Covid-19 e a evolução na indústria da saúde no Brasil

Por Walderez Fogarolli

A pandemia da Covid-19 trouxe um transtorno e um desequilíbrio para a sociedade em todo o mundo, mas também proporcionou vários aprendizados. No mercado de saúde, a crise acelerou a criação de soluções digitais e é fato que este movimento está apenas começando. Ainda temos muitos desafios a serem enfrentados que incluem aprimorar soluções tecnológicas para o atendimento aos pacientes e aumentar a eficiência de processos e tratamentos.

Ao fazermos um balanço sobre esses últimos dois anos difíceis, podemos ver que a indústria da saúde se transformou, assim como as expectativas das pessoas também mudaram. A pandemia trouxe uma grande preocupação dos consumidores em relação ao seu próprio bem-estar e agora eles buscam encontrar recursos que permitam cuidar de si mesmos. O paciente está mais consciente sobre a própria saúde e quer ter participação ativa nos tratamentos.

A tecnologia permite maior autonomia no processo de gerenciamento da própria saúde. De consultas on-line a aplicativos que monitoram atividades físicas, sono, nível de estresse, as ferramentas de saúde ficaram mais próximas e mais personalizadas. É inegável o potencial para a indústria da saúde de utilizar dados coletados nesses novos tipos de interações para tomada de decisão clínica e estruturar algoritmos preditivos. Se os indivíduos consentirem o uso dessas informações pessoais, isso pode trazer um grande benefício para os médicos que conduzem pesquisas.

A telemedicina adquiriu força em tempos de pandemia e existe uma tendência desta prática se consolidar em diversos países, isso inclui o Brasil. Tanto médicos quanto pacientes quebraram uma barreira em relação ao atendimento à distância e houve a percepção de que muitos problemas poderiam ser resolvidos sem a ida a um pronto-socorro. Esta mudança cultural associada a uma evolução tecnológica do atendimento remoto permitirá um uso mais equilibrado da estrutura de saúde hospitalar com um menor custo e maior comodidade para o usuário. Mas, além de se preocupar com o aprimoramento da conectividade para ampliar o acesso a esse sistema, é preciso que as empresas de saúde e as equipes médicas continuem protegendo a privacidade e os dados dos pacientes.

A acessibilidade da prestação de cuidados de saúde também tem sido um grande avanço. Pessoas que vivem em áreas remotas ou possuem restrição de mobilidade conseguem realizar tratamentos de forma rápida e eficiente, o que possibilita uma abrangência territorial bastante positiva. Este é um ganho para a atenção primária à saúde que tem como principal objetivo promover a saúde das pessoas de forma preventiva, e não necessariamente realizar o tratamento de doenças buscando melhor qualidade de vida, diagnóstico precoce e direcionamento para atendimento adequado. Além disso, contribui para o equilíbrio de custos assistenciais pois evita desperdício, diminui o uso indevido de pronto-socorro e custos elevados com doenças avançadas.

Empresas também demonstram grande preocupação na manutenção do bem-estar de seus empregados, e estão atuando fortemente na sensibilização do autocuidado e na disponibilização de campanhas e programas com foco no bem-estar físico e emocional. Uma pesquisa da WTW mostra que nos últimos seis anos houve um aumento de 33% no percentual de empresas que acreditam que a alta administração está genuinamente interessada no bem-estar dos empregados e suas famílias.

Por fim, ao falarmos de evolução, não podemos deixar de citar a velocidade impressionante com que as vacinas da Covid-19 foram aprovadas e colocadas no mercado, o que mostrou uma indústria muito mais ágil e flexível. Acredito que a tendência é que a indústria utilize desta velocidade para avançar na descoberta de outros tipos de medicamentos e melhorias de processos.

A indústria da saúde evoluiu positivamente no mundo e isso felizmente vai mudar muitas vidas. Aqui no Brasil ainda enfrentamos vários entraves, mas existe o ponto positivo de que as pessoas estão entendendo mais da complexidade desse setor e da necessidade de se ter mais consciência com a saúde individual e coletiva.


*Walderez Fogarolli é Diretora de gestão de saúde da WTW.

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