Como as govtechs podem melhorar a saúde pública
Por Mário Martins e Diogo Catão
Nos últimos anos, as govtechs vêm crescendo expressivamente no Brasil, vivendo um verdadeiro “boom” no contexto pós-pandemia, período que fomentou a inovação devido à necessidade de distanciamento social. Essas startups estão contribuindo para reinventar diversos segmentos no que tange às instituições públicas, e a saúde é um dos principais. O setor tem investido muito em tecnologia, de modo a melhorar sua eficiência e a qualidade dos serviços prestados. Nesse sentido, as govtechs estão desempenhando papel fundamental, oferecendo soluções inovadoras para a gestão da saúde pública no Brasil.
O ecossistema da saúde brasileira é complexo e abrange diversas lacunas, muitas delas velhas conhecidas, como a longa espera nos postos, a falta de profissionais capacitados e a demora entre os agendamentos e a realização de exames e consultas médicas, entre outras questões. A assistência à saúde é fundamental, por isso é preciso investir em iniciativas que possam beneficiar o SUS e as demais instituições que compõem essa estrutura, além de facilitar o acesso da população a esses recursos.
A digitalização do sistema de saúde já é uma realidade. De acordo com dados do relatório Saúde Digital Brasil, entre 2020 e 2021, mais de 7,5 milhões de atendimentos foram realizados via telemedicina no Brasil, por cerca de 52,2 mil médicos. O levantamento foi realizado pela Associação Brasileira de Empresas de Telemedicina e Saúde Digital. A pesquisa TIC Saúde de 2021 também apontou que 88% dos hospitais brasileiros já utilizavam algum sistema informatizado para registro de dados dos pacientes.
Mas ainda há muitas soluções tecnológicas que podem ser introduzidas pelas govtechs na área, e o caminho rumo à digitalização completa, de ponta a ponta, é longo. Estão sendo desenvolvidas e implementadas uma série de tecnologias disruptivas capazes de trazer mais benefícios à população, para além da telemedicina, que segue crescendo. Alguns exemplos são big data, inteligência artificial, uso de dispositivos wearables para monitoramento da saúde, impressão 3D de equipamentos médicos, realidade virtual e nanotecnologia.
Contudo, ainda não há aplicação em massa dessas soluções. Seria importante difundir e replicar esses produtos e serviços de forma escalável, de modo a atender todo o território nacional. Inúmeras vantagens podem ser agregadas ao SUS, por exemplo. A tecnologia pode ajudar a automatizar processos e facilitar a gestão de dados, garantindo maior eficiência e resolução mais ágil de problemas. As startups também podem ampliar o acesso aos cuidados de saúde em regiões remotas, de difícil acesso ou baixa densidade demográfica, bem como a divulgação de informações sobre os serviços ofertados.
Soluções inovadoras também podem garantir mais transparência e integridade à gestão de informações de pacientes e à prevenção de fraudes. As govtechs, portanto, contam com papel importante para melhorar a qualidade dos serviços prestados, inclusive, fornecendo informações em tempo real aos profissionais e facilitando a tomada de decisões clínicas. Somado a tudo isso, ainda existe a possibilidade de redução de custos. Ao automatizar processos, as empresas também podem contribuir para reduzir as despesas do sistema de saúde.
O estudo “As Startups Govtech e o Futuro do Governo no Brasil” revela que se trata do país da América Latina com o maior número de startups da área vendendo para o setor público. O material mostra que, atualmente, 80 govtechs brasileiras vendem de maneira consistente para governos ou atuam em parcerias com o setor público de forma recorrente. A pesquisa foi desenvolvida pelo BrazilLab, em parceria com o Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF).
Embora o rótulo de govtech esteja explícito em um número reduzido de startups, muitas das que atuam no mercado privado teriam potencial para ofertar soluções para órgãos públicos, como o SUS.
Portanto, o trabalho desempenhado pelas govtechs pode ser uma ferramenta valiosa para melhorar a eficiência, o alcance e a qualidade dos serviços de assistência à saúde no Brasil. O cenário é promissor, com novas iniciativas sendo lançadas a todo momento. Mas é necessário impulsionar o desenvolvimento dessas startups com mais investimentos, não somente em novos projetos que estão nascendo, mas também em educação, treinamentos sobre inovação e em pesquisa científica. Além disso, é preciso contornar os desafios da integração dessas novas tecnologias com os sistemas de saúde já existentes e garantir segurança e privacidade dos dados pessoais de pacientes.
*Mário Martins é CEO da Agilizamed e Diogo Catão é CEO da Dome Ventures.