Ultrassom pulmonar auxilia no diagnóstico de Covid-19
Por Cristina Chammas
Passados 17 meses desde que foi decretada a pandemia de Covid-19 pela Organização Mundial da Saúde (OMS), podemos listar muitos desafios enfrentados e aprendizados conquistados. A vacinação está caminhando, os casos estão numa curva decrescente no Brasil, governos avançam nas flexibilizações das atividades econômicas, mas os cuidados precisam ser mantidos para proteção individual e coletiva.
Lá atrás, quando tudo ainda era desconhecido – para médicos, cientistas e toda a comunidade da saúde envolvida de forma abrupta no enfrentamento da pandemia e nos cuidados com os pacientes – era cedo para se falar em aprendizados. Havia uma urgência maior: preservar vidas nos leitos hospitalares e proteger as pessoas de um vírus que se propagava rapidamente.
Hoje, com mais conhecimento sobre diagnóstico e tratamentos, é possível analisar o que a pandemia ensinou a todos, sobretudo para a classe médica. E eis que um dos aprendizados diz respeito a um exame aplicado há 71 anos, aliado importante na tomada de decisões em consultórios e salas de cirurgias: o ultrassom.
Ausência de radiação, baixo custo, redução no deslocamento e manejo de pacientes infectados, além de fácil acompanhamento diário da evolução do acometimento pulmonar. Estas são algumas das vantagens da realização de ultrassonografia pulmonar para o diagnóstico de pacientes com Covid-19.
O Grupo de Estudo de Ultrassom para Cuidados Críticos da China (CCUSG – Chinese Critical Care Ultrasound Study Group) publicou na Intensive Care Medicine, plataforma de publicações científicas, o artigo “Achados de ultrassonografia pulmonar de pneumonia por coronavírus” (Findings of lung ultrasonography of novel corona virus pneumonia), sobre alterações pulmonares detectadas pelo método.
Entre abril e dezembro de 2020, foram realizados 2.467 exames no Instituto de Radiologia (InRad) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP), entre tomografias e ultrassom de tórax para diagnóstico de Covid-19. Esse ano, até julho, foram outros 1.745 procedimentos. As evidências têm nos mostrado que os exames de ultrassonografia podem ser importantes aliados no diagnóstico de pacientes com a Covid-19.
As manifestações do vírus que temos visto em exames de tomografia também são perceptíveis no ultrassom, e isso é algo diferente e novo.
Um trabalho semelhante, realizado por instituições de vários países e publicado pelo Instituto Americano de Ultrassom em Medicina (American Institute of Ultrasound in Medicine, da sigla em inglês AIUM), também aponta que o método pode, em algumas situações, auxiliar na triagem inicial em pacientes com a doença. Em caso de desenvolvimento de doença pulmonar pela Covid-19, geralmente as áreas superficiais dos pulmões são afetadas, sendo essas as regiões mais facilmente acessíveis pela ultrassonografia.
A ultrassonografia é o método diagnóstico por imagem que utiliza ultrassom para sua execução. A pesquisa sobre aplicações médicas se deu após a segunda guerra mundial, pelos médicos Douglas Howry e W. Roderic Bliss, que obtiveram a primeira imagem em 1950, em preto e branco. Um novo entusiasmo surgiu com a introdução da escala de cinza, em 1971 por Kossof, na Austrália, até conhecermos o método como é hoje.
O Instituto de Radiologia (InRad) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP) é um centro de excelência em pesquisa, diagnóstico e terapias por imagem. Tem em sua essência a constante evolução e está acompanhando a transformação digital que foi acelerada pela pandemia e caminha a passos rápidos para elevar o patamar dos diagnósticos por imagem.
Uma das transformações em curso é a migração de mais de 200 milhões de exames de diagnóstico por imagem e a implantação de sistema para armazenar mais de 1 milhão de exames por ano. Melhorias que impactam positivamente na experiência do paciente, na jornada do médico e agregam versatilidade, segurança e mais qualidade no atendimento.
*Cristina Chammas é médica radiologista e diretora do Serviço de Ultrassonografia do Instituto de Radiologia (InRad) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP).