Um novo olhar para a gestão do setor de Diagnóstico por Imagem

Por Luis Arís

A consolidação de empresas do setor de saúde brasileiro atinge, em 2023, um novo momento. Em 2021 aconteceram 49 transações entre players de saúde e em 2022 essa marca chegou a 53 operações de M&A. Uma característica dessa fase do mercado é que a maior parte das aquisições ficou na faixa dos bilhões de reais. Segundo estudo da consultoria Kroll, o Brasil verá em 2023 um número menor de operações envolvendo, principalmente, investimentos de milhões de reais.

Para vários operadores de serviços de saúde, o foco atual é na integração entre as pessoas, os processos e os sistemas das empresas surgidas com as aquisições dos anos anteriores. É hora de realizar ajustes customizados para garantir o melhor tratamento para o paciente e a maior lucratividade para os acionistas.

Trata-se de uma tarefa desafiadora. Até mesmo os 5 melhores hospitais privados brasileiros segundo a edição 2023 do ranking global Newsweek – as instituições Albert Einstein, Sírio Libanês, Oswaldo Cruz, Santa Catarina e Moinhos de Vento – têm de balancear custos e ganhos para cumprir sua missão. Um dos diferenciais desses centros de excelência é o uso de avançadas e caras soluções de processamento de imagens para realizar uma medicina preventiva e não invasiva.

Exame de imagem, como o nome indica, é um procedimento médico que possibilita a visualização das partes internas do corpo humano por meio de elementos imagéticos. Isso permite que os profissionais avaliem o paciente internamente, sem a necessidade de cirurgias exploratórias ou outros métodos invasivos. Trata-se de um caminho sem volta: estudo da Grand View Research de dezembro de 2022 revelou que o mercado de imagens médicas (hardware, software e serviços) chegou a US$ 32,3 bilhões nesse ano e, até 2030, deverá atingir a marca de US$ 47,4 bilhões. Esse relatório mapeou tendências de 21 países, incluindo o Brasil, o mercado com o maior crescimento em diagnóstico baseado em imagens na América Latina. A prevalência de doenças relacionadas ao estilo de vida, a maior demanda por ferramentas de detecção precoce, e os avanços tecnológicos para melhorar a recuperação do doente estão por trás da intensificação de uso de sistemas de diagnóstico por imagem.

Precisão em processos médicos e de negócios

Para os hospitais, essa área é ao mesmo tempo um grande centro de custo e um grande gerador de riquezas. Um estudo da Beckers Hospital Review realizado em 2012 revela que as receitas anuais por leito de UTI ligadas à geração de imagens têm valor médio de 370.000 dólares (cerca de R$ 1.700.00,00). O mesmo relatório aponta que a expectativa é que pacientes com 65 anos ou mais, que tendem a se submeter a procedimentos de diagnóstico por imagem duas vezes mais do que o restante da população, sigam impulsionando o crescimento no volume de tratamentos baseados em imagem.

É importante destacar que o papel das imagens médicas vai muito além da observação visual das estruturas anatômicas. É necessário segmentar, extrair e analisar quantitativamente áreas de interesse como estruturas anatômicas e áreas de lesão. Essa tecnologia é usada adicionalmente em registro de imagens, reconstrução 3D, simulação cirúrgica, navegação intraoperatória, planejamento de radioterapia, rastreamento da progressão de doenças e cirurgia assistida por computador, entre muitas inovações.

Ao longo dos últimos 20 anos, os avanços na tecnologia de aquisição de imagens – como Tomografia Computadorizada (TC) multi-slice, Tomografia por Emissão de Fótons (PET) digital, Ressonância Magnética (MRI) paralela, ou tecnologia de transdutores de Ultrassom (US) – passaram a gerar imagens com maior resolução, algo crítico para o médico.

A missão de garantir a continuidade do processamento de imagem

O outro lado deste contexto é que o processamento de imagens médicas é baseado em grandes volumes de arquivos pesados, que exigem muito da infraestrutura tecnológica do hospital, clínica ou laboratório. Isso é ainda mais problemático para os grupos brasileiros que se consolidaram nos últimos anos, com sites espalhados por diferentes locais geográficos e uma mesma demanda por continuidade de serviço permeando todos os pontos da instituição.

Inadequações na base de tecnologia e de redes do hospital, somadas a outros fatores de risco, podem levar ao downtime do sistema de processamento de imagens. Um estudo realizado pelo Ponemon Institute em 2016 estima que o custo médio de uma indisponibilidade do serviço é de 7.900 dólares por minuto (algo como R$ 37.000,00).

Uma rede ruim, instável ou mal gerida pode levar à inatividade do sistema. A perda mais crucial que pode surgir de uma indisponibilidade ou de um colapso do sistema de imagens é colocar em risco vidas humanas. Trinta e dois por cento dos radiologistas classificaram a continuidade e a funcionalidade desses sistemas como sua maior prioridade. Seu foco é ter acesso a RIS (Sistema de Informação Radiológica) muito variados. As imagens que suportam o trabalho dos médicos radiologistas, que frequentemente atuam em conjunto com outros especialistas, são geradas por dispositivos como raios X, MRT, ultrassom ou endoscopias de vídeo. Em geral as imagens são armazenadas em PACS (Arquivamento de Imagens e Sistema de Comunicação), um servidor dedicado que tanto pode estar on-premises como na nuvem.

Tecnologias médica e de informação entrelaçadas

A maior parte dos equipamentos de processamento de imagens são tecnologias proprietárias que, no entanto, requerem uma infraestrutura de TI clássica para se comunicar entre si e com outros sistemas médicos. Esta infraestrutura cuida da transferência de dados e fornece o hardware para o funcionamento do sistema. Para isso, são necessários cabos, switches, servidores e sistemas de armazenamento, bem como WIFI e seus pontos de acesso.

Tudo isso faz da gestão dos sistemas de processamento de imagem uma tarefa complexa, que envolve múltiplos protocolos e tecnologias diferentes compartilhando uma rede distribuída. A solução para esse dilema pode ser uma plataforma de monitoramento que entregue uma visão preditiva tanto sobre a disponibilidade e os status dos sistemas médicos como dos dispositivos tradicionais de TI. Essa inteligência é projetada em único painel que, quando necessário, pode ser “explodido” em interfaces específicas de monitoramento que chegam a minúcias do funcionamento de cada componente do ambiente hospitalar.

A medicina depende cada vez mais de sistemas de imagem para conquistar precisão e eficácia. Essa jornada exige um novo olhar do gestor hospitalar sobre esse universo. Fica para trás o controle pontual de um equipamento ou um software, e entra em cena uma visão multiprotocolo e espalhada geograficamente que parte da abordagem macro para chegar no detalhe. Com essa abordagem ganha o paciente, ganha o médico, ganha o grupo de Saúde e, principalmente, ganha o Brasil.


*Luis Arís é Gerente de Desenvolvimento de Negócios da Paessler LATAM.

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