Atenção domiciliar: beneficiando a desospitalização
Por César Griebeler
Uma das grandes questões para a área hospitalar é humanizar a relação com os pacientes, principalmente em seu processo de recuperação. Um desafio que se torna ainda maior com o envelhecimento populacional. A mudança no perfil da população impacta diretamente nos serviços de saúde, já que a terceira idade tende a ter uma prevalência maior de doenças crônicas, o que acarreta um tempo mais longo de hospitalização, uma recuperação mais lenta e uma maior frequência de reinternação. Fatores que também determinam custos mais elevados no tratamento.
Em vista desse cenário, e buscando resgatar uma necessidade cultural, de humanização, de biossegurança e de economia, surgiu no final do século XX o conceito de desospitalização. O termo é utilizado para definir um processo que tem como objetivo oferecer aos pacientes uma recuperação mais rápida e bem sucedida em seu domicílio, buscando, por exemplo, racionalizar a utilização dos leitos hospitalares. Neste sentido, o home care, ou cuidado domiciliar, se destaca por habilitar a desospitalização precoce dos pacientes, uma prática que já é adotada pelos planos de saúde e até mesmo pelo SUS, possibilitando um atendimento mais sensível e personalizado.
Importante tema para o mercado de saúde, a desospitalização e sua relação com o atendimento domiciliar esteve no centro dos debates do HIMSS – Global Health Conference & Exhibition 2022, realizado em março nos Estados Unidos. O encontro, que reuniu grandes nomes do setor, é um espaço fundamental para a troca de informações sobre os avanços da tecnologia em saúde, apontando as principais tendências e inovações do segmento.
Para os idosos, esse processo é fundamental, já que longos períodos de internação podem causar além de declínio funcional, uma baixa imunidade, o deixando suscetível a infecções hospitalares, tornando-os cada vez mais dependentes. A desospitalização também está diretamente ligada à diminuição de custos da saúde pública e à disponibilidade de leitos para outros pacientes. Proporcionar a melhor experiência em saúde de maneira personalizada é um enorme e importante desafio. Para endereçá-lo, precisamos de soluções inovadoras, orientadas pelo home care.
Economia com qualidade
O mercado de home care norte-americano, onde a proporção da população com 65 anos ou mais deverá representar 19,6% até 2030, está projetado para chegar a US$ 157 bilhões neste ano, segundo levantamento da Deloitte. De acordo com a McKinsey, nos Estados Unidos, até US$ 265 bilhões em serviços de atendimento de saúde podem migrar para o atendimento virtual até 2025, com mais de 60% dos médicos, provedores e executivos esperando ver mais cuidados prestados em ambientes não clínicos, como em domicílio, como aponta pesquisa do BCG. A consultoria projeta que até um terço de todo o volume hospitalar poderá ser transferido para ambientes ambulatoriais, domiciliares e de assistência virtual nos próximos 10 anos.
Uma meta-análise de 61 estudos divulgada pela American Hospital Association descobriu que pacientes que recebem cuidados hospitalares em casa têm uma redução de 20% na mortalidade, e que aqueles com doença aguda internados em atenção domiciliar têm três vezes menos probabilidade de ser internados no hospital dentro de 30 dias do que os pacientes de cuidados habituais.
Eficiência e autonomia
Uma forma de aumentar leitos sem construir hospitais, o home care transforma o domicílio em um ponto de cuidado estratégico para o paciente e a família. Caminho natural para a desospitalização antecipada, traz como vantagem a possibilidade de sair do hospital e continuar seu tratamento em um ambiente mais confortável e mais próximo da rotina a que o paciente estava acostumado antes. Outros benefícios incluem a menor chance de infecção hospitalar e a criação e manutenção de uma rotina de cuidados e prevenção. Os atendimentos próximos e personalizados também melhoram a adesão ao tratamento, conferindo mais segurança ao paciente.
A busca pela desospitalização precoce, um pré-requisito para um sistema de saúde sustentável e eficaz, é uma tendência que floresce em simbiose com o desenvolvimento do cuidado domiciliar. Por meio da rápida inovação tecnológica, o home care mostra que deverá continuar ajudando a acelerar a recuperação de pacientes, sendo a base para um futuro muito mais conectado, interativo e humanizado.
*César Griebeler é vice-presidente de Tecnologia da Pulsati.