podem ser estabelecidos por nós ou por fornecedores externos cujos serviços adicionámos às nossas páginas. Se não permitir estes cookies algumas destas funcionalidades, ou mesmo todas, podem não atuar corretamente.

Cookies de publicidade

Estes cookies podem ser estabelecidos através do nosso site pelos nossos parceiros de publicidade. Podem ser usados por essas empresas para construir um perfil sobre os seus interesses e mostrar-lhe anúncios relevantes em outros websites. Eles não armazenam diretamente informações pessoais, mas são baseados na identificação exclusiva do seu navegador e dispositivo de internet. Se não permitir estes cookies, terá menos publicidade direcionada.

Visite as nossas páginas de Políticas de privacidade e Termos e condições.

Importante: A Medicina S/A usa cookies para personalizar conteúdo e anúncios, para melhorar sua experiência em nosso site. Ao continuar, você aceitará o uso. Veja nossa Política de Privacidade.