Jornada Paulista debate diagnóstico precoce da Doença de Alzheimer
A 5ª edição da Jornada Paulista da Doença de Alzheimer se propõe a evidenciar a necessidade de um diagnóstico precoce para que se estabeleça novos critérios no tratamento. A ciência já concluiu que os processos neurodegenerativos podem se iniciam até duas décadas antes das primeiras manifestações clínicas como o caso da Doença de Alzheimer. Algumas vezes começam a se manifestar com sintomas diferentes das clássicas dificuldades de memória.
Com o tema ‘Diagnóstico Precoce – Novas Fronteiras, Novas Possibilidades’, a Associação Brasileira de Alzheimer – Regional São Paulo (ABRAz-SP) se coloca no papel de trazer para o centro da discussão os novos conhecimentos sobre a demência. A 5ª Jornada Paulista da Doença de Alzheimer busca levar informação de forma abrangente e gratuita aos profissionais de saúde, familiares e cuidadores de pacientes com demência. “Traremos à baila, todos os aspectos do diagnóstico, mais especificamente do diagnóstico precoce, abordando os conceitos, exames, os desafios do cenário atual”, afirma a presidente da ABRAz-SP e médica geriatra, Celene Queiroz Pinheiro de Oliveira.
Em decorrência de um diagnóstico precoce, os progressos de entendimento e lida com a doença ganharam novos contornos. Como o paciente ainda preserva a cognição e entendimento da doença, questionamentos sobre o tratamento tornam-se relevantes. “Nestes casos o paciente não pode ser tratado como coadjuvante pela família ou justiça. Ele tem autonomia para as decisões sobre o próprio futuro”, diz Celene.
Evento
A jornada, que ocorrerá em 17 de setembro, sábado, das 8 às 12 horas, no formato on-line, será dividida em duas salas com palestras. A sala interdisciplinar irá abordar os aspectos éticos ao apresentar o diagnóstico ao paciente e a família e ainda a maneira mais apropriada de se planejar o tratamento, considerando questões jurídicas, trabalhistas, financeiras e emocionais. Já a sala exclusiva para médicos trará inovações e conhecimento científico – fruto de estudos e pesquisas para entender como a Doença de Alzheimer se desenvolve. A aula inaugural trará conceitos sobre: como, quando e para que se busca o diagnóstico precoce de Doença de Alzheimer com o médico neurologista norte-americano, Kirk Daffner, do Centro de Neurociências de Boston (MA) autor de livros como Improving Memory: Understanding Age-related Memory Loss (Melhorando a Memória: Entendendo a Perda de Memória Relacionada à Idade).
A pergunta: “Cognição ou comportamento? Quais são os sintomas iniciais da doença de Alzheimer” será o tema que o médico neurologista, Fabricio Ferreira de Oliveira, irá debater com os participantes no evento.
‘As barreiras para o diagnóstico precoce no Brasil’ será o tema que o médico neurologista, professor titular da Faculdade de Medicina da UFMG e coordenador do Conselho Consultivo da ISTAART |(The Alzheimer’s Association International Society to Advance Alzheimer’s Research and Treatment), Paulo Caramelli, irá abordar na terceira palestra do dia.
Os médicos Artur Coutinho (especialista em medicina nuclear) e Lucas Francisco Botequio Mella (psiquiatra) irão esclarecer sobre a importância dos dados biomarcadores identificáveis em exame de imagem e sangue na investigação diagnóstica.
Encerra as atividades da sala dos médicos a palestra ‘Aspectos psicológicos do diagnóstico precoce’, com a psicóloga e ex-presidente da ABRAz, Fernanda Gouveia, que discutirá os pontos positivos e negativos do diagnóstico precoce como aceitação e o sofrimento psicológico a que paciente e família ficam expostos.
A Jornada trará, ainda, questões éticas que envolvem o médico, paciente e familiar como: a revelação do diagnóstico: para o paciente ou só para a família?, como informar de forma clara sem alarmismo e preconceitos. “Com o diagnóstico precoce, o paciente passa a ser protagonista, como ele deseja que o seu tratamento seja feito, como quer que sua vida financeira seja conduzida, questões legais de herança, e detalhes do cotidiano podem ser pensados enquanto houver cognição”, diz Celene.
A programação completa pode ser acessada aqui com os detalhes de cada palestra e palestrante e as inscrições podem ser realizadas por este canal.
O princípio da Doença de Alzheimer
Os primeiros sinais da Doença de Alzheimer e outras patologias neurodegenerativas podem ser alterações de comportamento ou transtornos de humor. “Conhecendo melhor as marcas registradas (biomarcadores) dessas doenças e a partir delas foram estabelecidos novos critérios diagnósticos”, diz o médico neurologista e diretor científico da ABRAz-SP, Fábio Henrique de Gobbi Porto.
Ele explica que o depósito de proteínas específicas como a β-amiloide e tau podem ser notados no tecido cerebral através de exames de cintilografia, as mesmas proteínas podem ser dosadas no líquor e outros fluidos como sangue e saliva. “A ação do depósito dessas proteínas no tecido cerebral leva a atrofia de determinadas áreas cerebrais e são detectadas em exames de imagem como a ressonância”.
Medicamento
Tomando por base novos conceitos de diagnóstico, novas drogas começaram a ser desenvolvidas e pela primeira vez visando impedir ou conter os processos responsáveis pela neurodegeneração.
A primeira droga com ação modificadora da doença de Alzheimer, o aducanumabe, foi aprovada em caráter emergencial pelo FDA (agência estadunidense que regulamenta medicamentos e alimentos), sob grande polêmica. No Brasil, a ANVISA barrou a chegada da medicação no início deste ano. “No entanto, outras tantas estão em vias de terem seus estudos divulgados e prontamente serão submetidas a análise dos órgãos competentes”, diz Celene.
Processos
O vice-presidente da ABRAz-SP, o médico geriatra Jean Pierre de Alencar, ressalta que há uma avidez por soluções melhores com relação às demências, pois o último lançamento para o tratamento da doença de Alzheimer ultrapassa 20 anos.
Contrapõe-se ao tempo de estudo do Alzheimer para novas drogas e soluções, as estimativas com a incidência da doença no mundo. As condições são alarmantes. As estimativas é possível ter cerca de 50 milhões de pessoas acometidas no mundo com perspectivas de triplicar até 2050″, relata Jean Pierre.
Dados do relatório da Alzheimer’s Disease International (ADI) apontam que o Alzheimer representa a sétima causa de mortalidade globalmente e uma das mais longas e de alto custo. “E o mais preocupante, esses números tendem a ser ainda maiores nos países com baixo desenvolvimento socioeconômico” diz Jean Pierre.
A ADI estima que apenas 25% dos casos de demência são diagnosticados. Em países de baixo desenvolvimento, o número representa menos de 10%, mostrando a importância de se falar sobre assunto e alertar a população, pois dados do mesmo relatório mostram que duas em cada três pessoas ainda acham que o declínio cognitivo seja natural do envelhecimento – isso mesmo entre os profissionais de saúde.