Cirurgia Robótica ou Cirurgia Aberta, qual a melhor opção?
Por Marco Lipay
Os avanços tecnológicos em cirurgia sempre são bem vindos, desde que não coloquem os pacientes em risco e que a equipe médica esteja treinada adequadamente. Nas modalidades cirúrgicas, de modo geral, e em especial na Urologia, esta revolução vem acontecendo de modo regular nos últimos 30 anos, principalmente para os tratamentos de cânceres, incontinência urinária, falência erétil e cálculos renais. Evoluímos das grandes incisões e prolongada internação para as cirurgias minimamente invasivas, com curtos períodos de hospitalização.
Dentro desta revolução, há uma pergunta: os resultados finais são os mesmos, considerando as cirurgias convencionais e a robótica, principalmente quando o problema é oncológico (câncer)? Consequentemente surge a dúvida: o paciente que não tem acesso ao tratamento robótico estará menos assistido?
Na cirurgia robótica, a via de acesso envolve incisões menores comparada à cirurgia aberta e o cirurgião realiza a cirurgia controlando remotamente o braço do robô através de joysticks e pedais, em um módulo satélite (console) que permite simultaneamente visualizar o campo cirúrgico em monitores de alta definição de imagem. Essa tecnologia não descarta a possibilidade de converter a cirurgia minimamente invasiva em cirurgia aberta, caso seja necessário. Esta situação e outros riscos devem ser informados ao paciente antes do ato cirúrgico, pelo médico que indicou o procedimento.
Em uma recente revisão que estudou 50 trabalhos científicos randomizados, comparando cirurgias robóticas versus métodos convencionais para cirurgias de abdome e pelve, revelou-se que, embora possa haver alguns benefícios na cirurgia robótica, os resultados finais em relação à cirurgia aberta convencional são discretos. Afirmar que os robôs permitem maior precisão durante a operação, menor tempo de recuperação e geralmente melhores resultados clínicos para os pacientes é factível, mas a revisão revelou que há pouca diferença entre os dois tipos de abordagem.
Em 39 estudos analisados, os autores observaram complicações que necessitaram de reintervenções cirúrgicas em 9% das laparoscopias e em 8% das operações robóticas. A taxa de conversão (quando o cirurgião muda da cirurgia minimamente invasiva para cirurgia aberta) foi de 8% em operações robóticas e até 12% em laparoscopias, para todas as modalidades cirúrgicas. Em cirurgias urológicas, quase não houve diferença entre as operações assistidas por robô e as laparoscopias, em relação ao número de operações que tiveram que ser convertidas para procedimentos abertos. Quanto à taxa de mortalidade, os trabalhos avaliados mostraram que foram semelhantes em todas as três técnicas (robótica, laparoscopia e cirurgia aberta).
Outro ponto abordado no estudo científico foi o custo da cirurgia robótica, que foi considerada a mais onerosa dos métodos estudados.
As conclusões da revisão dos trabalhos científicos permitem afirmar que os resultados pós-operatórios são semelhantes, independentemente da abordagem cirúrgica. O importante, para o paciente, é optar por um cirurgião especializado e experiente, além de uma equipe bem treinada, independente da técnica cirúrgica (aberta ou minimamente invasiva).
Em minha opinião, considero que a cirurgia robótica é uma realidade e tende a se tornar o padrão ‘standard’ em cirurgia em questão de tempo. Mas não posso deixar de responder à questão: os resultados finais são os mesmos, considerando as cirurgias convencionais e a robótica? Neste momento, a resposta é afirmativa, conforme demonstrado na revisão dos trabalhos científicos. E quanto à dúvida: o paciente que não tem acesso ao tratamento robótico estará menos assistido? A resposta é não, desde que o cirurgião e equipe tenham experiência e expertise na doença a ser tratada e na técnica cirúrgica escolhida.
*Marco Aurélio Lipay é Doutor em Cirurgia (Urologia) pela UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo), Titular em Urologia pela Sociedade Brasileira de Urologia, Membro Correspondente da Associação Americana e Latino Americano de Urologia e Autor do Livro “Genética Oncológica Aplicada à Urologia”.