O desafio de desenvolver medicamentos mais eficientes
Por Jnanadeva Bhat, Dorene Almeida e Anita Solanki
O meio farmacêutico está sempre se desenvolvendo, entregando novas tecnologias e se ajustando às necessidades do mercado e dos consumidores. Mesmo em meio a tantas novas tecnologias, a administração de medicamentos via oral continua sendo a mais comum: mais de 60% das formulações de dosagem no mercado são formas farmacêuticas sólidas orais (FFSO). O mercado espera que a formulação FFSO cresça 6,5% ao ano, alcançando 926 bilhões de dólares até 2027.
Para continuar o desenvolvimento da FFSO no mercado atual, há uma necessidade de criar capacidades de formulação e soluções para desafios mais complexos, como o aumento da biodisponibilidade, da solubilidade e a combinação de drogas incompatíveis, assim como a modificação de padrões de lançamento. Novas formulações químicas mais complexas estão surgindo e isso tem feito com que a necessidade de novas soluções de produção aumente.
Tecnologias de liberação modificada
As formulações de liberação modificada ajudam cientistas a pensarem em formas inovadoras para criar medicamentos que atendam às necessidades dos pacientes, mantendo a eficácia dos medicamentos. Atingir esse objetivo pode ser desafiador, dada à constante evolução dos ativos farmacêuticos e o desejo crescente de criar medicamentos cada vez mais específicos. No entanto, já existem opções variadas de tecnologias de liberação modificada disponíveis no mercado.
No caso da liberação retardada, o medicamento é liberado em um tempo pré-determinado ao invés de imediatamente após seu consumo – permitindo uma proteção maior ao estômago. Já as formulações de liberação lenta promovem uma liberação contínua em uma menor velocidade, permitindo assim que o consumidor tome doses em uma menor frequência.
Além disso, também é possível atingir uma combinação de produtos de liberação imediata e retardada ao unir dois ou mais perfis de medicamentos. Outra opção de combinação implica em um medicamento de liberação imediata (dose de carga) com um de liberação lenta (dose de manutenção), como uma forma de promover uma liberação por um maior período.
Melhorando a biodisponibilidade
Grande parte dos novos medicamentos que estão sendo desenvolvidos na indústria farmacêutica atualmente apresentam desafios de solubilidade ou biodisponibilidade oral, o que se torna um grande desafio para os produtores da indústria ao buscarem criar formulações inovadoras.
Normalmente, os cientistas da área buscam reduzir o tamanho das partículas como forma de melhorar a biodisponibilidade de ativos com baixa solubilidade. A redução leva a um aumento na área de superfície, aumentando a taxa de dissolução e levando a uma melhor absorção. No entanto, esse método não pode ser aplicado em qualquer ativo farmacêutico, já que depende das variações de propriedades físico-químicas das moléculas.
Uma tecnologia inovadora propõe dissolver a droga em um solvente de base lipídica e encapsulá-la em uma cápsula rígida desenvolvida especialmente para formulações líquidas e semilíquidas. Formulações em que o ativo está no estado solúvel promovem absorção imediata, aumentando a taxa de absorção e biodisponibilidade. Essa técnica pode apresentar soluções para desafios associados a moléculas de baixa solubilidade.
Formulações agradáveis aos pacientes
Órgãos regulatórios e cientistas da área levam em consideração as necessidades dos pacientes ao formular novos produtos. A forma de dosagem é desenvolvida de maneira que melhore a experiência do paciente ao seguir um determinado protocolo, buscando diminuir a frequência ou tamanho da dosagem.
Nesse contexto, a liberação modificada tem um papel importante na criação de produtos FFSO que visam atender a demanda dos pacientes. Prolongando a liberação, com cápsulas de liberação lenta, os níveis do medicamento se mantêm ativos no sangue durante um período maior. Uma liberação modificada também pode ser usada para criar combinações de dose fixa e produtos com múltiplas drogas, com cada ativo sendo projetado para ser liberado de formas diferentes para oferecer ao paciente diversos benefícios.
Proteínas, peptídeos e biológicos
Proteínas, peptídeos e biológicos estão se tornando cada vez mais atrativos ao segmento terapêutico por conta de seus múltiplos benefícios.
Diversas pesquisas estão focadas em desenvolver tecnologias que superem barreiras gástricas, como cápsulas de revestimento entérico e explorando melhoras de permeabilidade. As cápsulas de revestimento entérico são utilizadas para evitar a degradação de moléculas sensíveis ao entrar em contato com os ácidos estomacais e para prevenir a irritação gástrica.
Algumas moléculas não são feitas para serem entregues ao sistema, é necessário que sejam absorvidas no trato intestinal para tratar doenças locais. Cápsulas rígidas podem ser usadas para entregar moléculas grandes para o tratamento de doenças intestinais crônicas e a síndrome do intestino irritável. Cápsulas rígidas ou entéricas são opções viáveis para encapsular biológicos e entregá-los às áreas afetadas para terapias locais ou sistêmicas respectivamente.
Cápsulas – solução em uma etapa
Considerando os diversos fatores que impactam o sucesso na entrega de medicamentos, a escolha da forma de dosagem é de extrema importância. Uma forma de dosagem ideal deve oferecer o padrão de liberação desejado, requerimento de biodisponibilidade e garantir facilidade de consumo. Deve também ser aliada do paciente, não invasiva, de dose única e oferecer soluções para os desafios de entrega dos ativos.
Cápsulas rígidas, as mais relevantes de todas as FFSO, foram melhoradas na última década por meio de técnicas inovadoras e novas áreas de aplicação. As suas variantes incluem cápsulas para formulações líquidas, de liberação retardada e camadas que também podem ser aplicadas às cápsulas rígidas para diversas aplicações.
A cápsula é uma forma única de dosagem que permite a combinação de diversos ativos e a implementação de tecnologias que previnem vários obstáculos com variados agentes terapêuticos.
*Jnanadeva Bhat é vice-presidente e chefe de formulação R&D (Pharma e Nutra); Dorene Almeida é líder do laboratório de aplicação (Pharma); e Anita Solanki é líder de White Papers e formulação R&D (Pharma e Nutra) da ACG Cápsulas.