Aquisições na saúde se tornam oportunidade para clínicas
Notícias recentes de aquisições e fusões de hospitais, clínicas e laboratórios confirmam o aquecimento no mercado de saúde verificado nos últimos cinco anos. O movimento pode se configurar em bons negócios para pequenos e médios empreendimentos médicos – desde que seus negócios estejam bem estruturados, o que exige cumprimento de uma série de quesitos.
No fim do último mês, por exemplo, o mercado tomou conhecimento da aquisição do Hospital de Olhos de Pernambuco (Hope) pelo Centro Brasileiro de Visão (CBV), pertencente ao fundo de private equity da plataforma digital de investimentos XP Inc. O próprio CBV tinha sido incorporado pela XP não fazia muito tempo – no final do ano passado.
Clinicas estruturadas são o alvo dos compradores
Segundo a consultora Júlia Lázaro, sócia da Mitfokus, consultoria financeira especializada na área da saúde, as fusões e aquisições no mercado de saúde intensificaram-se no período da pandemia de Covid-19. “É um mercado que está aquecido, principalmente para os segmentos de laboratório de análises clínicas, oftalmologia e radiologia”, ressalta.
São atividades, explica a consultora, em que a interação médica é menor e a tecnologia está presente, o que permite ganhos de escala, atraindo o interesse de operadoras maiores ou fundos de investimento. Para “entrar no radar” dos grupos de aquisição, clínicas e laboratórios precisam investir em gestão, em governança e em softwares, orienta Júlia Lázaro.
Exemplo
Júlia Lázaro atuou na assessoria para um empresa de médio porte, viabilizando e concretizando as negociações. Ela cita que este caso foi um laboratório de diagnóstico da Grande São Paulo.
Por meio do serviço prestado através de um “valutation”, o laboratório de análise clínicas obteve um diagnóstico preciso de sua situação financeira, seu potencial de geração de receita, projeção do fluxo de caixa, margem de lucro, perfil do público atendido e análise da reputação (valor da marca) no mercado.
O nome e os valores das negociações são preservados, todavia, Júlia salienta que tanto o laboratório vendido quanto a empresa de capital aberto se surpreenderam com o valor creditado ao empreendimento e pelo qual foi comprado. “Primeiro se fez toda a avaliação, que não é apenas financeira – é financeira, mas especializada na área da saúde. O passo seguinte foi a negociação com o interessado em adquirir”, resume a consultora.
Como colocar sua clínica no radar dos grandes compradores
Júlia Lázaro enumera alguns quesitos, como orientação, que devem ser observados por clínicas e laboratórios interessados em se apresentar no mercado de fusões e aquisições. Em resumo:
- Ter uma gestão profissional;
- Manter práticas de governança;
- Possuir softwares integrados;
- Formalizar processos no padrão denominado POP (Procedimentos Operacionais Padrão);
- Contar com certificação ONA (Organização Nacional de Acreditação);
- Estar com boa saúde financeira e tributária;
- Estar preparada para enfrentar Due Diligences dos investidores;
- Possuir uma gestão atualizada de contratos;
- Estar adequada à Lei Geral de Proteção de Dados;
- E a “cereja do bolo”: possuir uma boa e articulada carteira de convênios.
- Os consultores que atuam na área de saúde Sandra Franco e Rafael Moraes avaliam a importância de cada etapa elencada. “Elas impactam diretamente no valuation da empresa, puxando-o para cima, mostrando ao investidor que, além do desenvolvimento do produto, a gestão da empresa é forte, transparente e com princípios e aplicações éticas no seu dia a dia para com seus colaboradores e terceiros”.
Júlia Lázaro finaliza: “Fusões e aquisições podem ser oportunidades estratégicas para clínicas de pequeno e médio porte. No entanto, precisam estar estruturadas financeiramente. Se não estiverem preparadas, serão preteridas”.