Exames genéticos podem reduzir casos de câncer de mama
Em outubro, começam as campanhas mundiais de conscientização e prevenção ao câncer de mama como estratégia do setor de saúde para impedir o surgimento de novos casos e evitar mortes. Um levantamento do Instituto Nacional de Câncer (INCA) revelou que a doença causou 18.295 mortes no Brasil, sendo 18.068 mulheres e 227 homens em 2019. O mesmo instituto estima ainda que possam surgir mais de 66 mil casos no triênio 2020-2022.
O cenário se torna mais preocupante porque muitas pessoas deixaram de lado a realização de exames de rotina na pandemia, visando evitar a ida a hospitais e laboratórios. Segundo pesquisa da Rede Brasileira de Pesquisa em Câncer de Mama, em conjunto com a Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM), houve uma queda de 45% no número de exames de mamografia no período de janeiro a julho de 2020, comparado com o mesmo período de 2019.
Todos esses dados trazem à tona a importância das campanhas preventivas, que precisam ser redobradas a partir de agora com o avanço da vacinação. O desafio do setor hospitalar, bem como o poder público, é incentivar a medicina preventiva com campanhas regulares durante o ano, indo além apenas do Outubro Rosa. A recomendação básica do Ministério da Saúde é de que exames de mamografia de rastreamento sejam realizados a cada dois anos por mulheres com idade entre 50 e 69 anos, mesmo quando não existem sinais de suspeita da doença. No caso de mulheres que já têm casos na família ou apresentarem sintomas, o indicado é fazer uma avaliação prévia com seus médicos para saber se é necessário realizar algum exame específico.
Neste contexto, os exames genéticos e investimentos na área de biotecnologia tornam-se grandes aliados nas campanhas preditivas. A informação de uma possível predisposição fornece ao paciente uma chance maior de cura e aumento de sobrevida, uma vez que possibilita a intervenção antes do desenvolvimento do câncer propriamente dito ou em suas fases iniciais, quando o tratamento é, na maioria dos casos, mais efetivo.
Do total de casos de câncer de mama, cerca de 5% a 10% estão relacionados às condições genéticas e hereditárias, segundo o INCA. Apesar de parecer pouco, investir em ações direcionadas a estes casos faz com que novos casos diminuam e, assim, é possível redirecionar recursos e pesquisas científicas específicas visando solucionar outros fatores que contribuem para o surgimento da doença.
Um dos casos mais populares sobre essa questão foi quando a atriz Angelina Jolie realizou um teste de DNA e descobriu a partir dele que possuía o gene BRCA1, que aumentava as chances de desenvolver tumores nas mamas e ovários. Sua avó, tia e mãe já haviam falecido de câncer de mama. Com o resultado, a atriz decidiu se submeter a uma cirurgia para retirar as mamas e ovários, mesmo sem apresentar um tumor. A decisão fez com que ela reduzisse drasticamente as chances de desenvolver um câncer. Este fato popularizou os exames e provocou um aumento na procura por eles.
Apesar disso, é importante ressaltar que a realização de exames genéticos não anula a necessidade de realizar uma mamografia, porém eles servem para mapear variantes genéticas associadas a doenças e outras características. A principal diferença entre os dois exames é que o exame de DNA analisa se há ou não a presença de marcadores relacionados ao aumento da predisposição da doença, ou seja, é preventivo, enquanto a mamografia detecta diretamente a ocorrência ou não de células cancerosas. Desta forma, o exame genético não precisa ser realizado somente a partir dos 50 anos.
A verdade é que o investimento em exames genéticos permite que as pessoas tomem decisões mais informadas sobre seus cuidados de saúde, incluindo medidas para reduzir o risco de câncer e desenvolver a doença. Além disso, as pessoas com um resultado positivo podem optar por participar de estudos clínicos que podem, a longo prazo, contribuir com redução no número de mortes por câncer hereditário de mama e de ovário.
*Euclides Matheucci Jr. é co-fundador e presidente da empresa DNA Consult.