Apoio à carreira é fundamental na formação dos médicos do futuro
Por Beatriz Balena e Wagner Salles
De acordo com o último estudo Demografia Médica no Brasil, conduzido pelo Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), em janeiro deste ano havia mais de 562 mil médicos inscritos no país. Somente nos últimos 13 anos, mais de 250 mil novos médicos passaram a atuar no Brasil, resultado da abertura de cursos e vagas de graduação em medicina.
Até 2035, há uma projeção de mais de um milhão de médicos registrados, segundo o mesmo levantamento, com uma tendência à predominância das mulheres. Olhando para as escolas de medicina, o movimento é semelhante: até 2019, mais de 60% dos ingressantes nas faculdades da área foram mulheres.
Outro fator importante do relatório diz respeito à densidade de médicos. Enquanto as capitais concentram 6,13 profissionais por mil habitantes, nos municípios do interior essa razão é de apenas 1,84. Ainda sobre a demografia na formação médica, o percentual de ingressantes por programas de reserva de vagas na categoria de cunho social/renda familiar passou de 6,8% em 2010 para 21% em 2019. Além disso, mais de 85% destes médicos terão até 45 anos em 2035, projeção relevante para avaliarmos o perfil futuro da categoria. Isso significa que os jovens recém-formados, bem como aqueles que estão ingressando no curso atualmente, comporão a maior parcela destes profissionais até 2035. Os dados apontam para uma série de desafios a serem enfrentados na carreira médica desde a formação, que podem ser superados com programas e iniciativas de apoio profissional para os estudantes.
A jornada universitária é muito mais do que apenas a obtenção de um diploma; é uma experiência que moldará como as pessoas serão como médicos e também como cidadãos.
Em linhas gerais, há uma tendência no aumento da participação das mulheres, maior demanda nas regiões interioranas e nas especialidades de atendimento à comunidade e emergência, além de um potencial aumento na formação de jovens médicos com apoio governamental. Essas constatações tornam a carreira médica um alvo de programas de desenvolvimento e preparação com vistas à melhor adaptação destes profissionais ao cenário do mercado de trabalho projetado.
Diante disso, precisamos questionar: os estudantes estão preparados em termos de planejamento financeiro? Estão conscientes sobre as oportunidades fora das capitais e regiões metropolitanas? Consideram a compatibilidade entre a especialidade a seguir e o projeto de vida pessoal que desejam alcançar? Estão capacitados para lidar com as demandas sociais, como atendimento à comunidade e unidades de emergência? Estão preparados para lidar com dupla ou tripla jornada nesta trajetória de formação e ingresso no mercado de trabalho?
Essas e outras dúvidas precisam fazer parte de um programa de apoio à carreira na Medicina, se desejarmos profissionais mais qualificados e adaptados às necessidades do país.
Sem falar na melhor perspectiva de carreira, como, por exemplo, a minimização de dívidas financeiras. É comum o testemunho de médicos já atuantes sobre a falta de apoio à carreira que experimentaram durante a formação, o que acarretou tempo perdido, dinheiro mal investido e muitos conflitos pessoais e psicossociais vivenciados.
Pensando nisso, as universidades públicas e privadas do país precisam estruturar iniciativas de desenvolvimento de carreira durante a formação dos médicos do futuro, de modo a orientar e apoiar as tomadas de decisão que envolvam a construção de um projeto de vida alinhado à formação e à atuação na área.
Com o suporte de profissionais especializados, os alunos precisam ser provocados a refletir sobre a trajetória que os levou até a escolha pelo curso, a identificação dos principais estímulos individuais de carreira, a construção do projeto de vida que desejam alcançar e o mapeamento estratégico de pontos positivos e negativos que podem interferir na trajetória profissional.
Desta forma, a carreira médica pode ser construída com maior adaptabilidade ao cenário de saúde do país, proporcionando aos estudantes uma trajetória com menos impactos negativos e mais racionalidade na tomada de decisão. Só assim teremos futuros profissionais não só tecnicamente aptos a lidar com os problemas reais e as necessidades de saúde da população, mas conscientes do seu papel social enquanto médicos e protagonistas de suas próprias jornadas.
*Beatriz Balena é Reitora da Universidade Veiga de Almeida e Wagner Salles é Sponsor de Carreiras da Universidade Veiga de Almeida.