O suporte à decisão clínica para a redução de eventos adversos
Por Christian Cella
Os casos de eventos adversos têm sido um dos maiores desafios para os sistemas sanitários em todo o mundo. De acordo com dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), é estimado que, anualmente, quase 43 milhões de pessoas sejam afetadas por estas ocorrências. Nesse sentido, as soluções de suporte à decisão clínica tornaram-se grandes aliadas no combate aos erros médicos e na redução do ainda expressivo número de eventos adversos dentro das instituições de saúde.
Vale ressaltar que eventos adversos são considerados, por definição, quaisquer ações que possam resultar em danos desnecessários a pacientes do sistema de saúde, seja público ou privado. Neste sentido, essas ocorrências têm impacto significativo, não apenas no que se refere à qualidade do cuidado ao paciente, mas também para os custos e desperdícios dentro das organizações.
Quando o assunto são as prescrições de medicamentos, embora muitas instituições já utilizem soluções que visam reduzir estes erros, na maioria das vezes, o nível de maturidade destas ferramentas é muito diferente. Quanto mais alto o nível de maturidade, maior também a personalização da análise da prescrição, ou seja, avaliações mais complexas e que dificilmente seriam realizadas individualmente. Diante deste contexto, quanto mais uniforme e elevado o nível de maturidade das soluções, maior seria a redução do volume destes eventos.
Diferentes níveis de maturidade das soluções de suporte à decisão clínica
O mercado de saúde está repleto de soluções tecnológicas que suportam as decisões clínicas no que diz respeito às prescrições médicas. No entanto, a variabilidade da maturidade destas soluções interfere diretamente no resultado esperado pelas instituições ao aderirem este tipo de recurso.
Neste contexto, nos primeiros dois níveis de maturidade, as soluções não são otimizadas, uma vez que as interações analisadas ainda são muito básicas. Isto quer dizer que levam em consideração apenas as informações referentes aos medicamentos e a interação entre eles. Neste tipo de operação, os dados relacionados ao paciente são escassos. Além disso, o impacto é limitado devido ao número excessivo de alertas de pouco valor, o que pode resultar no que chamamos de fadiga por alertas. Na maioria dos casos, estas soluções são implementadas nas instituições, mas não são utilizadas pelo corpo clínico.
A partir do nível 3, estas soluções de análise de erros tornam-se importantes ferramentas de suporte à decisão clínica, com qualidade de alertas e complexidade de triagem muito mais elevados. Isto acontece porque as informações referentes ao paciente, como peso, morbidades, entre outros, são muito mais completas e garantem uma análise mais detalhada. A assertividade alcançada neste nível de maturidade pode gerar uma redução expressiva de custos para as instituições. Já no nível 4, isso se transforma em um processo contínuo de aumento de informações do paciente, com alertas ainda mais eficazes e personalizados.
Principais características das soluções de alto nível de maturidade
Com objetivo de atingir os requisitos de suporte à decisão clínica, muitas instituições optam pela implementação de soluções a curto prazo, o que significa investir em ferramentas com maturidade de nível 2. Em um primeiro momento, pode até ser que esta tecnologia contribua com os objetivos iniciais da instituição. No entanto, as características observadas nestes sistemas inviabilizam a utilização ao longo do tempo, penalizando o cumprimento de objetivos a longo prazo.
Neste sentido, além da checagem dos erros de medicamento e o conteúdo baseado em evidências, existem características técnicas que podem transformar estas soluções, desde o nível básico ao avançado. A primeira e principal característica que diferencia os níveis destas soluções é a forma como os alertas são integrados no workflow do prontuário eletrônico. Nos níveis mais baixos, os alertas chegam ao fim do fluxo de prescrição. Já nos níveis avançados, o alerta é produzido em todas as etapas do processo de prescrição.
Este detalhe garante assertividade no suporte à decisão clínica, uma vez que promove uma experiência de uso totalmente integrada ao prontuário. A partir disso, diversos impactos podem ser notados. Além dos médicos terem a experiência de uso desde o primeiro prontuário, a característica pode melhorar a eficiência, reduzindo possíveis erros na tomada de decisão, bem como auxiliar o corpo clínico a aderir práticas mais eficazes e atualizadas.
Outro ponto importante na diferenciação das soluções avançadas é a possibilidade de aumentar o impacto clínico de prescrição, coletando e interpretando os dados do sistema e, assim, personalizando e adaptando os detalhes do caso, ou as exigências do usuário. Neste sentido, os usuários juniores recebem mais alertas, enquanto os seniores têm a possibilidade de receber as mensagens apenas para alertas mais graves.
Por fim, e talvez o fator mais importante, é a existência de uma integração destas soluções a uma base de dados que receba atualizações constantes, já que a evidência médica continua se atualizando a cada dia. Para um hospital, é impossível manter uma base de conhecimento tão complexa e atualizada, individualmente. Por isso, contar com o apoio efetivo da tecnologia e dos recursos de suporte à decisão clínica pode ser a chave para uma operação mais eficiente. Não só os profissionais da saúde estarão melhor informados e amparados, mas também os gestores poderão traçar perspectivas mais assertivas sobre a qualidade do cuidado e a segurança do paciente.
*Christian Cella é VP Medi-Span International, Clinical Effectiveness da Wolters Kluwer.