Desafios e perspectivas para o hospital do amanhã
Por Jihan Zoghbi
A última década foi de avanços extraordinários na medicina. Se antes a telemedicina parecia algo distante, hoje ela é uma realidade para milhares de pessoas e profissionais. Equipamentos de última geração revolucionam a forma de diagnosticar e tratar diversas doenças. Inteligência artificial, realidade virtual e o metaverso já se integram à área da saúde.
Logo, seria de se imaginar: esta será a realidade dos hospitais daqui a cinco ou dez anos? Antes de mais nada, é preciso um olhar detido sobre o quadro da assistência no Brasil. Somos um país muito heterogêneo, diferente de outras nações como na Europa, por exemplo. Se aqui temos centros altamente avançados nas metrópoles, ainda temos localidades em que o próprio acesso a uma unidade básica é um desafio.
A telemedicina tem ajudado a encurtar distâncias entre pacientes e médicos na realização de consultas e discussão de casos. Todavia, ainda é preciso percorrer muitos quilômetros para a realização de procedimentos mais complexos. Enquanto nas capitais o amanhã já é palpável, o hoje dos grandes centros ainda é uma meta para diversas instituições do interior.
Importante ressaltar que esses debates não são excludentes. Podemos — e devemos — pensar no amanhã dos hospitais mais avançados, ao mesmo tempo em que discutimos e aprofundamos a capilaridade do atendimento nas regiões mais distantes. É preciso uma discussão conjunta, abrangente e adequada à realidade de cada unidade da federação para reduzir as distâncias na saúde.
Neste sentido, o hospital terá cada vez mais protagonismo no futuro próximo. Ainda necessitamos de mais instituições desse porte pelo país e com maior número de leitos — hoje, são 67 leitos por habitante, um número pequeno diante de um Brasil com mais de 200 milhões de pessoas. Além disso, apenas 67 unidades não dão conta da sustentabilidade desses centros, o que afeta os resultados econômicos, assistenciais e a eficiência ao cidadão.
O hospital do amanhã será, também, um hub de cuidado, dada sua maior capacidade de adensar tecnologia, permitindo atuar com foco em atendimentos mais complexos. Uma necessidade, também, diante do aumento sustentado da carga de doenças. Apesar de sua gravidade, condições como câncer, AVC e infarto seguem avançando, pressionando e exigindo centros capazes de dar conta de assistência especializada.
O futuro terá ainda uma estrutura mais flexível para os hospitais. A pandemia exigiu mudanças como unidades de terapia intensiva mais amplas, para atender bem todos os pacientes. Com alterações na arquitetura, é possível expandir ou reduzir espaços de acordo com o perfil epidemiológico apresentado, sem prejuízo aos serviços já realizados.
Várias são as perspectivas para o hospital do amanhã, assim como os desafios para alcançá-lo. Devemos agir de acordo com a heterogeneidade da saúde brasileira, levando as estruturas necessárias para os lugares que necessitam, sem perder de vista os avanços onde essa realidade já é presente. Aproximar essas pontas é fundamental para que o futuro seja de maior qualidade, eficiência e uma assistência de excelência para toda a população.
*Jihan Zoghbi é CEO da startup Dr. TIS.