Adiamento de cirurgias eletivas pede reavaliação de estruturas
Por Igor Zanetti
O atraso de cirurgias e procedimentos eletivos ampliou o número de mortes provocadas indiretamente pela pandemia no Brasil. Foram mais de um milhão de intervenções canceladas até setembro, de acordo com levantamento da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Casos que não eram complexos e poderiam ser sanados via cirurgia transformaram-se em condições graves e emergenciais, comprometendo a saúde de pacientes e aumentando os custos da cadeia de saúde.
É de conhecimento público que a pandemia evidenciou as fraquezas no setor de saúde em termos de investimento e estrutura, mas reforçou a necessidade de discussão sobre políticas públicas para a expansão do atendimento cirúrgico, também durante crises.
Nenhum sistema de saúde tem condição de se preparar permanentemente em termos de capacidade para um estado de pandemia. Leitos e equipamentos ociosos, sobretudo os de UTIs, são onerosos. Porém, os pacientes não podem ficar desatendidos.
Mas, apesar deste delicado cenário, não podemos ser injustos e deixar de lado alguns progressos no setor de saúde do país. Muitos hospitais conseguiram se adaptar e ter maior flexibilidade para conversão de unidades comuns para alta complexidade. Houve também avanço na capacitação e preparação dos profissionais do setor.
A pandemia sobrecarregou órgãos, como ANVISA e CONITEC — Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS, que tiveram de se desdobrar para avaliar eficácia e segurança de vacinas, medicamentos e equipamentos para o enfrentamento da Covid-19. A ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) também ganhou maior agilidade nas incorporações.
Mas, o fato é que muitas doenças deixaram de ganhar a devida atenção. A sobrecarga pandêmica postergou ações, e muitas tecnologias estão pendentes para serem incorporadas e oferecidas pelo SUS. Apesar de terem tido pareceres favoráveis da CONITEC, a trombectomia mecânica, que trata o AVC isquêmico por meio de um procedimento minimamente invasivo, e o TAVI, outra intervenção não invasiva, para o tratamento da estenose aórtica, ainda estão na fila de incorporações.
Sou otimista com as discussões e com a conscientização dos vários atores do segmento da saúde, que se mostram mais abertos à avaliação de medidas que reflitam na sustentabilidade do setor e, consequentemente, no maior acesso de tratamentos inovadores para a população. O meu apelo aqui é para não perdemos o ritmo e não esperarmos outras crises para continuar evoluindo.
*Igor Zanetti é diretor de Acesso e Assuntos Corporativos da Medtronic Brasil.