Metodologias Ágeis apoiando a gestão da saúde pública
Por Francisco Arce
O grande trabalho da gestão pública é poder fazer entregas de melhores serviços para a população, porém é fundamental resolver os problemas que estão no dia a dia e que dificultam nos avanços da gestão, seja no âmbito federal, estadual ou municipal. Poucos setores podem dizer que enfrentam diariamente um ambiente com tamanha complexidade e de várias incertezas como a saúde pública e a articulação de projetos envolvendo o tema de forma local, regional e federal pode proporcionar visões integradas dos problemas relacionados e da potencialidades das ações de saúde desenhadas em cada projeto e no portfólio de projetos. Complementarmente, o conhecimento gerado e sistematizado por esses projetos integrados pode propiciar sinergia, facilitar a tomada de decisões e permitir que as ações tenham foco claro e assertivos.
Se você já ouviu falar de metodologias ágeis, deve ter ouvido também que elas foram criadas, a princípio, para gestão de projetos de software, porém, é possível trabalharmos para apoiar em projetos na área da saúde, mas é importante esclarecer que metodologias ágeis não necessariamente prezam por entregas rápidas ou estritamente dentro de prazos. Nesse contexto, ser ágil significa ter a capacidade de lidar com mudanças e adaptar o projeto a elas, de forma organizada e segura para todos os envolvidos. As metodologias ágeis apesar de ser uma metodologia extremamente atual, mas não é tão nova assim, porém começaram a ser disseminada após o Manifesto Ágil, em 2001. Elas chegaram como uma resposta à volatilidade do cenário digital e à tendência crescente da inovação.
Há diferentes tipos de metodologia ágeis disponíveis no mercado, sendo que cada um tem suas particularidades, abaixo estarei compartilhando 3 que pude trabalhar na gestão de projetos na Secretaria de Estado de Saúde do Amazonas, sendo o primeiro para a gestão dos serviços da área de tecnologia , utilizando a ferramenta KANBAN como o Trello para buscar de maior eficiência e menos burocracia na execução das atividades de um projeto e aumento do engajamento e motivação interna das equipes, e o outro pude observar e acompanhar os resultados positivos, que foram destaque no Estado, como a redução no tempo de permanência dos pacientes na unidade de saúde e a utilização de ferramentas para melhorar o fluxo de pacientes nas emergências e evitar superlotação nos hospitais.
1. Scrum
Atualmente, é o tipo de metodologia ágil mais utilizado. No Scrum, o projeto se divide em ciclos que duram entre uma e quatro semanas (chamados sprints). As funcionalidades a serem implementadas são colocadas em uma lista de pendências chamada backlog.
O êxito dessa parte do processo virá somente se houver um ambiente de grande confiança, respeito e sinergia.
2. Lean
O Lean é uma filosofia de gestão que foi introduzida no mercado pelo setor automobilístico e tem por objetivo um desenvolvimento enxuto e eficiente. A aplicação de recursos e tempo é mínima, o que diminui os custos. Seu objetivo é combater excessos durante o processo produtivo e reduzir as complexidades para otimizar os resultados, com foco em evitar que questões menores se tornem problemas.
No método Lean, a equipe conta com um fluxo de trabalho mais claro e compreensível, entregas rápidas e identificação precisa de problemas ou gargalos nos processos. Isso gera uma economia que torna a empresa mais competitiva e permite um gerenciamento financeiro inteligente.
Os princípios de tal tipo de metodologia são: eliminar o desperdício; amplificar o aprendizado; decidir o mais tarde possível; entregar o mais rápido possível; empoderar o time; construir qualidade; otimizar o todo.
3. Kanban
O Kanban não é necessariamente um tipo de metodologia ágil, mas um sistema para organização de atividades que proporciona agilidade no processo. Ou seja: é muito útil e adotado nos métodos ágeis para organizar o trabalho, porém não descreve como as atividades devem ser realizadas.
Ele organiza visualmente as tarefas por status, em quadros, com as etapas do projeto distribuídas em colunas (a fazer, fazendo e pronto), criando um controle visual.
Como há uma visualização clara e a separação precisa das atividades, os recursos podem ser aplicados de maneira mais inteligente. Desse modo, é possível se concentrar em cada atividade exclusivamente.
Como exemplos de uso em conjunto com metodologias ágeis, podemos citar um quadro Kanban sendo utilizado para visualizar o fluxo de atividades em um sprint do Scrum.
Um bom exemplo de aplicação que podemos citar é um case recente de como um hospital escola do Reino Unido, utilizando alguns dos conceitos do Scrum pôde atender de forma mais ágil um crescente número de pacientes infectados com Covid, chegando ao hospital todos os dias, bem como com algumas baixas no quadro médico. Isso aconteceu em agosto de 2021 no Hospital St. Johane, onde o cenário inicial era de diversos carros fazendo fila em sua porta, aguardando atendimento, com enfermeiros levando oxigênio para os pacientes que precisavam. As práticas aplicadas iniciaram com a formação de times multifuncionais com médicos e enfermeiros atuando em conjunto até o final do atendimento do paciente em seus turnos. Além dessa divisão em times pequenos e autogerenciáveis, os líderes se reuniam diariamente, de forma pontual às 8 da manhã para definir o planejamento do dia, identificando todos os profissionais disponíveis no momento, além do controle de forma visual dos profissionais que estavam em licença e o período que faltava para eles retornarem. Todas essas informações, bem como os contatos de todos os profissionais era disponibilizado diariamente, assim o contato ficava mais transparente e ágil. Nesse momento de reunião os líderes também conversavam e compartilhavam as dificuldades que estivessem enfrentando e todos podiam ajudar e tomar decisões de formas mais ágeis. O time também poderia sugerir feedbacks e formas de trabalhar que fossem mais eficientes. Os líderes concluíram que essa forma de trabalho foi extremamente positiva e com isso conseguiram reduzir os tempos de atendimento e de espera dos pacientes.
*Francisco Arce é Especialista em Informática em Saúde pelo Sírio-Libanês.
Fontes: