Dificuldade de acesso é entrave para Radioterapia em câncer de pulmão
Em algum momento do planejamento terapêutico, seis entre dez pacientes com diagnóstico de câncer recebem a indicação de radioterapia. Em câncer de pulmão, a radioterapia – que é um dos três pilares do tratamento oncológico (ao lado da cirurgia e terapia sistêmica) – pode ser indicada com proposta curativa ou paliativa, a depender de fatores como a fase de descoberta e extensão da doença e disponibilidade das diferentes técnicas na Saúde Suplementar e no Sistema Único de Saúde (SUS), com mais gargalos na rede pública, alerta a Sociedade Brasileira de Radioterapia (SBRT), em alusão ao Agosto Branco, campanha de conscientização sobre câncer de pulmão.
O tipo mais comum de câncer de pulmão é o de não pequenas células, que responde por mais de 80% dos tumores malignos do pulmão, se dividindo nos subtipos adenocarcinoma e carcinoma espinocelular. Dependendo do estadiamento (estágio de diagnóstico da doença) a radioterapia pode ser administrada com diferentes finalidades.
A Radioterapia pode ser o tratamento principal nos casos em que o tumor não pode ser removido cirurgicamente devido ao seu tamanho ou localização, ou ainda se o estado geral de saúde do paciente não permite a realização da cirurgia. Outras possibilidades são:
– Radioterapia adjuvante, ou seja, após a cirurgia: com o objetivo de destruir as células remanescentes após o procedimento cirúrgico.
– Radioterapia neoadjuvante, ou seja, antes da cirurgia: para tentar reduzir o tamanho do tumor e tornar mais fácil a remoção cirúrgica.
– Radioterapia para tratamento de metástases: para frear a disseminação da doença, por exemplo, para o cérebro ou osso, que são os principais focos de metástase dos tumores originados no pulmão.
– Radioterapia como tratamento paliativo: nos casos no qual não há mais a proposta curativa. É feito para aliviar sintomas provocados pelo câncer de pulmão em estágio avançado, como dor, sangramento, dificuldade na deglutição, tosse e problemas causados por metástases cerebrais.
Erick Rauber, radio-oncologista e membro da diretoria de comunicação da Sociedade Brasileira de Radioterapia (SBRT), explica que há diferentes técnicas de Radioterapia para o tratamento de pacientes com diagnóstico de câncer de pulmão, como a estereotáxica corpórea (SBRT), conformada tridimensional e radioterapia de intensidade modulada (IMRT). “A utilização de um ou outra vai depender do perfil clínico do paciente e biológico do tumor e o maior impeditivo, infelizmente, é a falta de disponibilidade da maioria delas por parte dos planos privados e no sistema público”, afirma.
– Radioterapia Estereotáxica Corpórea (SBRT): É utilizada para tratar cânceres de pulmão em estágios iniciais, quando a cirurgia não é uma opção devido a outros problemas de saúde do paciente. Ao contrário de outras técnicas de radioterapia, na estereotáxica é administrada uma alta dose de radiação, desde vários ângulos, diretamente no volume alvo.
– Radioterapia conformacional tridimensional: A radioterapia conformacional 3D está baseada no planejamento tridimensional, permitindo concentrar a radiação na área a ser tratada e reduzir a dose nos tecidos normais adjacentes. Dessa forma, o tratamento é mais eficaz, com poucos efeitos colaterais, diminuindo as complicações clínicas e melhorando a qualidade de vida dos pacientes.
– Radioterapia de intensidade modulada (IMRT): É uma evolução da radioterapia conformacional 3D, na qual o equipamento se move em torno do paciente, enquanto libera a radiação. Essa técnica é usada, na maioria das vezes, para tumores localizados próximos a estruturas importantes, como a medula espinhal.
SUS x Saúde Suplementar
Modalidades como Radioterapia Estereotáxica Corpórea e Radioterapia de intensidade modulada (IMRT), por exemplo, estão longe de ser uma realidade no SUS. Por sua vez, na Saúde Suplementar, a boa notícia foi a decisão anunciada nesse mês de agosto, pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) de incorporação de radioterapia de intensidade modulada (IMRT) para tratamento de neoplasias de tórax (câncer de pulmão, mediastino e esôfago). Já a Radioterapia Estereotáxica Corpórea, assim como no SUS, também não está inclusa no Rol da ANS.
A nota técnica de recomendação da ANS para a radioterapia de IMRT apontou que o uso amplo e consolidado desta técnica, assim como seus benefícios para redução da toxicidade de curto e longo prazo relacionada à radiação, foi francamente corroborado por especialistas e outros interessados, que reforçam a importância da incorporação de uma técnica mais segura para o paciente e da ampliação das opções de radioterapia disponíveis no Rol. Antes desta decisão, a radioterapia de IMRT estava no rol de procedimentos da agência apenas para tumores de Cabeça e Pescoço.
Câncer de pulmão em números – No Brasil, segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA) o câncer de pulmão é o terceiro mais frequente entre homens e o quarto mais comum entre as mulheres, com estimativas de 32.560 novos casos em 2023, sendo 18.020 entre homens e 14.540 em mulheres. De acordo com o Atlas de Mortalidade por Câncer – SIM, em 2020 foram registradas 28.620 mortes por câncer de pulmão no Brasil. No mundo, são 1,8 milhão de mortes anuais (o mais letal de todos, respondendo por 18,4% de todas as mortes por câncer), segundo o levantamento Globocan, da Agência Internacional para Pesquisa do Câncer da Organização Mundial da Saúde (IARC/OMS).