Ascensão das healthtechs está transformando a atenção à saúde
Nos últimos cinco anos, o número de empresas de tecnologia em saúde no Brasil explodiu com um aumento de mais de 140%. Para tratar dessa transformação, o Brazil-Florida Business Council – BFBC- promoveu um painel online com participantes-chave na indústria digital de saúde no Brasil, que discutiram as tendências de mercado, oportunidades de investimento e histórias de sucesso. O evento foi organizado pelo Comitê de Inovação e Tecnologia da BFBC, com o apoio da Duff e Phelps, uma empresa do grupo Kroll Business.
A presidente do Conselho Empresarial Brasil-Florida (BFBC), Sueli Bonaparte, destacou que a iniciativa “Brazil-Florida Innovation Forum”, conceitualizada pela comissão de inovação e tecnologia da BFBC, vai focar em segmentos mais promissores do ecossistema de inovação que estão transformando a maneira como vivemos, divertimos e trabalhamos. Durante a pandemia, o mercado de healthtechs disparou e elas se tornaram protagonistas na luta contra a Covid-19, por meio de soluções inovadoras da assistência aos pacientes e especialistas de algumas delas estão no debate de hoje”. Este setor não poderia ser mais relevante por causa da pandemia e do crescimento das startups”, analisou.
Lembrando que houve uma grande restruturação do setor de saúde e no mundo nos últimos três anos, o moderador Alexandre Pierantoni, diretor-executivo e head de Finanças Corporativas da Duff e Phelps, do Grupo Kroll Business, destacou que a pandemia antecipou de forma brusca uma demanda do setor que além de alavancar e acelera muito as transformações tecnológicas.
Segundo ele, no Brasil houve mais de 80 transações no setor de saúde nos últimos oito meses. “Foi quebrado um recorde no setor de mercado de capitais e aconteceu até naturalmente pela liquidez na economia. O governo realocou recursos para investimentos neste setor econômico real pela atratividade do segmento de saúde. As healthtechs representam um risco menor que outros setores pela própria demanda e oportunidades de crescimento”, justificou ele.
Riscos menores
Pierantoni alegou que essas novas empresas de tecnologia em saúde representam um risco menor que outros setores pela própria demanda e oportunidades de crescimento. Por conta desta nova tendência de expansão surgiram investidores de private equity e venture capital. “Nos últimos meses deste ano houve mais de R$ 33 bilhões investidos em venture capital, sendo a maior parte deles paga pelo setor de saúde. As empresas de tecnologia em saúde arrecadaram muitos investimentos aproveitando o momento”, observou.
De acordo com o executivo tem sido um momento de muita verticalização das empresas com discussões em inteligência artificial e big data no âmbito de hospitais, laboratórios, clínicas de saúde e de serviços de diagnósticos. “Nos últimos 20 meses ocorreu uma explosão no crescimento de healthtechs mostrando novas tecnologias, especialmente em telemedicina, o que permitiu a expansão geográfica de empresas, com maior verticalização na busca de redução de custos”, afirmou.
Para o moderador do painel a complementariedade dos serviços ficou cada vez mais importante por isso essa segurança em investimentos deve continuar nos próximos anos para a iniciativa privada.
Próxima onda
Projetando uma forte mudança no mercado, o empresário Gustavo Araújo, cofundador e CEO da Distrito, disse que o cenário que está sendo visto hoje no mercado de healthtech talvez já seja a próxima onda, tal qual aconteceu com as fintechs. “Atualmente os investimentos em saúde born stage depois das fintechs são até maiores que os do setor de educação e até mesmo os do varejo”, comparou. “Isso é um comportamento típico de que o negócio vai ‘explodir’ e se aquece ainda mais porque há um grande aumento nas transações de investimentos anjo e CID, além de outros indicativos”.
Por isso o mercado deve sofrer grandes transformações, inclusive com surgimento de empresas ‘unicórnios’. Araújo constatou que nos últimos nove anos houve movimentos muito parecidos com os da fintechs. “O momento de se posicionar é agora, porque se fizer isso daqui a três anos vai ficar caro, como hoje é no segmento das fintechs”, avaliou.
No momento, sua empresa já monitora 981 healthtechs no Brasil e nesse formato na América Latina chegam a 4 mil empresas. O setor é dominado por três grandes categorias: startups de gestão como prontuário eletrônico, prescrição eletrônica de medicamentos e exames; a outra fração é constituída por plataforma de acesso à saúde e por fim estão as empresas de telemedicina.
Há três anos esse mercado praticamente não existia. Atualmente, muitos recordes estão sendo quebrados no setor como a criação de mais de 34 mil startups. Há crescimento na América Latina de inúmeras startups para venture capital e já foram investidos R$ 7 bilhões, ou seja, 10 vezes mais que aquilo que foi investido cinco anos atrás. O setor visualiza para os próximos quatro anos aportes no Brasil de mais de R$ 10 bilhões.
Regulamentação
Sobre a regulação do setor Guilherme Weigert, CEO e cofundador da Conexa Saúde, frisou que os players sempre consideram primeiro questões como junção e inovação, e focam muito mais na experiência do usuário e na atração da melhoria do serviço para a sociedade. A regulamentação vem depois como obrigação. “Ela fica melhor desenhada porque há experiências e práticas, além de diversidade de dados e pesquisas. Assim se consegue cruzar muitas informações”, expõe.
O sócio e head da Memed Inteligência Clínica, Fabio Tabalipa, contou que vivenciou bastante o desenvolvimento deste mercado e sua explosão, mas salientou a barreira da regulação e objeções de médicos e usuários, setor que passou quase duas décadas sem regulação em telemedicina. No entanto, com o surgimento da pandemia houve um avanço. “Com o lockdown surgiram vários movimentos favoráveis pela necessidade do atendimento à distância, da telemedicina e da digitalização. Com a Covid se avançou décadas em semanas. No tocante às objeções dos médicos, o que mais se encontrou foi a falta de entendimentos das tecnologias, porque os profissionais de saúde achavam que eram muito complexas. Mas no tocante aos usuários elas estão caindo”, analisou.
Já Flávio Takaoka fundador e presidente do conselho da Takaoka Anesthesia Medical Group e membro do conselho médico da Alice e Fin-X, fez um relato mencionando aspectos de marketing, além de sua experiência com treinamento, educação e preparação médica. Ele mencionou a combinação da tecnologia com a inteligência artificial para melhor experiência do resultado final.
Assimetrias
Em seu painel, Martin Nelzow, fundador e CEO da RX PRO, da healthtech Afya Digital, ressaltou que o mercado de saúde é de US$ 1 trilhão. “O sistema traz profundas assimetrias, apesar de ter recebido fortes inovações nesse contexto da pandemia. Em menos de um ano, não havia vacinas, mas quando desafiado o setor conseguiu trazer soluções. Esse ‘ecossistema’ de inovação tem muitas possibilidades a partir da missão que vem por trás. Nele as soluções virão conectadas entre si”, argumentou.
“O Brasil tem cerca de 500 mil médicos, mas efetivamente atualizados com o que existe de novo na indústria farmacêutica devem existir entre 150 mil e 200 mil profissionais. Isso tem a ver com o regionalismo brasileiro e com as cidades onde trabalham. Há, portanto, um grupo que não tem acesso à atualização em soluções de saúde”, interpretou.
Finalizando, o moderador Alexandre Pierantoni defendeu a necessidade no desenvolvimento e de recursos para esse tipo de treinamento. “Há diferentes perfis de investidores e intenção de participar nesse novo negócio das healthtechs”, concluiu.