Asap: Saúde populacional precisa ser prioridade para empresas e governo
De acordo com dados Observatório Anahp (Associação Nacional de Hospitais Privados) 2023, só em 2022, empresas e famílias gastaram cerca de R$ 253,05 bilhões para custear planos de assistência médico-hospitalares em e R$ 267,95 bilhões com atendimentos particulares. Esse cenário demonstra a importância de investir em saúde preventiva e, cada vez mais, na gestão de saúde.
O VII Fórum Asap reuniu grandes nomes do setor da saúde nacional e internacional para discutir temas relacionados ao bem-estar da população. Para o presidente da Asap (Aliança para Saúde Populacional), Cláudio Tafla, o encontro é essencial para alinhar o futuro da gestão de saúde populacional no Brasil. “Foi um momento de discussão para melhorar a gestão de saúde populacional no país e é importante ver essa discussão sendo feita por todas as entidades representativas da cadeia de valor da gestão de saúde a respeito de avanços no futuro”.
Para falar sobre o futuro da saúde foram convidados o gerente de saúde da Amazon, Jacson Barros, apresentou “Tendências e Futuro da Gestão de Saúde Populacional”, e o gerente do Google, Maurício Craveiro Hauptmann, mostrou “Novas tecnologias em GSP”. Para Barros, é preciso ter o cuidado de olhar o indivíduo e ver toda sua jornada e existem três pontos principais a serem colocados como tendências no setor: interoperabilidade de dados, cloud computing e inteligência artificial. “A interoperabilidade é a capacidade de diferentes sistemas de informação, dispositivos e aplicados se conectarem, de maneira coordenada, de modo a garantir que pessoas, organizações e sistemas computacionais interajam para trocar informações de maneira eficaz e eficiente”, explica e lembra que a tecnologia pode ser usada em prol da equidade de acesso na saúde brasileira. “Garantir um atendimento completo é um desafio de todos, não só da saúde. É momento de abraçar as novas tendências para cuidar da saúde da população”, finalizou o gerente de saúde da Amazon.
Ao recepcionar o painel “Como promover equidade em acesso a partir de modelos de saúde populacional que contemplem estratificação de risco de pacientes”, Tafla destacou que o principal desafio dos sistemas de saúde atualmente é acolher a população idosa. “E a resposta dessa pergunta está na garantia de três pilares: equidade, igualdade e acessibilidade”, garantiu. Os diretores da Asap Fábio Gonçalves e Ricardo Ramos também participaram da programação do Fórum, na mediação de debates, como em “Programas de saúde sustentáveis: nutri-economia em foco”, em que Gonçalves guiou as discussões sobre as necessidades de mudanças no sistema de saúde, sejam financeiras ou na conduta do paciente oncológico, que deveria ter o controle nutricional desde o início do tratamento.
Já no bloco sobre “estratégias de engajamento e recompensa em programas de saúde”, mediado por Nathália Nunes, da Prontmed, a gerente de atendimento integral a saúde da Petrobrás, Elisabeth de Melo, destacou que o principal desafio é captar os trabalhadores, principalmente os que enfrentam sedentarismo e obesidade, para pensarem em saúde. Por isso, a empresa iniciou programas de “gincanas contra o sedentarismo” em que, por exemplo, as pessoas tinham que se juntar e caminhar em pedômetros espalhados pela empresa. “O programa foi um sucesso e contou com grande adesão dos trabalhadores. Era comum ver as pessoas andando por toda a empresa para bater a meta”, conta Elisabeth. Já Eduardo Marques, da gestão de saúde corporativa do Grupo Fleury, chamou a atenção para a importância da comunicação e de se criar estratégias e até trocar equipes para atingir esse objetivo. “Construímos uma marca, falamos sobre os cuidados com a saúde, seja ocupacional, seja físico”. Desde então, o grupo liderado pelo especialista passou a usar pessoas-chave, como médicos, para falar com o trabalhador. “Fizemos isso, para que nosso colaborador entenda que sua saúde e seu bem-estar são metas do nosso programa”, apontou.
Os trabalhos sobre Wellness foram guiados por Rita Laert, da Associação Brasileira de Qualidade de Vida, que lembrou o crescimento da busca pelo bem-estar no período pós-pandemia. A palestrante Sley Guimarães, fundadora do Colégio Brasileiro de Medicina do Estilo de Vida, afirmou que um estilo de vida saudável poderia reduzir 93% dos casos de diabetes e 81% dos casos de infarto, além de evitar doenças psicológicas e deu três sugestões para as empresas investirem em saúde:
- Treinamento de lideranças com ações voltadas para todos;
- Educação em saúde;
- Sensibilização para a mudança com ativação de comportamentos saudáveis.
No painel sobre os “Rumos da saúde brasileira”, o destaque foi para números atualizados do Ministério da Saúde que confirmam um aumento no número de brasileiros com câncer, provocado, inclusive, pela longevidade da população, a importância do tratamento precoce e como a telessaúde pode ajudar a oferecer um tratamento mais humanizado para o paciente. Segundo o coordenador-geral da Política Nacional de Prevenção e Controle do Câncer do Ministério da Saúde, Fernando Maia, entre 2023 e 2025 a expectativa é de que sejam registrados 704 mil novos casos de câncer por ano. Atualmente, a doença é a segunda causa de morte no país, entre adultos de 30 a 69 anos de idade, mas, em 2030, pode se tornar a primeira. Para mudar esse cenário, “é preciso reduzir os fatores de risco, realizar o diagnóstico precoce, incorporar novas tecnologias, avaliar os desfechos desses tratamentos e definir novos modelos de atenção ao câncer”, sugeriu Maia.
O professor de medicina da USP, Chao Lung Wen, destacou que o envelhecimento da população não só aumenta as chances de doenças crônicas como também do câncer, por isso a importância da prevenção. “Criar uma rede de cuidados integrados é essencial para isso”. E o especialista também lembrou que investir em tecnologia é necessário para atingir bons resultados nesse sentido, como a telessaúde e ferramentas de inteligência artificial. “O diagnóstico de câncer mexe como o emocional, assim é preciso oferecer um tratamento integrado. A telessaúde é o melhor recurso para isso, inclusive, oferecendo uma atenção de forma humanizada”, comentou. Para Chao, a “tecnologia não desumaniza, quem desumaniza são pessoas pouco humanas”.