Colaboração multidisciplinar no tratamento da apneia do sono

Por Talita Salles

A apneia do sono é um distúrbio que afeta milhões de pessoas em todo o mundo, caracterizado por interrupções na respiração durante o sono. Essas pausas na respiração podem durar de alguns segundos a minutos e ocorrem várias vezes durante a noite, resultando em uma qualidade de sono insatisfatória e uma série de problemas de saúde. Dada a complexidade desse distúrbio, uma abordagem multidisciplinar é essencial para um tratamento eficaz e para a obtenção de melhores resultados a longo prazo.

Existem dois tipos principais de apneia do sono: apneia obstrutiva do sono (AOS) e apneia central do sono (ACS). A AOS é a forma mais comum e ocorre quando os músculos da garganta relaxam excessivamente, bloqueando as vias aéreas. A ACS, por sua vez, é menos comum e acontece quando o cérebro não envia os sinais adequados aos músculos responsáveis pela respiração.

Os sintomas da apneia do sono incluem ronco alto, episódios de falta de ar durante o sono, despertar abruptamente com falta de ar, sonolência diurna excessiva, dificuldade de concentração, irritabilidade e dores de cabeça matinais. Esses sintomas podem levar a complicações graves, como hipertensão, doenças cardíacas, diabetes tipo 2, síndrome metabólica e até acidentes de trânsito devido à sonolência diurna.

A necessidade de uma abordagem multidisciplinar

O tratamento da apneia do sono pode ser complexo e muitas vezes requer a expertise de diversos profissionais da saúde. Uma abordagem multidisciplinar envolve a colaboração de médicos, dentistas, especialistas em sono, fisioterapeutas, nutricionistas e psicólogos, entre outros, para abordar os diferentes aspectos do distúrbio e suas causas subjacentes.

  1. Diagnóstico preciso: O primeiro passo para o tratamento eficaz é um diagnóstico preciso. Isso geralmente envolve uma avaliação clínica detalhada, seguida de um estudo do sono (polissonografia) para monitorar a atividade respiratória, cardíaca e cerebral durante o sono. Pneumologistas e neurologistas desempenham um papel crucial nessa fase, identificando o tipo e a gravidade da apneia.
  2. Intervenções médicas: Os tratamentos médicos incluem o uso de dispositivos de pressão positiva contínua nas vias aéreas (CPAP), que mantém as vias aéreas abertas durante o sono, e, em casos mais graves, cirurgias para remover tecidos obstrutivos ou corrigir anomalias estruturais. Otorrinolaringologistas e cirurgiões maxilofaciais são essenciais para avaliar e realizar essas intervenções quando necessário.
  3. Abordagens odontológicas: Em alguns casos, aparelhos intraorais feitos por dentistas especializados podem ser eficazes. Esses aparelhos reposicionam a mandíbula e a língua para manter as vias aéreas abertas. A colaboração entre dentistas e médicos do sono é fundamental para garantir a adequação e eficácia desses dispositivos.
  4. Terapias comportamentais e de estilo de vida: Psicólogos e terapeutas comportamentais ajudam os pacientes a adotar hábitos de sono saudáveis, gerenciar o estresse e tratar problemas subjacentes à saúde mental que possam estar contribuindo para a apneia. Mudanças no estilo de vida, como perder peso, evitar álcool e sedativos, e ajustar a posição do sono, também são recomendadas. Nutricionistas e fisioterapeutas colaboram para desenvolver planos de dieta e exercícios personalizados para cada paciente.
  5. Gerenciamento de comorbidades: A apneia do sono frequentemente coexiste com outras condições de saúde, como hipertensão, diabetes e doenças cardíacas. Cardiologistas e endocrinologistas trabalham em conjunto com outros membros da equipe de saúde para gerenciar essas comorbidades, garantindo um tratamento holístico que aborda todas as necessidades do paciente.

Uma abordagem multidisciplinar oferece vários benefícios significativos:

  • Tratamento personalizado: Cada paciente recebe um plano de tratamento personalizado que aborda suas necessidades específicas, aumentando a eficácia do tratamento.
  • Melhor adesão ao tratamento: A colaboração entre diferentes especialistas ajuda a monitorar e ajustar os tratamentos conforme necessário, melhorando a adesão do paciente.
  • Redução de complicações: Ao abordar todas as causas e sintomas da apneia do sono, a abordagem multidisciplinar reduz o risco de complicações a longo prazo.
  • Melhoria da qualidade de vida: Pacientes tratados de forma eficaz experimentam melhorias significativas na qualidade do sono, na saúde geral e no bem-estar, resultando em uma melhor qualidade de vida.

A apneia do sono é um distúrbio complexo que requer uma abordagem abrangente e colaborativa para um tratamento eficaz. Uma equipe multidisciplinar de profissionais da saúde pode abordar todos os aspectos do distúrbio, desde o diagnóstico até o gerenciamento de comorbidades, proporcionando aos pacientes os melhores resultados possíveis. Adotar essa abordagem não só melhora a qualidade do sono e a saúde geral dos pacientes, mas também transforma suas vidas, permitindo-lhes desfrutar de uma vida mais saudável e produtiva.


*Talita Salles é fisioterapeuta especialista em sono, diretora de Marketing e Vendas e cofundadora da Biologix.

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