Reajuste de planos de saúde: como contornar a tempestade perfeita?

Por Claudio Tafla

São muitas as discussões sobre inflação e aumento dos custos de tudo, desde a gasolina, o gás de cozinha, tomate, cenoura, feijão e arroz. No mundo da saúde, as coisas não são diferentes. Afinal, um dos assuntos em voga no momento é justamente o índice de reajuste anual de planos de saúde individuais ou familiares, regulado pela ANS – Agência Nacional de Saúde Suplementar, que acaba de ser anunciado em 15,5%. Como podemos correlacionar a inflação dos produtos do dia a dia com a inflação da saúde?

Para começar a entender essa discussão, temos que levar em conta que os fenômenos inflacionários não são isolados, o que gera um outro entendimento muito importante: eles não se resolvem com ações isoladas. Os reajustes podem parecer absurdos considerando o atual momento do Brasil e do mundo, com direito a pandemia, guerra na Ucrânia, desabastecimento mundial e extrema polarização política. Neste contexto, sob este prisma, teríamos que ter um reajuste mais viável e realista para o bolso do consumidor.

Entretanto, quando recapitulamos o cenário macro de reajuste negativo dos planos de saúde em 2021, com uma redução de 8,19% nas mensalidades, notamos que houve, pela primeira vez, um reajuste negativo na série histórica da ANS. O que ocorre em 2022 é a liberação da demanda reprimida de eventos e procedimentos médicos causada pelo isolamento social e pelo esgotamento dos equipamentos de saúde em todo o mundo durante o auge da pandemia. Além disso, as novas tecnologias, os novos tratamentos disponíveis e o próprio envelhecimento natural da população, que se confirmará pelo próximo Censo do IBGE, corroboram para criar a “tempestade perfeita”.

Agora que entendemos a multiplicidade de fatores causais, vamos olhá-los de forma mais específica para respondermos à seguinte pergunta: o que fazer e como interagir para melhorar essa situação? Gráficos do Caderno de Informações da ANS mostram, de forma bem clara, a direta correlação entre a quantidade de beneficiários do sistema de saúde suplementar e o PIB do Brasil, assim como a quantidade de emprego formal da população. Para diluir o custo e o risco da saúde, precisaríamos dar oportunidade para mais pessoas terem acesso ao sistema, o que se dará pela retomada da economia, aumento do PIB e empregos formais, já que cerca de 80% dos planos de saúde são coletivos (empresariais ou por adesão).

Existe uma receita para reduzir a sinistralidade?

Será que o simples fato de trazermos mais pessoas para o sistema de saúde privado fará com que a sinistralidade caia? Muito provavelmente, não, pois os estudos do IESS (Instituto de Estudos em Saúde Suplementar) demonstram que cerca de 19% de tudo o que investimos de recursos em saúde são desperdiçados. Se aumentarmos a quantidade de beneficiários, não tocaremos diretamente na gestão de saúde e nos motivos que causam estes desperdícios.

Portanto, precisaremos mudar algumas ações em saúde para melhorar a gestão. Se tem alguma coisa positiva que a pandemia nos trouxe em termos de gestão, foi notar que as pessoas podem ser tratadas à distância e gostam disso. Tornou-se claro que nosso modelo hospitalocêntrico, herdado da época do Descobrimento do Brasil, precisa evoluir para estar onde o usuário estiver. Este mesmo usuário escolheu que o melhor meio de se comunicar com a saúde é pela via digital.

Dados da Nilo Saúde apontam que 93% dos pacientes gostam de se comunicar com seu gestor de saúde remotamente, dentro da plataforma, gerando maior adesão e engajamento a programas de saúde. Nosso índice médio de adesão é de 81% nos últimos 12 meses, trazendo mais engajamento às linhas de cuidado e gerando desfechos mais eficientes.

Como resultado, observa-se a redução de passagem e utilização de prontos-socorros por conta da utilização de atenção primária e pronto atendimento digital (20% da população estudada, contra 15,5% da população geral), além da redução de internações hospitalares (1,97% dos pacientes acompanhados, contra 9% da população geral). Consequentemente, os custos caíram em 10%, com ROI de 65%. Não houve piora na qualidade do atendimento, nem na percepção de satisfação dos usuários.

Ou seja, temos elementos concretos para acreditar que, seguindo protocolos nacionais e internacionais aceitos, conseguiremos gerenciar populações em todo o território nacional, considerando todas as suas complexidades de transporte, acesso, além de suas distorções sociais e econômicas, sem diminuir a qualidade e o desfecho dos atendimentos. Muito pelo contrário, observamos uma melhora nesses índices.

Saber do que sofrem nossas populações atendidas e como se antecipar aos problemas, estando próximos e gerenciando suas utilizações, faz toda a diferença. Sedentarismo, saúde mental e uso de muitos medicamentos sem uma gestão unificada do paciente e do beneficiário gera um “subtratamento” que pode ter impactos muito negativos em sua vida e em todo o sistema. Podemos fazer melhor sem precisar investir mais recursos, mas otimizando os recursos disponíveis. Muita gente já tem percebido isso na hora de contratar planos individuais e coletivos, pois alternativas de gestão e coparticipação têm sido cada vez mais consideradas e contratadas.

Contudo, ainda temos muito a evoluir. Precisamos engajar todos os atores da saúde em buscar melhores formas de participar da jornada dos usuários, entendendo seus papéis e agregando valor dentro da sua participação, favorecendo uma remuneração melhor e mais relacionada a desfechos, performances e resultados, que incluam a percepção de seus pacientes dentro desta qualificação. Assim, teremos um modelo de remuneração que exprima de forma clara o que se deseja de cada profissional e qual parte lhe cabe dentro do resultado geral.

Todos coexistimos nesta interação e temos nossa parcela de responsabilidade no resultado. Falhou um, falharam todos.


*Claudio Tafla é Diretor Médico da Nilo Saúde e professor na Faculdade São Camilo e na FGV – Fundação Getúlio Vargas. É também presidente da ASAP – Aliança Para a Saúde Populacional.

**Artigo publicado originalmente na Revista Medicina S/A, edição 20.
Faça o download gratuito aqui
.

Damos valor à sua privacidade

Nós e os nossos parceiros armazenamos ou acedemos a informações dos dispositivos, tais como cookies, e processamos dados pessoais, tais como identificadores exclusivos e informações padrão enviadas pelos dispositivos, para as finalidades descritas abaixo. Poderá clicar para consentir o processamento por nossa parte e pela parte dos nossos parceiros para tais finalidades. Em alternativa, poderá clicar para recusar o consentimento, ou aceder a informações mais pormenorizadas e alterar as suas preferências antes de dar consentimento. As suas preferências serão aplicadas apenas a este website.

Cookies estritamente necessários

Estes cookies são necessários para que o website funcione e não podem ser desligados nos nossos sistemas. Normalmente, eles só são configurados em resposta a ações levadas a cabo por si e que correspondem a uma solicitação de serviços, tais como definir as suas preferências de privacidade, iniciar sessão ou preencher formulários. Pode configurar o seu navegador para bloquear ou alertá-lo(a) sobre esses cookies, mas algumas partes do website não funcionarão. Estes cookies não armazenam qualquer informação pessoal identificável.

Cookies de desempenho

Estes cookies permitem-nos contar visitas e fontes de tráfego, para que possamos medir e melhorar o desempenho do nosso website. Eles ajudam-nos a saber quais são as páginas mais e menos populares e a ver como os visitantes se movimentam pelo website. Todas as informações recolhidas por estes cookies são agregadas e, por conseguinte, anónimas. Se não permitir estes cookies, não saberemos quando visitou o nosso site.

Cookies de funcionalidade

Estes cookies permitem que o site forneça uma funcionalidade e personalização melhoradas. Podem ser estabelecidos por nós ou por fornecedores externos cujos serviços adicionámos às nossas páginas. Se não permitir estes cookies algumas destas funcionalidades, ou mesmo todas, podem não atuar corretamente.

Cookies de publicidade

Estes cookies podem ser estabelecidos através do nosso site pelos nossos parceiros de publicidade. Podem ser usados por essas empresas para construir um perfil sobre os seus interesses e mostrar-lhe anúncios relevantes em outros websites. Eles não armazenam diretamente informações pessoais, mas são baseados na identificação exclusiva do seu navegador e dispositivo de internet. Se não permitir estes cookies, terá menos publicidade direcionada.

Visite as nossas páginas de Políticas de privacidade e Termos e condições.

Importante: A Medicina S/A usa cookies para personalizar conteúdo e anúncios, para melhorar sua experiência em nosso site. Ao continuar, você aceitará o uso. Veja nossa Política de Privacidade.