AFIP avança na implantação de plataforma unificada de dados
A AFIP – Associação Fundo de Incentivo à Pesquisa deu este ano mais um passo importante para a construção da digitalização dos dados dos pacientes na plataforma eHealth, realizada dentro de uma parceria com a Siemens Healthineers. Até o momento, foram inseridas informações de 200 mil pacientes. Em 2024, este número deverá chegar a dois milhões de vidas. A solução permite que cada paciente seja identificado de forma única dentro do sistema de saúde. Todos os seus dados clínicos são conectados – como os resultados de exames laboratoriais, diagnósticos por imagem, informações como altura, peso, atividades físicas e hábitos. As patologias poderão ser acompanhadas e monitoradas. Assim o médico terá uma visão integrada do paciente devido à interoperabilidade de dados que a solução proporciona.
O projeto da AFIP tem potencial de ser um dos maiores do mundo em gestão populacional com o uso da plataforma. Há mais de dez anos, a Afip Medicina Diagnóstica, uma das marcas da AFIP, é o maior laboratório de análises clínicas da rede ambulatorial do Sistema Único de Saúde (SUS), respondendo por 8% da produção ambulatorial do Brasil e 26% do estado de São Paulo.
Para Roberta Siufi, vice-presidente de Pessoas, Operações e Supply da AFIP e uma das idealizadoras do projeto, esse “é um modelo que vai contribuir com o sistema de saúde, possibilitando diagnósticos mais precisos, redução de consultas e exames adicionais e um tratamento mais assertivo e humanizado”.
Inspiração europeia
Hoje um dos grandes problemas dos sistemas de saúde no Brasil e no mundo é a falta de dados. O paciente é atendido por diversas instituições – como clínicas, hospitais, laboratórios –, cujas informações não são compartilhadas entre si. A situação gera enormes filas para exames e consultas, além de um enorme desperdício de recursos, como a duplicação de exames, interpretação incorreta de informações do paciente, erros no diagnóstico, etc.
A Áustria foi um dos países que desenvolveu um sistema de saúde, que abriga os dados dos seus nove milhões de habitantes. Implantado por força de lei, o Registro Eletivo em Saúde Nacional (conhecido por ELGA) usa há 11 anos a plataforma que armazena as informações de cada cidadão, oriundas dos serviços de atenção básica, secundária e primária, que podem ser consultadas por profissionais de saúde e pacientes.
A medida reduziu em 73,3% o tempo de espera em filas e em 13,3% o não comparecimento em consultas e exames. Também diminuiu o tempo de pesquisa de dados clínicos de 40 minutos para sete minutos. Com a implantação, a satisfação dos pacientes com o sistema de saúde aumentou 40%.
A plataforma permite armazenar o histórico médico, com consultas, exames, doenças pré-existentes. Graças à interoperabilidade do sistema, dados de diferentes fontes são integrados, dando uma visão única e centrada do paciente. O processo é realizado com segurança, sigilo, praticidade e informações abrangentes acessíveis aos médicos. Assim, antes de atender o paciente, o profissional de saúde pode acessar seu prontuário e fazer um diagnóstico mais assertivo.
O eHealth possui três portais: do Médico, da Gestão Populacional e do Paciente. O primeiro traz um sumário com as informações do paciente – prontuário, exames de laboratórios, devices de monitoramento (cardíaco, movimento e controle de peso por exemplo). O segundo dá um panorama do conjunto de pacientes atendidos, permitindo ao profissional de saúde cruzar dados, acompanhar o grupo e avaliar possíveis desfechos clínicos. “Neste momento, inclusive, estamos aprendendo e desaprendendo o que são os modelos de saúde, a fim de ressignificar esses modelos”, afirma Roberta Siufi. O terceiro possibilita ao paciente acessar e controlar suas informações de saúde.
Para a vice-presidente da AFIP, um dos desafios deste projeto é a governança de dados. “O gestor precisa entender quem é o dono dos dados, com quem irá compartilhar as informações e com quais objetivos”, declara. Outra questão importante é incentivar a mudança de comportamento da população, tendo em vista que a Medicina caminha cada vez mais para o atendimento remoto em casos leves, a fim de deixar os hospitais atenderem os casos críticos. Por fim, entende que é preciso coragem para quebrar eventuais barreiras que surjam no meio do caminho.