A.C.Camargo desenvolve estudo para ampliar tratamento de câncer de pâncreas
O grupo de imuno-oncologia translacional do Centro Internacional de Pesquisa (CIPE) do A.C.Camargo Cancer Center, Tiago Medina, Gabriela Kinker e equipe, publicaram um artigo científico que pretende de ampliar as opções terapêuticas para pacientes com câncer de pâncreas. O objetivo do estudo é dar uma nova perspectiva sobre o papel do sistema imune durante o tratamento de tumores de pâncreas.
O estudo, denominado “Mature tertiary lymphoid structures are key niches of tumour-specific immune responses in pancreatic ductal adenocarcinomas”, é do tipo básico-translacional — pesquisas realizadas em laboratório para entender em detalhes o comportamento de cada tumor por meio de análises de dados experimentais.
Os resultados revelam que as estruturas linfoides terciárias maduras (mTLS) agem como compartimentos fundamentais para ampliar a resposta imune voltada para adenocarcinomas ductais pancreáticos (tumores de alta agressividade no pâncreas). “Essas estruturas são muitas vezes formadas em regiões contíguas ao tumor, o que favorece a organização do sistema imunológico e propicia a eliminação das células tumorais”, explica Medina.
Vale ressaltar que o câncer de pâncreas é considerado extremamente agressivo e possui poucas opções de tratamento. Além disso, possui uma taxa de sobrevivência notoriamente baixa. Por isso, a compreensão da relação entre esses tumores e o sistema imunológico é crucial para desenvolver novas terapias eficazes.
Como a estrutura descoberta funciona?
A publicação demonstra que em adenocarcinomas ductais pancreáticos a organização de células do sistema imunológico em estágio maduro são “estruturas-chave” para o desencadeamento de respostas imunes contra o tumor. Elas abrigam um rico emaranhado de células imunes – linfócitos B e T – que colaboram para identificar e atacar os tumores.
“Quando estes linfócitos atuam de maneira organizada, a comunicação entre eles é mais eficiente. O linfócito B tem como principal função a secreção de anticorpos que vão combater melhor o tumor. Já o linfócito T, da mesma maneira, se beneficia dessa estrutura gerando uma resposta capaz de eliminar direta e adequadamente o tumor”, acrescenta Tiago Medina.
Nessa organização espacial foi identificada na área central uma maior concentração de linfócitos B, enquanto na área externa, ficam localizados somente linfócitos T. Ao atingir um estágio de organização mais maduro, foi identificado pelos pesquisadores o ponto alto da estrutura no combate à célula tumoral, onde há maior resposta imune contra o tumor e maior eficácia do organismo do paciente em resposta à imunoterapia.
A estrutura possui diferentes etapas de desenvolvimento e maturação. Dedicados ao projeto conduzido no laboratório de Imuno-oncologia Translacional do CIPE, os pesquisadores notaram que as respostas imunes contra o tumor são desenvolvidas somente quando as estruturas estão completamente maduras. O processo de amadurecimento é gradual, complexo e envolve diferentes etapas que culminam na formação do centro germinativo, uma região necessária para a formação de anticorpos contra o tumor.
Este entendimento pode abrir um precedente histórico para o desenvolvimento de novas estratégias de tratamento que visam aprimorar a formação e função das mTLS, com o objetivo de amplificar a resposta imunológica contra o tumor. Ele pode ensinar a combinar eficientemente diferentes tipos de imunoterapias que poderiam ser administradas simultaneamente. Deste modo, é possível transformar um diagnóstico normalmente preocupante em uma condição mais controlável e, eventualmente, curável para mais de 20% dos pacientes diagnosticados.
Próximos passos
“Sobre os desdobramentos clínicos deste estudo, notamos que os pacientes que formam espontaneamente essas estruturas respondem melhor às quimioterapias e imunoterapias”, acrescenta Medina. Após essa descoberta, os próximos passos são evoluir a pesquisa e desenvolver medicamentos imunobiológicos que induzam o organismo dos pacientes a gerar esse tipo de estrutura de maneira artificial para os pacientes que não conseguem criar as estruturas naturalmente.
“Essa seria uma alternativa para os pacientes refratários – que não respondem à imunoterapia – passarem a responder ao tratamento. A grande descoberta do trabalho é: a resposta do sistema imunológico é muito mais potente e vantajosa quando as células se organizam nessas estruturas”, conclui Medina.
Para Gabriela Kinker, o maior objetivo agora é desenvolver algum fármaco que faça com que essas estruturas apareçam em pacientes incapazes de desenvolvê-las naturalmente. “A ideia é induzir, de alguma maneira, a formação dessas estruturas para beneficiar uma parcela significativamente maior de pacientes. A partir daí, terapias combinatórias podem ser uma solução para aumentar a taxa de pacientes que responderão eficientemente ao tratamento.”