Estudo traça perfil epidemiológico de pacientes pediátricos com câncer
Pesquisadores do Programa de Pós-Graduação em Estomatopatologia da Faculdade de Odontologia de Piracicaba (FOP) da Unicamp e do Centro Infantil Boldrini de Campinas, um dos maiores centros de oncologia pediátrica da América Latina, dedicaram-se a preencher uma lacuna: a falta de conhecimento científico acerca do perfil epidemiológico, clínico e patológico de pacientes brasileiros afetadas por câncer de cabeça e pescoço na infância.
O estudo mostrou que o perfil demográfico mais frequente dos pacientes com câncer de cabeça e pescoço é composto por crianças com média de 9 anos de idade, sendo que os meninos foram os mais afetados em relação às meninas. Na região de cabeça e pescoço, a área mais atingida pelo câncer foi a do pescoço (e os nódulos linfáticos cervicais) e os linfomas foram os tipos mais comuns de câncer neste recorte do trabalho.
Segundo o professor Alan Roger dos Santos Silva, que orientou a dissertação de mestrado da cirurgiã-dentista Paola Aristizabal Arboreda, o fato de os linfomas predominarem na região de cabeça e pescoço de crianças brasileiras parece ser uma peculiaridade da população investigada. Em estudos semelhantes realizados em outras partes do mundo, sobretudo em países desenvolvidos, os resultados sugerem que os sarcomas são o subtipo de câncer mais comum.
A pesquisa apontou também que os pacientes brasileiros são atingidos com maior frequência pelos seguintes tipos histopatológicos de tumores malignos: linfomas de Burkitt; linfomas Hodgkin tipo esclerose nodular; e carcinomas nasofaríngeos e rabdomiossarcomas. As principais regiões anatômicas afetadas foram o pescoço e os linfonodos cervicais, a nasofaringe e a glândula tireóide. As avaliações indicaram que a média de idade dos pacientes masculinos no momento do diagnóstico foi de 9,35 anos e os pacientes na faixa etária entre 10 e 14 anos apresentaram maior prevalência de tumores malignos.
No Centro Infantil Boldrini, o estudo foi coordenado pela professora Regina Maria Holanda de Mendonça, também pesquisadora colaboradora do Departamento de Diagnóstico Oral da FOP. A investigação contemplou a distribuição demográfica e clinicopatológica dos tumores malignos de cabeça e pescoço dos pacientes de zero a 19 anos de idade tratados no hospital no período entre 1986 e 2016.
Apesar de tratar de um estudo retrospectivo, Regina Mendonça explica que os dados foram baseados nas características demográficas, clinicas e patológicas de uma população muito representativa em termos históricos e volume de pacientes investigados. “São informações médicas de 7.181 crianças e adolescentes com câncer tratados pela equipe do Boldrini, dos quais 367 tratamentos relacionados ao câncer na região de cabeça e pescoço”, afirma.
Os resultados da pesquisa mereceram a capa da edição de agosto do periódico científico Journal of Oral Pathology & Medicine, publicação oficial da International Association of Oral Pathologists, editada no Reino Unido (https://onlinelibrary.wiley.com/doi/abs/10.1111/jop.12634).
De acordo com os pesquisadores, é a primeira vez que os resultados de um estudo, baseado em uma experiência de 30 anos de um serviço de referência, avaliando o perfil epidemiológico de crianças com câncer de cabeça e pescoço no Brasil, é publicado em um periódico internacional indexado.
(Informações do Jornal Unicamp – Foto de César Maia)