Médicas que deixaram legados na tecnologia da saúde
Quem disse que tecnologia na saúde é coisa de homem? A importância da tecnologia é imensa para a assertividade na medicina. E no mês das mulheres a Medtronic, maior empresa de dispositivos e soluções médicas do mundo reuniu, no último 29/03, em evento virtual, Paula Poletti, médica que apostou nos tratamentos com cápsula endoscópica no País e Lenises de Paula, cardiologista especializada em marcapasso – a terceira mulher do Brasil a se especializar na modalidade e a única do estado da Bahia. Participaram também Audrey Tsunoda, cirurgiã oncologista especializada em robótica e Sthela Regadas, ex-presidente da Sociedade Brasileira de Coloproctologia.
Tanto para Audrey Tsunoda, quanto para Sthela Regadas, o ritmo intenso da medicina não impediu que elas deixassem marcos históricos na tecnologia da saúde, sem abrir mão da maternidade.
Sthela nasceu em uma cidade pequena do Maranhão, mas hoje vive no Ceará. Durante a residência ela foi desafiada por professores sobre a capacidade de concluir o curso, mas também fez o mesmo com eles “vocês vão ouvir o meu nome na história da medicina”. Determinada, ela concluiu a residência em cirurgia geral e foi em busca de residência em coloproctologia. Finalizou a modalidade e logo iniciou o mestrado. Neste período, engravidou, mas a maternidade não foi um empecilho para a médica seguir com um sonho – desenvolver a área de assoalho pélvico no Brasil. Ela trouxe para o País o primeiro ultrassom tridimensional, que possibilita avaliação precisa da anatomia da pelve.
“Em Curitiba eu conheci o grande amor da minha vida, o meu esposo Bruno, e tivemos duas filhas. Esse grande recomeço da minha carreira me brindou com esse lado pessoal espetacular. Às vezes achamos que estamos dando um passo para trás, mas na verdade estamos é avançado, e muito, para várias direções que nem imaginávamos”. A citação é de Audrey Tsunoda, médica que avançou a técnica da robótica na oncologia. Ela aperfeiçoou a técnica, junto com uma equipe internacional de especialistas, em Barretos, e começou a aplicar a robótica na oncologia. Ao finalizar o projeto, ela retornou para Curitiba, casou-se e hoje atua no Hospital Erasto Gaertner. É professora titular da Universidade Positivo e diretora de curso do IRCAD América Latina/Barretos.
PIONEIRISMO
A responsável por trazer para o País um dos mais avançados tratamentos digestivos – a capsula endoscópica, Paula Bolleti soube da tecnologia em um congresso americano, mas foi bastante criticada ao acreditar no tratamento.
O exame com cápsula endoscópica é um procedimento em que a pessoa ingere uma cápsula alimentada por bateria. A cápsula contém câmeras e faz imagens de todo o aparelho digestivo, detectando regiões que o exame convencional de endoscopia não consegue capturar. Ela consegue captar com precisão o motivo de possíveis hemorragias. A médica seguiu sua intuição e, quando chegou no Brasil pesquisou sobre o tema. Certa de que a capsula avançaria os tratamentos digestivos e ajudaria muitas pessoas que sofrem com a doença no País, ela procurou o chefe e o convenceu a trazer a tecnologia para território nacional. “A aplicação começou no Brasil com todos os outros centros que tiveram a iniciativa no mundo, como Nova Iorque e vários centros na Europa. Logo, começamos esse novo método que hoje é muito bem estabelecido”, reforça.
A tecnologia é aplicada pelas maiores instituições de saúde do âmbito privado. A eficácia da capsula chamou a atenção da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) que incorporou ao rol de procedimentos e agora torna público o direito assistencial aos beneficiários dos planos de saúde.
Na área cardiológica, Lenises de Paula é a responsável por trazer o primeiro Insight, um mapeamento não–fluoroscópico tridimensional do coração, que permite uma ablação arterial. Sem ele o procedimento durava de 3h a 4h. Com o Insight, reduziu para 1h/1h30, com total segurança e precisão. Após experiência profissional internacional, ela retornou para Salvador, cidade de origem e iniciou um projeto no Hospital São Rafael, local que aplicou a tecnologia. “Foram anos muito gratificantes, eu trabalhava pesado. O hospital passou a ser referência para o tratamento de arritmias complexas” lembra a cardiologista.
Felizmente, o orgulho pela profissão é maior que a decepção vivenciada por comportamentos machistas e preconceituosos. Negra, ela chegou a ouvir de uma paciente, ao entrar no consultório, que esperava encontrar uma médica mais velha, branca e loira. Mas isso não apagou o brilho e a determinação da médica, que educadamente respondeu “se o mais importante é achar a solução para o seu problema de saúde, a senhora é muito bem-vinda, caso contrário, tem muita gente a minha espera”.
Paula também presenciou uma situação que evidencia que as próprias mulheres não enxergam como normal um cargo de liderança de outras mulheres, exatamente pela falta de equiparidade de gêneros no mercado de trabalho. Em um atendimento com um residente em que ela era a preceptora e foi conferir a ficha do estudante, uma enfermeira falou “o seu chefe já começou a preencher”. Logo a enfermeira percebeu que ela era a médica formada e o homem o estudante, e se desculpou.
Esse foi o último evento da websérie “Elas na Medicina” realizado pela Medtronic, empresa que completa 50 anos no Brasil e hoje é referência em tecnologias para saúde. A empresa montou a programação para mostrar que as mulheres podem sim conquistar o seu espaço, desde que haja capacitação profissional e determinação para que os desafios não as enfraqueçam durante a trajetória. Clique aqui e leia a cobertura dos eventos anteriores.
No final do evento, todas as médicas ressaltaram a importância das mulheres terem determinação, força, fé e resiliência sempre.
“A história da nossa vida é baseada no passado e presente, mas o futuro é desenhado por nós. Às vezes precisamos ser como a água, nos esquivarmos das dificuldades, mas sempre em movimento” concluiu Audrey Tsunoda.