Pandemia reforça a necessidade do olhar humanizado nos hospitais

Por Denise Moraes e Érica Prata

Denise Moraes

O conceito de humanização vinculado ao ambiente hospitalar se deu em meados do século XX com o início do debate sobre a necessidade de renovar tais espaços, atrelado à discussão sobre saúde e doença. Esta visão foi ampliada para todos os atendimentos com foco, principalmente, nas unidades de pediatria, pensando no acolhimento às crianças em tratamento. Com isso, o espaço físico hospitalar passa a ter um olhar acolhedor ao paciente, alterando a percepção de impessoalidade e hostilidade.

Um estudo de casos realizado pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) sobre humanização em unidades de quimioterapia ambulatorial pediátrica mostrou que a valorização do paisagismo, ampla entrada de luz natural para promover contato com o ambiente externo, iluminação suave em departamentos assistenciais e atenção à família são estratégias de humanização adotadas nas nove instituições de saúde avaliadas. O Hospital Infantil de Suzhou, na China, por exemplo, projetado em 2010 pelo escritório HKS Architecture, teve sua fachada inspirada em uma pipa colorida, com cores que mudam de tonalidade conforme a posição do sol, criando um momento de descontração para as crianças atendidas e os familiares que os acompanham.

Considerando, também, os atendimentos adultos, esse novo conceito arquitetônico passa a ser percebido nos quartos de internação, nas áreas de medicação e em todo o local por onde o paciente circula, se parecendo cada vez mais com um hotel. Com a pandemia da Covid-19, o que se percebe é a necessidade de ampliar esse olhar humanizado para os profissionais da saúde, que enfrentam jornadas longas, grande carga de trabalho e, consequentemente, alto nível de estresse.

Em 2016, uma pesquisa da Sodexo mostrou que empresas que investem na qualidade de vida de seus colaboradores apresentam clima no trabalho 91% melhor do que as que não investem, além de um aumento de 86% na produtividade, 70% na rentabilidade e 76% na atração de talentos. E qualidade de vida no trabalho também é sinônimo de uma estrutura arquitetônica planejada com foco no bem-estar da equipe. Isso é possível por meio da neuroarquitetura, que estuda como o ambiente físico impacta no cérebro das pessoas.

Érica Prata

O conceito passa pela biofilia, que consiste na conexão da natureza com o ser humano, seja por meio de plantas ou materiais que remetam à natureza, como um piso em madeira, jardins de espera ou de descanso; pela chamada experiência do usuário (conhecida pelo termo em inglês, user experience), que permite o fortalecimento da marca ao gravar, de forma positiva, aquele ambiente na memória do usuário; e pela neurociência das cores e luzes, que aponta como o cérebro de uma pessoa se comporta diante de informações captadas visualmente.

É importante ressaltar que, dentro de um programa de arquitetura hospitalar, existem fluxos e ambientes que são obrigatórios para o corpo clínico e equipe administrativa, como sala para reuniões, espaço de descanso para a equipe, copa para refeições. A questão, a partir de agora, será a qualidade do que é fornecido. Se o hospital tem que ter um local para descanso do plantonista, a partir da pandemia, ele deve oferecer mais qualidade e apostar em mais unidades, em mais espaço, e até mesmo deixar esses ambientes mais bonitos. Será aprimorado aquilo que já obrigatoriamente teria que existir.

Visto que este setor tem recebido uma forte carga de pressão, muito acima dos outros mercados, é preciso repensar rapidamente o ambiente hospitalar como um todo, não com foco unicamente aos pacientes. Uma estratégia pode ser criar condições que estimulem que o funcionário se levante, caminhe, tenha acesso à luz natural – o que é fisiologicamente benéfico -, tenha uma área de descanso mais adequada. Ainda que a tendência, com o fim da crise sanitária, seja voltar a uma rotina mais equilibrada, os hospitais deverão dar mais atenção a um espaço de descanso e de trabalho mais pensado e preparado, não só aos pacientes, mas também aos médicos, enfermeiros, auxiliares, assistentes sociais e demais funcionários.


*Érica Prata é diretora comercial da AKMX e Denise Moraes é diretora de projetos da AKMX.

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