Panorama evolutivo de soluções para áreas da saúde e educação
Por Rafael Kenji Fonseca Hamada
Em um Brasil marcado pela desigualdade social e dificuldade de acesso à tecnologia nas áreas de saúde e educação, ambas caminham em conjunto no panorama evolutivo e de investimentos no setor. Com 5.568 municípios nos 26 Estados e o Distrito Federal, é explicada a grande diferença não apenas na qualidade dos serviços acessados pela população, mas também sua abrangência e acesso. Fazendo um paralelo entre saúde e educação, o estado do Amapá possui 1 faculdade de medicina, o Acre 3, Minas Gerais 49 e São Paulo 68 Instituições. Essa diferença reflete não apenas o número de profissionais em cada Estado, mas também o acesso aos serviços.
O Brasil dividido entre o crescimento das capitais e da tecnologia nas grandes cidades, distante da população ribeirinha, quilombola, nordestina e amazônica reflete que o crescimento de ambos os setores caminha junto ao desenvolvimento da tecnologia, por democratizar o acesso.
Com o advento da globalização, reforçada pela pandemia de Covid-19, a tecnologia facilitou a transmissão de conhecimento e a comunicação, apesar da distância. O mercado no exterior já conta com a tendência de se adaptar aos novos modelos de aprendizados, que envolvem mais tecnologia e a mudança nas formas de intercomunicação. A educação à distância e a telemedicina exemplificam a crescente facilitação da disseminação de informações, contribuindo para a melhoria dos serviços e o preparo da população. A escalada dos marketplaces e das plataformas digitais de e-commerce confirmam a adaptação do setor. Na saúde, plataformas de telemedicina ganharam força e receberam aportes milionários. Na educação, empresas de videochamadas como o Zoom cresceram rapidamente, e novas ferramentas foram criadas por organizações que são referências no mercado, como o Google Meet.
O uso da tecnologia intensifica teorias já validadas para o aperfeiçoamento do aprendizado, como a pirâmide de William Glasser, que diz que 95% do aprendizado se consolida quando ensinamos aos outros e 80% quando fazemos. A partir desses estudos, do investimento forte em tecnologias inteligentes, de parcerias estratégicas e da colaboração, observamos uma digitalização crescente na saúde e na educação. Esse caminho não tem volta e deve ser acelerado com foco em inovação. O futuro dos dois setores é desafiador, mas muito promissor.
Cada vez mais o usuário é posicionado no centro do cuidado, e na saúde o paciente se torna protagonista do próprio processo de cura e prevenção. A “Saúde na Palma da Mão do Paciente”, slogan da startup Saúde Agora, define muito bem esse processo. Na companhia, o paciente pode encontrar seu profissional de saúde, realizar o agendamento da consulta e até mesmo o atendimento por telemedicina. Ainda pode registrar seus resultados de exames e receber sua receita médica direto no aplicativo. Tudo isso sem sair de casa.
Já na área da educação, o metaverso e a realidade virtual são os temas mais comentados e estimulados para aproveitar o “buzz” gerado no mercado pela empresa Meta, que acelerou o desenvolvimento de tecnologias, como os óculos de realidade aumentada e até mesmo a realidade das interações. Startups como a SimSave e a Medroom já utilizam o metaverso na educação, servindo como ferramenta de aprendizado de profissionais de saúde.
Investimentos em startups são alternativas eficientes para a solução de gargalos latentes do mercado. Toda empresa que possua um produto ou serviço para democratizar o acesso à saúde ou à educação gera grandes resultados e impactos não só sociais como também financeiros. Hoje, 95% do dinheiro investido em startups nos Estados Unidos é proveniente de corporate venture capital; no Brasil, esse percentual é de apenas 3%. Ainda existe pouco investimento proveniente de corporate, ou seja, de instituições para a inovação aberta, quando as empresas buscam soluções no mercado para dores internas. O modelo de venture builder aproxima as startups e o segmento de companhias que contam com desafios que não são resolvidos internamente, ou que demandariam muito tempo e dinheiro para o desenvolvimento das soluções.
Esse movimento também auxilia na solidificação do novo mercado vivenciado internacionalmente e já introduzido no Brasil, com profissões cada vez mais digitais e novas ocupações em detrimento da extinção de áreas dependentes de operadores manuais.
A necessidade de inovação nos segmentos e de ampliação do acesso leva muitas startups a se tornarem a saída para essa dor latente do mercado brasileiro que nem sempre está diretamente relacionada à complexidade das tecnologias.
*Rafael Kenji Hamada é médico e CEO da FHE Ventures.