Estudo analisa a Jornada do Paciente Diabético no ambiente digital
Uma netnografia elaborada pela SA365 Health+Life, divisão de saúde e bem-estar da agência SA365, aponta que o crescimento de diabetes resulta na criação de novos espaços de debates no ambiente digital. Contudo, o estudo revelou que esse aumento também se deve à relação da doença com os casos da Covid-19, que provocou maior dificuldade no acesso e manutenção da alimentação saudável, menores índices de atividade física e evasão do sistema de saúde.
A metodologia utilizada se baseia na netnografia, que pode ser compreendida como um modelo de pesquisa etnográfica com enfoque maior nas comunidades digitais. Para isso, foram utilizados dados de popularidade do Google Trends, postagens no Twitter e monitoramento de grupos no Facebook e de comunidades no Instagram. Já o objetivo, segundo os responsáveis, foi entender o indivíduo e comunidades através da investigação de suas ações em relação a diabetes no ambiente digital.
Em 2021, 6,7 milhões de pessoas morreram no mundo em decorrência da doença. Já no Brasil, foram mais de 214 mil mortes, de pessoas entre 20 e 79 anos. Entre os 1,2 milhão de pacientes com diagnóstico de pré- diabetes, 57% deixaram de realizar exames de rotina no período de outubro de 2020 a setembro de 2021. No caso dos pacientes com diabetes, essa proporção sobe para 64%.
Nos últimos dois anos houve um crescimento de 16% da doença em âmbito global, segundo a Federação Internacional de Diabetes. Já são 537 milhões de adultos diabéticos no mundo, sendo mais de 16 milhões apenas no Brasil. O aumento desenfreado da doença em todo mundo é considerado pela Organização Mundial da Saúde, uma pandemia.
O Brasil é o quinto país com mais incidências de casos da doença, com 16,8 milhões de adultos e 7% da população mundial. A previsão é de que até 2030 esse número cresça 27,9%, chegando a 21,5 milhões de adultos doentes no país.
Nos últimos cinco anos no Brasil, as buscas pelos termos “Diabetes” e “Diabetes Mellitus” se mantiveram em crescimento constante, motivado especialmente pela intenção de identificar alguns sintomas como: micção, perda de visão, diminuição abrupta de peso e alimentos benéficos ou maléficos: frutas, chás e especiarias para o tratamento da doença.
Além disso, a pesquisa identificou que existem oito públicos interessados no tema no Brasil: médicos, nutricionistas, fisioterapeutas, personal trainer, pacientes, cuidadores, familiares e mídia tradicional.
Principais temáticas relacionadas a diabetes nas redes sociais
Os assuntos mais compartilhados e que geram mais engajamento pelos usuários sobre a diabetes nas redes sociais podem ser agrupados em nove categorias: hábitos alimentares; prática de exercícios frequentes; a rotina dos pacientes; a prevenção da doença e qualidade de vida; sedentarismo e sobrepeso; consolo, troca de experiências e rede de apoio; complicações; tratamentos alternativos e aplicativos.
Fora do Brasil, já se fala sobre a relação entre o Alzheimer e a Diabetes tipo três. O conhecimento científico parece avançar na identificação de causas e prevenção da queda de funções cognitivas, em especial pelos avanços de áreas como neurociência e metabolismo.
A jornada do paciente no ambiente online
O digital abarca debates que envolvem toda jornada do paciente, desde a prevenção debatida por pré- diabéticos e profissionais da saúde, passando pela suspeita da doença, discussão de sintomatologia até o diagnóstico e busca por tratamentos, controle e reversão de diabetes.
Após a constatação do quadro, há o início do tratamento medicamentoso para controlar a glicemia quando necessário, dependendo do tipo e estágio da doença. Já no caso dos pré-diabéticos, a mudança nos hábitos é fundamental para reversão do quadro.
Os pacientes e familiares pesquisam no Google, de forma autônoma, tratamentos, receitas naturais e profissionais entusiastas desta vertente de controle de diabetes. Além disso, os pacientes também compartilham histórias, à procura de conforto e motivação para reproduzirem suas experiências e conviver com qualidade de vida com a doença.
Os médicos desempenham nas conversas sobre a diabetes dois papéis: educação e informação. Eles educam e informam, sobretudo através de vídeos, orientando pacientes desde o diagnóstico na identificação de sintomas até o tratamento e controle do quadro. Drauzio Varella, por exemplo, é um dos destaques neste tipo de comunicação e já acumula mais de 3 milhões de seguidores no YouTube e mais de 1 milhão de seguidores no Instagram.
No Instagram, outros tipos de debates ganham força como o movimento “Divabéticas”, criado pela produtora de conteúdo, Fabi Couto. A ideia é voltada para o público feminino, a fim de promover a educação sobre a doença e dar visibilidade para histórias de mulheres com diabetes que inspiram e transformam.
O ambiente digital fomenta uma comunidade online de discussão sobre o assunto, dando autonomia a médicos e pacientes para conduzir as conversas e influenciar outras pessoas.
A netnografia apontou também como cada tipo de debate é conduzido nas redes sociais
Facebook: As conversas concentram-se nos grupos públicos e privados. A maior parte das discussões trata do tema alimentação com fóruns de troca de receita e dietas. Tem uma forte participação do público familiar, especialmente mães que buscam receitas para os filhos.
Instagram: O público principal são os médicos, nutricionistas, personal trainers e pacientes produtores de conteúdo. Existe um diário da rotina de pacientes que registram o dia a dia de controle e convivência com a diabetes: lives, reels, IG TV e dicas práticas.
YouTube: Nesta plataforma, os usuários consomem informações de profissionais de saúde, especialmente médicos, nutricionistas, fisioterapeutas, personal trainers e profissionais da saúde e ciência de modo geral.
Twitter: Já nessa rede, há notícias, menções à doença com relatos pessoais e de familiares, memes e citações a eventos e campanhas de conscientização.
Tik Tok: No Brasil o compartilhamento sobre o tema ainda é tímido, mas vem ganhando força com o público adolescente que compartilha sua rotina sobre a doença e memes.
Nota-se que no online o debate sobre alimentação e exercícios como controle e tratamento ganham destaque e são liderados pelos próprios usuários, enquanto a prevenção, é pouco abordada. Com o aumento da doença nos últimos dois anos e uma projeção pessimista para o futuro, há uma grande lacuna que pode ser preenchida por marcas e empresas do setor de saúde, para tirar as dúvidas dos pacientes com diabetes, trazendo informações que tenham respaldo científico e clínico.