Por que ainda existe resistência quanto ao uso da telemedicina?
Por Bruno Carvalho
A medicina se viu em uma corrida contra o tempo para desenvolver vacinas e medicamentos que pudessem combater um vírus que rapidamente se alastrou pelo mundo. Em questão de um ano e meio, a comunidade científica registrou avanços e descobertas que poderiam demorar cerca de cinco anos para virem à tona. A inovação obtida deve permanecer e possibilitar uma disrupção ainda maior na área de saúde. Embora outros setores tenham avançado e sido encarados com naturalidade pela sociedade, a medicina ainda enfrenta certa resistência em algumas áreas, como a telemedicina, que tanto cresceu na pandemia.
Um estudo publicado na revista científica Plos One em julho deste ano mostrou que a telemedicina cresceu 800% no Brasil. Esse expressivo número acompanhou uma tendência global e mostrou o poder da tecnologia na área da saúde. O cenário crítico foi responsável por vivenciarmos um avanço de cinco anos em um período de quase dois anos. O teleatendimento também foi responsável por trazer um atendimento humanizado para pacientes que viviam em lugares remotos do País.
Mesmo com todos esses benefícios, ainda há uma expressiva resistência à telessaúde. O argumento utilizado pelos defensores do atendimento presencial é a confiança entre médico e paciente em tratamentos a longo prazo. Mas é preciso entender que o atendimento on-line proporciona conveniência para pessoas que não podem sair de casa, não somente por conta dos riscos de contaminação, mas pela praticidade de ter um rápido diagnóstico.
No início da pandemia, outros países além do Brasil possuíam grandes restrições na regulamentação da telemedicina. À medida em que as autoridades viram o papel da telessaúde para contribuir com um atendimento mais amplo e ágil da população, a prática passou a ser incentivada. Os atendimentos on-line também foram um desafogo para os hospitais, que viviam com leitos lotados por pacientes que lutavam e lutam contra o vírus. A telemedicina também foi um alento para milhões de médicos de clínicas particulares, que conseguiram manter suas rendas diante da crise.
Em termos de efetividades dos diagnósticos feitos através da teleconsultas, o método é benéfico tanto para paciente quanto para o corpo clínico. Um exemplo disso é um paciente que possui um problema crônico e que precisa de acompanhamento recorrente. Com a telemedicina, o médico consegue fazer um acompanhamento mensal, enquanto presencialmente só poderia fazer a cada três meses.
Além da praticidade, os médicos que atendem on-line passaram a ter uma base de dados muito mais rica de seus pacientes. O uso da inteligência artificial foi uma forte aliada neste processo. Enquanto o paciente aguarda ser atendido pelo médico, assistentes virtuais conseguem coletar informações precisas, que seriam perguntadas pelo médico. A consulta, então, passa a ser mais eficiente e humanizada. Quanto maior a riqueza de detalhes do paciente, o corpo clínico tem ainda mais sucesso em seus diagnósticos. Para o futuro da saúde digital, será preciso pensar na mudança de cultura dentro do sistema de saúde e no lado do paciente. Será essa mudança de cultura que determinará o que acontecerá com a telemedicina nos próximos cinco anos.
*Bruno Carvalho é CEO da Kompa Saúde.