Grupo carioca de residência terapêutica expande atuação para SP
Desde a implementação no Brasil da reforma psiquiátrica e a compreensão da necessidade de um tratamento mais inclusivo e humanizado, muita coisa mudou para melhor. Mas, como grandes mudanças geram grandes desafios, pacientes e familiares precisaram se adaptar à nova realidade tanto nos cuidados intensivos quanto em questões relacionadas ao dia a dia. A alternativa encontrada para abrigar pacientes com doenças mentais crônicas, que antes viviam internados em hospitais psiquiátricos, foi a criação de Residências Terapêuticas, locais com estrutura acolhedora e que por meio de tratamentos e técnicas inovadoras ajudam na ressocialização destas pessoas.
Foi a partir deste cenário, e após atuar na linha de frente e se deparar com casos graves, de múltiplas reinternações e de pacientes que não ficavam bem em suas residências, um grupo de médicos cariocas criou a Sig Residência Terapêutica, que atua há mais de 10 anos nesta área e tem inovado no tratamento de pacientes com transtornos psiquiátricos e psíquicos: disponibilizando moradias assistidas em áreas urbanizadas.
Com duas unidades localizadas na capital fluminense, a Sig prepara-se para dar um grande passo ao expandir residências terapêuticas urbanas em outros estados, sendo o primeiro na cidade de São Paulo, no bairro do Pacaembu.
“Temos como meta abrir uma unidade a cada dois anos, sendo a capital paulista como principal praça para implementação do conceito de residência terapêutica urbana”, explica Ariel Mazur Lipman, psiquiatra e um dos sócios da Sig. Para se ter ideia do tamanho deste mercado, antes da pandemia, a expectativa era a de que os custos com saúde mental no mundo em 2030 girariam em torno de U$ 16 trilhões, de acordo com relatório da Organização Mundial de Saúde (OMS).
A residência terapêutica urbana tem como propósito dar um novo olhar de abordagem para pacientes com transtornos psiquiátricos crônicos, que possuem dificuldade de manter seus tratamentos e seus cuidados de forma ampla, se tornando, assim, um novo lar, onde se encontra cuidado, afeto, convivência e autonomia
Vida Social
De acordo com o executivo, a residência terapêutica urbana não tem nada a ver com os antigos manicômios ou hospitais psiquiátricos. O conceito de hotelaria está presente não só nas acomodações, mas também na forma de acolhimento dos pacientes, dando autonomia para a ressocialização. “Transtornos psiquiátricos devem ser tratados de forma contínua, com a medicação correta. A partir do momento em que o paciente está devidamente assistido, não existem restrições ou barreiras que os impedem de praticar atividades ao ar livre, ou mesmo ir a um mercado ou salão de beleza, etc”, explica Lipman.
De acordo com o psiquiatra, muitos pacientes dão entrada na Sig, já desacreditados por familiares, que já não encontram opções para tratamento, principalmente pelo esgarçamento de suas relações familiares e sociais, e acabam se isolando e se fechando em um mundo próprio mudando o comportamento. “Os familiares destes pacientes, em alguns casos, já são idosos e encontram dificuldades para realizar o tratamento adequado, optando pela residência terapêutica urbana justamente pela proximidade, podendo acompanhar de perto o cuidado do paciente”, pontua.
Saúde Mental na Pandemia
Nos últimos anos, a demanda de saúde mental cresceu no mundo devido à pandemia. De acordo com um estudo publicado “Strengthening mental health responses to COVID-19 in the Americas: A health policy analysis and recommendations” na revista The Lancet Regional Health – Américas, mais de quatro em cada 10 brasileiros tiveram problemas de ansiedade; os sintomas de depressão aumentaram cinco vezes no Peru; e a proporção de canadenses que relataram altos níveis de ansiedade quadruplicou como resultado da pandemia.