Acolhimento a pacientes com complicações em procedimentos estéticos

Por Fernanda Bortolozo

A medicina é uma ciência viva e em constante evolução. Apenas nos 20 anos em que atuo nela, a quantidade de novas tecnologias e tratamentos que surgiram é imensurável. É difícil, inclusive, nos mantermos atualizados dentro da nossa própria área. A consequência dessas transformações é que o acesso se universalizou e a demanda deixou de ser apenas por saúde. Ela passou a ser, também, por bem-estar e autorrealização. Nessa esteira, a estética explodiu, tanto que hoje há profissionais de diversas formações que se dedicam a ela, não somente os médicos. Como consequência dessa demanda, aumentaram assustadoramente os casos de complicações e o médico ainda não teve tempo de se preparar para lidar com essa situação.

O Brasil é um dos países que mais faz procedimentos estéticos no mundo, ficando atrás somente dos Estados Unidos. Arrisco a dizer que, se tivéssemos condições mais eficazes de catalogar todos os procedimentos feitos no país, estaríamos na liderança desse ranking. Por isso, infelizmente, enquanto não contarmos com um mercado mais qualificado do ponto de vista técnico e com uma guerra menor por preços, as complicações em procedimentos estéticos serão, cada vez mais, uma realidade no consultório. É uma questão, infelizmente, de oferta e de procura. A procura aumentou como nunca, a oferta não está equilibrada do ponto de vista técnico. Assim sendo, quem acaba pagando a conta é a paciente porque, muitas vezes, quem sabe fazer o procedimento não sabe tratar os problemas.

Por dedicar minha carreira científica ao estudo dos preenchimentos corporais, acaba que muitas complicações chegam a mim, tanto por indicação de colegas, quanto de outras pacientes. O que me assusta no relato da maioria dessas mulheres é a falta de tato com que são recebidas nos consultórios quando buscam ajuda. Muitas delas, algumas vezes, acabam se traumatizando pelas palavras usadas ou pela forma com que são tratadas em espaços que deveriam ser seguros e onde o julgamento não cabe.

Com isso, é importante dizer que, como médicos, não temos a obrigação de fazer o tratamento de complicações em procedimentos estéticos, pelo contrário. Sabemos que, por filosofia profissional, devemos saber qual é o nosso limite e até onde podemos ir. No entanto, quando uma paciente chega a nós nessa situação temos o dever de recebê-la bem. Somente o fato de acolher, confortar e mostrar caminhos para que ela continue sua jornada em busca de cura, já fará a diferença para alguém que está sozinha em uma luta, muitas vezes, solitária e silenciosa.

Sabemos que com a velocidade das novidades na estética, as universidades ainda não tiveram tempo de abordar essas questões na formação dos profissionais. Nós médicos, como agentes de saúde, precisamos lidar com o problema. Não há como negar a sua existência. Por isso, é fundamental estender a mão e solidarizar-se com a paciente. Se você tiver condições de oferecer as informações corretas de como ela pode seguir sua jornada, já estará fazendo algo muito importante. Esses pequenos gestos facilitarão a vida de uma mulher que, com certeza, chegará diante de você com o sentimento de desamparo e em busca de qualquer tipo de ajuda.


*Fernanda Bortolozo é Dermatologista e cientista na área da medicina estética e da remodelação facial e corporal.

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