Mais de 60% dos pacientes com câncer no Brasil são diagnosticados tardiamente
Mais da metade dos casos de câncer do Sistema Único de Saúde (SUS) iniciam seus tratamentos já nos estágios avançados ou metastáticos. É o que mostram os dados do Ministério da Saúde, compilados e analisados pelo Instituto Oncoguia, organização sem fins lucrativos que atua na defesa dos direitos dos pacientes com câncer. Todas as informações estão disponíveis na plataforma Radar do Câncer, mantida e atualizada pela instituição.
Considerando dados levantados entre 2008 e 2021, o SUS atendeu cerca de 2,7 milhões de pacientes com câncer, com uma média de 192 mil novos casos por ano. Ainda que o sistema público tenha conseguido expandir sua rede de cuidado e abarcar cada vez mais pessoas no tratamento oncológico, esse atendimento vem sofrendo atrasos e um baixo investimento, o que impacta diretamente no prognóstico dos pacientes.
Nos 13 anos de dados disponíveis, em média, 58% dos pacientes iniciam seus tratamentos (quimioterápico e/ou radioterápico) com o câncer nos estágios avançados ou metastáticos. O estadiamento refere-se a avaliação da extensão da doença. A necessidade de se classificar os casos de câncer em estágios baseia-se na constatação de que as taxas de cura são diferentes quando a doença está restrita ao órgão (inicial), quando está no órgão e em linfonodos regionais (localmente avançado) ou quando já está disseminado para outros órgãos (avançado/metastático).
As taxas de diagnósticos tardios vêm aumentando. Em 2008, 53% dos pacientes iniciaram o tratamento em estágio avançado. Em 2021, esse número foi de 62%, um aumento de nove pontos percentuais.
Na distribuição por sexo, os homens são os que têm diagnósticos mais tardios: 67,2% iniciam tratamentos com tumores mais avançados, contra 59,4% das mulheres.
Entre os obstáculos que dificultam a detecção precoce da doença estão a dificuldade de acesso e demora no agendamento de consultas e exames, a falta de informação sobre sintomas e diagnóstico do câncer. “São falhas na estratégia de atenção ao câncer que podem significar um impacto gigantesco na sobrevida daquele paciente. O câncer precisa ser mais priorizado, o que, na prática, significa termos programas e políticas mais efetivas que garantam de verdade o acesso a um cuidado atual, integral e efetivo para os pacientes”, ressalta Luciana Holtz, presidente e fundadora do Oncoguia.
No câncer de pâncreas, por exemplo, em que o diagnóstico em estadiamento avançado ocorre em 85% dos casos, a taxa de sobrevida após cinco anos do diagnóstico tardio é inferior a 5%. Com o diagnóstico precoce, de acordo o Instituto Nacional de Câncer dos Estados Unidos, a taxa de sobrevida em cinco anos salta para 43,9%.
Dados regionais
O Radar do Câncer também diferencia as informações de estadiamento por região e estado brasileiro.
De acordo com os dados referentes ao período de 2019 e 2021, 59% dos pacientes oncológicos foram diagnosticados tardiamente em São Paulo. O estado com o pior cenário é o Acre, com 80,5% dos novos pacientes iniciando tratamento em estadiamento localmente avançado ou metastático.
Em contrapartida, o estado com o melhor cenário é o Amapá, com 26,7% dos novos casos sendo diagnosticados tardiamente.